𝒀𝒐𝒖 // ᴀsʜᴛʀᴀʏ

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TWELVE

Um encontro que não aconteceu

ASHTRAY

20:27pm

— E pra onde você pretende levar ela? — Fezco pergunta, concentrado na direção.
— Não sei. Nunca levei mina nenhuma pra sair.
— Quer alguma dica?
— Não! — protesto.

— Eu sou mais experiente. Você deveria me ouvir.
— Nem pensar. Você é muito besta.
— Como assim?
— Muito romântico. Tipo, romântico ao nível extremo. E isso me dá nojo.

O ruivo ri, coçando a barba.
— Você vai levar uma garota pra sair. Se quer alguma coisa com ela, tem que ser minimamente romântico.
— Tudo bem. Vou ser o mínimo do mínimo. Não quero fazer papel de bobão.
— Mas que exagero... E você está pensando em levar ela pra onde?
— Sei lá. Talvez um cinema?

Ele bufa, esfregando a mão no rosto.
— Ah, meu Deus, maninho... Agora você deixou na cara que é inexperiente.
— Porra. E pra onde eu deveria ir?
— Tem lugares melhores! Porra! Um cinema? Você ainda não tem tanta intimidade com ela. Aí você vai levar ela para ficar um do lado do outro, parados em silêncio por duas horas?
— E qual o problema?
— Pô, maninho! Todo problema! Vai ficar um climão! Leva ela pra jantar. É mais bonito.

— Jantar? Mas aí é romântico demais, não acha?
— Porra, parceiro. Se eu sou a Liz, e você chega pra mim em uma sexta à noite... Me convida pra sair e fala que vamos ao cinema... Eu grudo minha mão na tua cara!

— Não exagera! O cinema parece ótimo!
— Mulher gosta de criatividade, maninho! Coloca isso na tua cabeça.
— E pra onde eu levo ela? Jantar o quê?
— Tenho um truque ótimo.
— Fala aí.
— Você chega pra ela e fala que vocês vão jantar algo que sabe que ela gosta muito.
— Tá... Mas acho que ela não me falou qual a comida favorita dela.
— Mas você não precisa saber. Ela nem vai lembrar se te disse ou não... Ela vai sugerir algo que ela goste. E prontinho. O que ela falar, vocês confirma.

— Caralho, você é um idiota — digo.
— Um idiota romântico. — ele sorri, convencido. — Eaí. A Liz te respondeu?

Verifico novamente as mensagens.
— Não. Ela não me respondeu o dia todo... Isso está estranho.
— Vai ver que ela só está ocupada. Tomara que esteja em casa quando chegarmos lá. Se não, sua expectativa de encontro vai pro ralo.
— Não é um encontro!

Ele revira os olhos, tamborilando os dedos no volante.
— Cê tá gamado nela que eu sei!
— Tô nada.
— Conta outra! Você é o maior indelicado que eu conheço e tá querendo levar ela pra sair! Tá na cara.
— Eu não posso sair, agora?
— Claro que pode.

— Do jeito que você está falando, parece que até que nós vamos casar! — reclamo — Agora eu sair com uma mulher é motivo pra dar festa?
— Lógico. Você passou tanto tempo encalhado... Meu maninho tá crescendo! — ele diz, com um tom de orgulho em sua voz. Os olhos brilhando levemente, as luzes da sinaleira refletindo em seus olhos úmidos.

— Ah, não... Não acredito que você vai chorar. — falo, inacreditado.
— Não vou chorar. — ele funga, e limpa uma lágrima solitária que escorreu pela bochecha. — É só que... Caralho. Eu criei você. E agora você vai sair com a namoradinha pela primeira vez!
— O quê? Não. Não temos nada! — franzo o cenho. Ele limpa mais uma lágrima. — Puta merda, Fezco. Para de chorar. Que coisa ridícula.