Esmagado mas não derrotado

07

Capítulo Sete

Xiao Zhan

— Você está bem? — Pergunto a Yuan porque estou sempre tentando ter certeza de que ele está bem. Ele está sempre quieto, mas esta manhã parece que ele quer conversar sobre alguma coisa. Ele olhou em minha direção várias vezes desde que entramos no carro, mas nunca abriu a boca para falar.
— Por que você foi embora ontem à noite?
Meus dedos apertam o volante e todo o meu corpo fica tenso porque eu não sabia que ele sabia que eu tinha ido embora. Sua pergunta direta me pega desprevenido, mas ao mesmo tempo me deixa orgulhoso.
Yuan está expressando uma pergunta real.
Não vou mentir para ele, mas também não sei como responder honestamente. — Como você sabia que eu tinha ido embora?
Não sei ao certo por que escolhi essa pergunta, a não ser porque gosto de ter uma visão geral primeiro.
— Eu vi você sair.
Fecho os olhos brevemente e depois os abro para me concentrar na viagem. Isso deve ter sido assustador para ele. Neste momento, Yibo e eu somos a sua única estabilidade. Foi egoísta e estúpido sair no meio da noite daquele jeito. — Eu sinto muito. Eu deveria ter ficado.
— Mas por que você foi embora?
Ele está falando. Respiro fundo, sentindo muita alegria pelo fato de estarmos realmente conversando. Eu não quero estragar tudo. — Yibo e eu... — Merda. Como posso explicar isso para um garoto de quinze anos. Um garoto inteligente de quinze anos que já passou por muita coisa na juventude e provavelmente entenderia. Mas ainda assim, sou seu guardião e não posso ultrapassar muitos limites.
— Tivemos um desentendimento.
Entro na escola para entrar na fila de entrega, odiando não termos muito tempo para conversar. — Vocês brigaram, — diz ele, com a mandíbula tensa.
Não consigo imaginar as brigas que ele deve ter visto entre seus pais. Bem, eu provavelmente consigo. Eu cresci com isso também. Eu ficava sentado no meu quarto com a porta fechada, encostado nela com as mãos nos ouvidos e rezando para que não durasse muito. Pra que minha mãe não se machucasse muito. Que ele não viesse atrás de mim em seguida.
— Nós tivemos um desentendimento e eu precisava de algum espaço para pensar, mas está tudo bem, Yuan. Eu prometo a você.
Por favor, acredite em mim.
Ele apenas balança a cabeça, mas fica em silêncio, e eu odeio isso.
— Isso nunca sairá do controle. Não haverá gritos ou qualquer outra coisa naquela casa. Está bem? Você está seguro.
Estaciono o carro e a mão dele vai até a maçaneta da porta, mas o impeço de sair com a minha voz.
— Por favor, diga-me que você ouviu o que estou dizendo.
Seus olhos encontram os meus e vejo sua incerteza e medo. Mas ele me dá um aceno rápido, que me dá um pouco de esperança antes de forçar um sorriso rápido e sair do carro. Aceno para ele quando ele entra na escola, mas me sinto ainda mais fracassado do que antes.
Como eu pude ter feito isso com ele?
Ele precisa saber que sempre estarei aqui para ajudá-lo. Então eu saio no meio da noite? Jesus Cristo.
Estou realmente falhando com esse garoto.
Estou de péssimo humor, então tomo um café no drive-thru e paro na academia de Bem antes de ir para o meu escritório.
Eles são minha família – apesar de não compartilharem meu sangue – e, às vezes você só precisa ver sua família.
Quando entro, sou saudado por Felix, um dos funcionários de Bem e um benfeitor absoluto. Foi assim que conheci Yuan. Ele é voluntário em um abrigo no centro da cidade – o mesmo que eu – e nos apresentou.
— Ei, Xiao Zhan. Como você está? — Eu sorrio porque Felix é todo sol.
— Estou bem. Como estão Hazel e Henry? — Ele está radiante ainda mais agora, todo inchado e orgulhoso.
— Eles estão ótimos! Ganhamos outro cachorro neste fim de semana. Hazel está apaixonada.
Eu sorrio porque a casa deles deve estar completamente cheia de animais que eles resgataram até agora, mas ainda assim eu digo que eles são animais de sorte por estarem sob seus cuidados amorosos. — Isso é bom.
Ele pisca para mim antes de carregar a pilha de toalhas nos braços em direção ao vestiário. Vejo Colby atrás da recepção hoje com um sorriso brilhante, só para mim.
— Ei. — Um rubor percorre suas bochechas e ele parece saber algo que não deveria. Ele não é capaz de me olhar nos olhos. Então, eu me dou conta de que ele sabe sobre Yibo e eu.
