𝐃𝐄𝐒𝟒𝐅𝟏𝟎 | 𝐏𝐈𝐄𝐓𝐑𝐎 𝐌𝐀𝐆𝐆𝐈.

𝟎𝟖 : lista de coisas controláveis e incontroláveis.

OITO SEMANAS ATÉ AS FÉRIAS, SEGUNDA-FEIRA.

── Vocês já pescaram com larvas? ── Giulio perguntou distraído enquanto mexia no próprio armário. Eu e Danielle trocamos olhares confusos, mas confirmamos. ── Então sabem que elas botam ovos em todos os lugares, né?

── Sim, e daí? ── Ele perguntou, dando corda pro Giulio.

── E daí que elas são perfeitas pra invadir e colonizar a Marina Grande. ── Ele se voltou pra nós, finalmente tendo achado o livro grande de italiano.

Com dois meses para o fim das aulas, a mudança para Marina Grande estava fazendo com que só pensássemos em como não ir para Marina Grande. 

Existem coisas na vida que não são controláveis. Como o clima, doenças, e professores pegarem no meu pé...

Mas existem coisas que são controláveis. Como mudanças de escola. A gente só precisa achar um plano que realmente funcione.

── Colonizar? ── Segurei a risada, voltando a prestar atenção nos absurdos que saiam da boca do meu melhor amigo.

── Isso. ── Continuou, não percebendo o sorriso debochado que eu e Dani tínhamos. ── Milhões de larvas que vão botar milhões de ovos, e se tornar milhões de moscas. ── Ele deslizou a mão pelo ar, como se fosse uma placa de um outdoor famoso.

Pac não é burro, pode até parecer que sim, mas ele não é. Mas as vezes, me questionava se ele não era um completo idiota.

── E onde você vai arranjas essas milhões de larvas? ── Continuei perguntando pra ver até onde ele chegava. A mente fértil do Giulio sempre conseguia me surpreender.

── Produção própria. ── Ele falou com orgulho, batendo no próprio peito. Era oficial, ele tinha enlouquecido. ── Comecei uma criação no campo atrás da horta do meu vô.

── Larvas? ── Paolo parou no corredor e invadiu nossa conversa. ── Você pesca usando larvas? ── Ele tinha uma expressão de desgosto no rosto que parecia que Giulio tinha matado toda sua família.

Paolo se intrometer nas conversas no corredor era mais um item pra lista das coisas incontroláveis.

Nós três nos olhamos desconfiados, e eu e Danielle fizemos um acordo silencioso de ficarmos quietos e apenas observar a situação.

── São a melhor isca. ── Giulio falou, tentando se defender.

── Certo, então vamos fazer uma competição depois da aula. Você com as larvas e eu com minhocas coreanas. ── Paolo perguntou, e Giulio deu uma desculpa esfarrapada sobre estudar, o que fez ele sair, rindo.

Giulio estudar? Acho que as larvas comeram o cérebro dele.

── Agora, a primeira mosca que aparecer na Marina Grande, o Paolo vai desconfiar de você. ── Dani falou, rindo, e Giulio revirou os olhos.

── O Paolo não me deduraria, ele é um dos nossos. ── Pac respondeu, e eu balancei a cabeça. Ainda me lembrava de como ele tentou me dar uma lição de moral enquanto meus pais brigavam na sala do diretor. 

── Não confio nos mais velhos. ── Subi as mangas da minha camisa vermelha, e me desencostei do armário. 

── Então, voltamos ao abaixo-assinado. ── Danielle começou a andar em direção a sala e nos o seguimos.

Semana passada, Dani e eu tivemos essa ideia, criando uma petição para os alunos assinarem, mostrando que não estávamos felizes com essa mudança de escola. Eu tinha esquecido completamente.