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CHAPTER SIX

um quase beijo

LIZ COOPER


Não preciso nem tocar a campainha quando chego, já que a porta se escancara imediatamente.

— Ah, você aqui — ele diz, com tédio, e se escora no batente da porta.

Está usando um conjunto de moletom Nike na cor preta, e um perfume que, de tão bom, me deixa aturdida por alguns segundos. Mas logo me recomponho e cruzo os braços.
— Ao que devo a desonra da sua visita?
— Minha pulseira.

— Que pulseira? — sua testa franze.
— A minha pulseira. Que eu deixei aqui ontem.
— Ah... A pulseira — ele sorri. — De prata.
— Isso. Minha pulseira. Quero ela.

— Como assim?
— A minha pulseira, Ashtray. Eu quero ela.

Ele me olha divertido, com um sorrisinho travesso.
— Acho que não vai rolar.

Preciso fechar os olhos por alguns segundos para manter a minha paz de espírito e não avançar no pescoço do ser humano que está na minha frente.
— Eu faltei ao dentista, só para vir aqui buscar a maldita pulseira!
— E eu disse que não vai rolar.

— A pulseira é minha. Devolve de uma vez!
— Eu não tô com a sua pulseira.
— Até parece... — dou risada. Ele só pode estar brincando com a minha cara. — Devolve logo!
— Não dá! Eu já despachei, faz tempo!

Estreito os olhos e cerro os punhos.
— Não. Você não ousaria...

Ele dá de ombros, indiferente.
— Eu ousei.

— Qual é a sua? — reclamo — Aquela pulseira foi presente da minha mãe, e foi cara!
— Ah, sei que foi cara! Prata de qualidade... Consegui uma graninha extra com ela.
— Você só pode estar brincando!
— Não... Tô falando muito sério.

— Uh, eu devia te...
— Devia o quê? — ele interrompe, desafiador.
— Quer saber? Eu vou embora antes que... — inspiro com calma — Tenho mais coisas importantes para fazer do que ficar aqui olhando pra você.

— Não fala assim. Nós dois sabemos que meu rostinho é muito bonito!
— O que tem de bonito tem de insuportável...
— Faz parte! Ninguém é perfeito, não é?

Ainda tenho esperanças de que ele esteja brincando.
— Você vendeu mesmo?
— Vendi.
— Foi presente! Nunca mais ela vai conseguir comprar outra daquela pra mim!
— Não mandei bobear.

O olho decepcionada e então saio, sem delongas.
Não posso acreditar que ele realmente vendeu.
Eu adorava aquela pulseira!
Era um pouco desconfortável e as vezes apertava meu pulso, mas era a melhor que eu tinha!

— Ei! — ele me chama — Sua pulseira está comigo.
Viro para ele.
— Será que você pode devolver logo, então?

Ele revira os olhos e faz sinal para que eu siga.
— Sorte sua que eu sou bonzinho.
— Uau, que bondoso... — ironizo.

Ele fecha a porta e eu sigo atrás dele até seu quarto.
Ele pega a pulseira e me entrega.
— Cadê o agradecimento?
— Espero que você vá tomar no meio do seu...
— Isso é jeito de falar comigo?
— Ficou ofendidinho? Eu nem terminei a frase.

𝒀𝒐𝒖 // ᴀsʜᴛʀᴀʏOnde histórias criam vida. Descubra agora