Capítulo 8 - Outro céu aqui

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Depois de horas compondo, sai do meu estúdio nada satisfeito, com a cabeça doendo. Fui para a cozinha e vi Jin sentado na mesa de jantar, cansado, encarando o nada.

 
— Está tudo bem hyung? — sentei em uma cadeira ao seu lado, observando-o. Ele parecia abalado, e quando notou minha presença, endireitou a coluna, amenizou sua expressão e me deu um sorriso que dizia "não se preocupe".


Ele olhou para as próprias mãos, estava inquieto. Acho que todos nós no dormitório sentíamos algum tipo de angustia, frustração e irritação nos últimos dias, parecia que nada gerava algum resultado, nenhum passo à diante. Suspirei. Preciso fazer algo.

 
— Vem, vamos no terraço, o céu não está nublado hoje. — Peguei em sua mão e o puxei levemente, apenas para que ele sentisse o impulso de vir. Ele não me olhou dessa vez, mas segurou minha mão de volta. Senti meu coração acelerar, e uma frustração vinda da boca do estômago. Por que isso acontece? Que droga.

 
Guiei-o até as escadas, e acabei pouco me fodendo em segurar sua mão, estava quentinha. Na realidade, me fazia sentir seguro, desde aquele dia, apesar do meu coração me manter em alerta perto dele, segurança é o que sua presença me transmite. Ele apertou minha mão, enquanto subíamos os degraus que nos levariam até o terraço do prédio. Abri a porta, e um vento gelado a atravessou, me fazendo arrepiar.
Ainda assim, puxei Jin novamente e ele veio atrás de mim. Fechei a porta, por um instante me senti desesperado, minha respiração falhou. Um susto. Meu coração acelerou e só então entendi. Ele havia soltado minha mão.

 
— Você disse que o céu não estava nublado. Cadê as estrelas, Namjoon?

 
— Me deixe procurar no céu... — Olhei para o alto, meu coração palpitou mais ainda, quando me dei conta dos meus pensamentos, minhas bochechas formigaram. "No céu da sua boca, Jin". Tá. Estou passando dos limites. Confundindo as coisas. Que droga Namjoon. Que porra é essa? Mantive a cabeça erguida, tentando disfarçar o rubor, até que ele me chamou.


— Nam, você não precisa se preocupar comigo. — Então o olhei, e ele parecia sério. Jin tem essa mania de não querer ser um incômodo, não reclamar de nada, pelo menos não para nós, e sempre agradece à tudo que lhe fazem, além de se obrigar a aceitar tudo o que a nossa empresa o impõe. Ah, é verdade, todos nós fazemos isso também, aceitamos, mas com o Jin é sempre diferente.


— Olha, acho que encontrei algumas estrelas. — Encostei na parede, e escorreguei meu corpo até o chão, sentando. — Vou te mostrar, vem aqui. — Ele parecia relutante agora, mas mesmo assim veio e se sentou do meu lado. Encarou o céu novamente, procurando as tais estrelas que mencionei.

— Namjoon, é muito feio mentir para seu hyung, sabia? Ou será que estou ficando cego? — Não era nada atoa o Jin ser o nosso membro visual, e mal pude manter minha razão o vendo.

— Uma, duas, três, quatro, cinco, seis ... — Eu o olhava tão indiscretamente, meus sentidos adormecidos, fazendo minhas ações se tornarem inconscientes. O que eu estou fazendo?

— Nam, não há estrelas no céu. — Ele me encarou, e senti meu corpo responder àquilo com um arrepio. Ou será que foi por causa do vento? 

— Mas estou vendo tantas daqui, Jin. — O que estou dizendo? Sua expressão serena foi para uma de confusão, acompanhada do movimento da cabeça, que tombou levemente para a direita. 

— Aqui. — Aproximei meu rosto do dele, olhando para seus olhos, indicando com os meus que ali era o berçário estelar que estive me referindo. — Mas, infelizmente, Jin, você não é capaz de enxergá-las como eu, por isso não se preocupe. Elas brilham tanto, então só de você saber que elas estão aí, mesmo não podendo vê-las, permita-as brilharem.

Me afastei, e sorri involuntariamente, fechando meus olhos. O que estou falando? Encostei a cabeça na parede, esperando uma reação dele. Minhas mãos começaram a tremer, a suar. 

— Nam ... Joon... — Abri meus olhos, mesmo me sentindo apavorado, tentando esconder minhas mãos no meu colo, e o encarei. Desde quando eu sabia lidar com todas essas impulsividades do meu corpo? Palavras, mãos trêmulas, estômago, coração acelerado. Então, tudo foi embora, e a preocupação tomou lugar.

Ouvi os soluços dele quando começou a chorar, que me doeu ouvir. Ele cobriu o rosto com as mãos, e eu o esperei. S-abia que estávamos todos sobrecarregados, cansados, frustrados, mas por que eu sempre sinto que tudo é mais intensificado em Seok Jin? Ele se acalmou, e de prontidão, assim que ele tirou as mãos do rosto, me pus a secar suas bochechas molhadas com a manga da blusa. 

— Obrigado... — Ele sorriu, e pousou sua mão direita na minha esquerda, que secava seu rosto. Ele a segurou e a levou até seu colo, e as manteve unidas ali. Minha respiração falhada me entregou, e quase não pude evitar soltar um palavrão. — Espero conseguir ver as suas estrelas algum dia, Moonie. Você é todo nublado. — Ao ouvir tais palavras, apertei a mão dele de volta.
Naquele instante, só pude pensar em palavras que não me permiti dizer. "Por favor, não desista ainda de tentar vê-las". 


escrito em 19/02/2017

𝙸𝚗𝚎𝚏𝚊́𝚟𝚎𝚕 ♦  [kim nam joon]Onde histórias criam vida. Descubra agora