Esmagado mas não derrotado

01

Se você for derrubado, dê a si mesmo tempo para se curar, e depois se levante novamente. Eles podem ser capazes de esmagá-lo temporariamente, mas nunca poderão derrotá-lo totalmente. Continue assim! Você é capaz, e espero que esta série cure e nunca seja demais.

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Capítulo Um

Xiao Zhan

— Eu preciso de sua ajuda.
Odeio o sorriso presunçoso que toma conta do rosto de Yibo enquanto ele toma um gole do copo ainda cheio de seu bourbon com o refrigerante de sempre. Ele parece bem, como sempre. Seu terno caro cabe nele como uma luva, agarrando-se com toda força a cada músculo definido.
Seu cabelo castanho habilmente desgrenhado e penteado com perfeição. Seus sapatos provavelmente custam mais do que tenho atualmente no banco.
Vendido.
— Nunca pensei que ouviria essas palavras de você, tenho que admitir. — Eu me arrepio, todo o meu corpo enrijece de raiva. — Isso é sobre o garoto?
Respiro fundo várias vezes – roubando o conselho que dou aos meus pacientes quando eles precisam encontrar o autocontrole – e sento-me ao lado dele no bar chique do centro da cidade, acomodando-me no assento de couro do banco.
— Yuan. O nome dele é Yuan.
E ele é uma criança. Um garoto assustado de quinze anos que eu sabia que precisava de ajuda e que não fez o suficiente antes de ser forçado a se proteger de seu pai abusivo.
— Eu sei o nome dele. — Os olhos castanhos de Yibo fixam-se nos meus. — E eu já te contei tudo que sei. Eles não estão acusando ele, Xiao Zhan.
Yuan estava tentando proteger a si mesmo e a seu irmão quando esfaqueou seu pai após ser atacado repetidamente. Não tenho dúvidas de que foi legítima defesa, mas considerando que sua mãe não fala com a polícia, seu irmão mais novo está traumatizado demais para falar e seu pai está morto, é apenas a palavra de Yuan contra o sistema.
Um sistema que falhou com ele repetidamente. Um sistema que conheço muito bem. Falhou comigo também.
— Mas eles estão investigando. Seu pai era policial. Você conhece a mídia e as pessoas não vão deixar isso passar. Eles não acreditam que tenha sido legítima defesa. Yuan não tem ninguém.
— Ele tem você, aparentemente.
Olho para Yibo, não vendo nenhum vestígio do garoto que conheci quando éramos crianças. O garoto magricelo e zangado que na verdade era muito doce e protetor. Pelo menos eu pensei que ele fosse.
— Ele está em um alojamento temporário. Você sabe como é isso.
— Eu sei como era há vinte anos. Não sei como é agora.
Eu fico rígido e uma camada de suor frio cobre meu corpo enquanto tento afastar as imagens da minha mente desses lugares. Yibo e eu temos muito em comum. Idiotas abusivos que estavam no comando do nosso bem-estar.
Para Yibo, era seu tio. Para mim, meu pai. Para nossos amigos Roman e Bem, os irmãos Price, era o pai deles.
Roman, Yibo e eu nos conhecemos jovens e nos unimos muito por causa desse simples fato – tínhamos que cuidar de nós mesmos porque as pessoas que mais deveriam nos amar não o fizeram.
Então, quando me tornei terapeuta e Roman se tornou policial, Yibo foi na direção oposta e se tornou advogado de defesa criminal.
— Você sabe que não mudou. Ele não está seguro lá, Yibo.
Seus tempestuosos olhos  encontram os meus.
— Eu não sei disso. O que exatamente você quer que eu faça? Sou advogado de defesa. Não trabalho com direito de família. E, no que lhe diz respeito, não faço nada que valha a pena.
Vejo mágoa em seus olhos, mas ele rapidamente disfarça, puxando os ombros para trás e se preparando para uma luta. Eu não vim aqui para lutar. Eu o localizei indo ao escritório dele e descobrindo onde ele estava com sua secretária, porque estou desesperado.
Estou perdendo o sono por causa desse garoto estar preso em uma casa coletiva. — Então, porque esse garoto não tem milhões no banco, você não vai ajudá-lo?
Ok, talvez eu esteja brigando um pouco, mas maldito seja.
— Ele não foi acusado. Sim, tenho certeza de que a comunidade vai querer respostas, mas isso vai desaparecer. E o garoto...
— Yuan, — eu corrijo.
— Yuan. — Ele suspira, seus ombros caindo ligeiramente. — Ele vai ficar bem.
— Ele não ficará. Ele está preso. Sua mãe disse à polícia que não quer ter nada a ver com ele. Ele está preso em uma casa coletiva. Ele tem quinze anos. Você conhece o sistema – quanto mais velho o garoto, menos eles se importam.
Ele parece pensar sobre isso, girando a bebida no copo. — Tudo bem. — Seus olhos encontram os meus, e tento não me perder neles – nas lembranças e na dor.
— Vou dar uma olhada. Verei se consigo descobrir onde ele está e se consigo colocá-lo em um bom lar.
— Mantenha-me informado. Eu quero vê-lo.
— Xiao Zhan... — ele começa, mas eu o interrompo, me levantando e mantendo minha postura firme e segura.
— Eu quero vê-lo. Preciso saber se ele está bem, Yibo.
Ele também se levanta, deixando a bebida no balcão, e estremeço quando sua mão pousa no meu ombro. Ele bufa e depois deixa cair ao seu lado. — Você não pode salvar todos eles. Você sabe disso.
Aceno com a cabeça, minha teimosia transparecendo, mas não me importo. — Ele precisa da minha ajuda. Eu o ajudarei, com ou sem você. Mas terei mais chances de fazer isso rapidamente com a sua ajuda.
É difícil admitir isso em voz alta, mas tudo o que importa agora é Yuan.
— Farei o que puder.
— Mantenha-me informado, — eu digo antes de me virar e sair do bar, meu estômago embrulhando com os pensamentos de Yuan lá fora, naquele grande mundo mau, sozinho.
Eu tenho que ajudá-lo.