— Roman tem uma boca grande, — eu digo, mas estou sorrindo por causa daquele idiota.
— Na verdade, dessa vez foi a outra metade dele, — diz Colby timidamente, e eu balanço a cabeça, tentando parecer irritado, mas só rio porque realmente somos uma família. Nada é segredo por muito tempo entre nós.
— Ótimo. Então todos vocês sabem.
— Que você e Yibo se entenderam? — Bem diz com um grande sorriso, vindo da sala dos fundos, com todos os seus dentes brancos aparecendo em um sorriso ainda maior quando fica cara a cara comigo. — Sim, nós sabemos. — Ele me dá um tapa nas costas. — Já era hora.
Reviro os olhos e tomo um gole do meu café, agora morno. — Isso não vai acontecer de novo.
Colby e ele soltam uma gargalhada detestável com isso, mas pelo menos Colby pede desculpas.
— Desculpe. É que... isso é o que todos nós dizemos, certo?
Tomo outro gole, minha preocupação aumentando porque como vou evitar isso? Yibo é charmoso e sexy. Agora que o beijei novamente, sei que vou querer fazer isso cada vez mais. Mas os limites ficarão confusos e nossa responsabilidade é para com Yuan.
Eu não posso decepcioná-lo.
Não importa quão estúpido e gostoso Yibo seja ou quão quente e úmida sua boca esteja. A pressão tão intensa e perfeita.
— Uau. — Olho para Bem, tentando me concentrar.
— O que?
— Você realmente está mal, não é?
Eu faço uma careta para ele, tentando fingir. — Não sei. Quanto Brooks lhe contou?
Colby nos afasta quando um novo cliente chega, precisando de ajuda, e entramos na sala de reuniões, nenhum de nós sentando.
— Não muito. Só que, aparentemente, você e Yibo costumavam se envolver e se sujar naquela época, e voltaram a fazê-lo.
Reviro os olhos para a versão diluída. — Não estamos.
Ele levanta uma sobrancelha escura para mim. — Então vocês não ficaram juntos?
Eu bufo e ele ri. — Foi estúpido e não pode acontecer novamente. Eu surtei, Bem. — Passo a mão pelo cabelo, bagunçando-o e me amaldiçoando porque preciso trabalhar e estar apresentável. — Eu o culpei por tanto tempo. Achei que ele era o inimigo.
A brincadeira deixa Bem por um momento, e sua expressão fica séria. — Acho que no fundo você sempre soube que ele era bom.
Eu balanço minha cabeça. — Ele era bom, mas...
— Mas o que? Ele trabalha para a defesa? — Ele cruza os braços grandes e me olha nos olhos. — Você ajudou tantas pessoas, Xiao Zhan. Muitas mesmo. Mas você sabe tão bem quanto eu que a maioria delas fez coisas ruins. Coisas que o mundo consideraria ruins, mas você ainda as ajuda. Você sabe que o sistema está fodido. Então, por que você não pode dar uma folga para Yibo?
Engulo em seco, odiando que Bem e Roman me conheçam tão bem. E eu realmente não sei a resposta para isso. Eu ajudo qualquer um. Dou a qualquer um o benefício da dúvida, mas sou duro com Yibo.
— Eu não sei.
Ele me oferece um pequeno sorriso e abaixa os braços, dando-me um tapinha no ombro com uma das mãos. — Ele faz muita coisa boa, sabe?
Meus olhos encontram os dele.
— Como você sabe disso?
Ele dá de ombros. — Rome tem uma boca grande. Ele sabe das coisas. Como o fato de Yibo aceitar mais casos pro bono do que qualquer outro advogado que ele conhece. Que ele representa os oprimidos com mais frequência do que os ricos, mas é quando eles são acusados de algo ruim.
— Os inocentes, — digo baixinho, porque é claro que ele sabe.
Ele concorda. — Todo mundo merece uma chance. Muitas pessoas acabam presas por coisas que não fizeram. Ou recebem uma sentença muito dura para coisas que estavam fora de seu controle.
Eu me sinto um idiota porque sei disso. Eu já vi isso uma e outra vez. Inferno, Yuan poderia ter tido um destino muito pior do que acabar em uma casa coletiva.
— Eu devo muito a ele.
Ele apenas sorri com isso e balança a cabeça. — Não acho que ele queira alguma coisa de você, a não ser talvez ouvir o lado dele da história.
— Eu deveria ter ouvido todos esses anos atrás. Eu era um idiota tão teimoso. Por que você não me contou?
Ele ri. — Oh, eu contei.
Eu sorrio, mas ainda me sinto péssimo.
Eu devia a ele muito mais. Ele merecia muito mais, e nunca me chamou a atenção para isso.
Ele simplesmente pegou meu ódio e o guardou bem no fundo.
Eu não o merecia.