Capítulo 10 - Trem Mar

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"É como se todo dia eu pegasse o mesmo trem, mas ele só se locomove se tiver vocês".

Um gosto salgado tomou conta da minha boca assim que despertei do sono, mas antes mesmo de abrir os olhos para acordar, sorri, me espreguiçando; um calor inundava meu peito, satisfação e gratidão. Abri os olhos e encarei o teto, inconsciente do meu sorriso bobo. O quarto de hotel era lindo, mas  sua beleza não era por sê-lo, era por eu saber onde estava, sabendo que estava ali.

Finalmente, depois de viver intensas horas de trabalho, ver os resultados de tudo aquilo, o bangtan precisava respirar, e nada melhor que a brisa da praia para nos lembrar que não estamos na rotina de sempre, e de que o mar está logo ali.

Ao levantar, sorridente e animado, me senti estranho comigo mesmo, desde quando eu acordava like a Hoseok? Ah foda se, estou tão bem, meu coração está acelerado, como se apenas coisas boas fossem acontecer, na verdade, apenas as boas vão acontecer, pelo menos durante essa viagem. Tomei um copo da água, coloquei um short mais confortável, e fui até a janela da sacada, abrindo-a e... Como a vista do mar pode curar tudo tão instantaneamente? Meu coração acelerou ansioso para que eu fosse logo à praia. Está bem cedo, e sinceramente, quero aproveitar um pouco disso sozinho.

Calço minhas sandálias, e saio para o corredor, em direção à praia. São apenas 6:30h da manhã, e não consigo me acalmar com o barulho das ondas. Inquieto, como um trovador que sempre esta beirando à insanidade por suportar a espera de ver seu amor, eu corro em direção à praia. Como uma criança que nunca se perguntou o sentido da vida, eu me aproximo do mar até a areia molhada, e quando a onda quase alcança meus pés, eu recuo rapidamente, rindo.


— Antes que eu me entregue à você, também preciso saber que sentiu minha falta. — O encarei sorridente, aquela imensidão que me preenchia só de olhar, estava louco para senti-lo. E uma outra onda, mais forte, ao quebrar-se na praia alcançou meus pés, me transmitindo uma onda prazerosa de choque pelo corpo, e eu soube que não era unilateral.

Fechei os olhos, sentindo o pesar da água nos meus pés, em um quase ninar, e minhas pernas queriam ceder logo. De subito, abri os olhos e os braços, sentindo o vento, e meu coração concordava e ansiava com toda aproximação ao mar. Comecei a correr na praia, pisando nas ondas, cortando-as, brincando com aquele infinito. Soltava algumas gargalhadas, alguns gritos de fúria repentina, que deixavam meu corpo em exaustão e exctase, me fazia querer correr mais, sentir mais; meus passos não deixavam rastros; o vento encobria meus risos e gritos, e o mar confidenciava tudo, cúmplice da minha loucura.

Incansávelmente, eu corri até o final da praia, que dava em diversos rochedos. O sol estava para nascer, e então sentei na beirada de uma pedra que me permitiu ficar com os pés dentro do mar, e esperei, vidrado no horizonte, a vinda do sol. Meu coração vibrante com a sensação de ser puramente eu, de ser livre e jovem, de ser capaz e invencível transbordavam pelos meus sorrisos, e riso frouxo.

— Wow, hyung ! Pensei que só eu estava querendo ver o por do sol — Estremeci e virei acabeça na direção da voz, assustado. Tirado do meu estado de paz, daquele alinhamento comigo, senti a insegurança e alguns medos voltarem, a vergonha da exposição que me coloquei, impensável. — Posso me sentar ao seu lado, Nam?

— Jimin... — Respirei fundo, sem encarar seus olhos, e fitei o horizonte, tenso, totalmente vulnerável. Ele tinha visto tudo? O que deve estar pensando de seu hyung? — Ah, claro.

Meu coração atrapalhado com tanto sentir, me confundia os atos, e não queria expressar um certo desapontamento por não estar sozinho. Jimin é uma ótima companhia, e sinceramente, soltei um suspiro aliviado. Se você viu tudo, Jimin, então tudo bem ter sido você.

— Hyung, você também acredita que o mar ameniza a agonia que nossos corações trazem para a praia? — Ele encarava o horizonte, os olhos pesavam em lágrimas que ele segurava firmemente, a respiração pesada, seu peito subia e descia de maneira agitada, suas mãos fechadas com força em punho.

Suspirei novamente, e senti meu coração se aquecendo novamente, por saber que o menor confiava em mim, mas apertou-se por saber também que ele tinha a própria dor para carregar. Olhei-o e meus olhos também se encheram de lágrimas, por vê-lo daquela forma, então procurei sua mão direita, e a segurei fiirme com a minha esquerda.

—Jin-hyung me ensinou uma vez que segurar a mão de alguém pode acalmar a agonia do coração. Eu não imagino como esteja aí dentro agora, mas aqui dentro está um pouco melhor agora que sinto nossas mãos dadas. — Lancei-lhe um sorriso de labios fechados, e ele sorriu sem força.

Ficamos um tempo em silêncio, vendo o horizonte aquarelando-se em rosa.

— Hyung, podemos ficar assim por muito tempo?

Sorri com o comentário, e apertei sua mão como resposta. Que pergunta mais ambígua, pequeno.

— Acho que o mar está precisando de você, Jimin. Ele deve estar sentindo muito a sua falta. —Senti o olhar dele pesar em mim, um pouco surpreso, e o sustentei com o meu. — Você sabe, as pessoas não conseguem amenizar as dores umas das outras desde que são pessoas, mas o mar não é egoísta.

— Eu não quero ir sozinho, hyung.

Jimin realmente suportava tudo até o seu limite emocional, e simplesmente procurava de alguma maneira voltar para si. E ele sempre voltava. Nunca pelo mesmo caminho, eu não posso sequer imaginar por onde essa criança já andou, mas eu amo todos os passos que ele deu, para que pudesse chegar até aqui.

— 1, 2 ... — Segurei firme sua mão, lhe lançando um olhar convicto de que aqueles próximos passos ele não daria sozinho. — 3! — Assim que gritei o último número, me lancei na beira da praia novamente, puxando Jimin atrás de mim, e corri. Corri feito um louco, puxando-o. E gritei.

— Hyung-ah! —Jimin gritou atrás de mim, a voz embargada, as lágrimas escorrendo. Ele corria tão louco quanto eu. E então ele gritou. E soltou minha mão.

E eu comecei a ver as suas costas, ele correu tanto, e gritou mais vezes. Eu gargalhei enquanto corria tentando alcançá-lo. Sentia um enorme peso ficando a cada passo que deixavamos para trás.

Então ele mergulhou no mar, e eu parei, exctasiado, arfante, louco para correr mais, mas paciente para saber que já era o suficiente. Eu gritei novamente, em comemoração, e assim que ele se levantou da água, me encarou. E sorriu.

Eu contagiado, sorri de volta. O vento batia em nossos cabelos, enquanto sustentávamos nossos olhares, rindo feito bobos, até que eu corri em sua direção, diminuindo a distância entre nós.


escrito em 20/04/2017

𝙸𝚗𝚎𝚏𝚊́𝚟𝚎𝚕 ♦  [kim nam joon]Onde histórias criam vida. Descubra agora