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RICHARD

São Paulo
06 jun. 2023

- Sim mãe. - Ouço a voz suave de Anna vindo da cozinha. - Uhum, já tomei.

Desperto lentamente, ainda deitado no sofá da sala. A luz do sol entra pela janela. Me espreguiço, tentando desfazer a tensão dos músculos, enquanto os sons da casa me alcançam.

Levanto-me devagar, seguindo o som de sua voz, quando chego à porta da cozinha, a vejo de costas, segurando o telefone. Ela está vestida com um robe leve e seu cabelo está solto, caindo sobre os ombros. Por um momento, fico ali, observando-a, sem querer interromper sua conversa.

- Sim, mãe, está tudo bem. Vou te ligar mais tarde, ok? - Ela desliga, ao se virar nossos olhares se encontram. Ela parece surpresa ao me ver, mas logo aparece um sorriso sem mostrar os dentes.

- Bom dia. - Sou o primeiro a falar.

- Bom dia. - Anna coloca o celular na mesa e passa a mexer nos alimentos depositados ali. - Você dormiu bem?

- Sim, dormi. - Minto. Passei a madrugada toda em alerta, caso ela precisasse de algo, mas pelo visto, mesmo impossibilitada de um pé conseguiu chegar na cozinha. - E você?

- Também. - Ela diz, mas desvia o olhar rapidamente e continua mexendo no café da manhã sobre a mesa. - Minha mãe está preocupada com meu pé. - Anna tomba a cabeça para o lado com um leve revirar de olhos. - Ela sempre se preocupa demais.

Dona Angela sempre tão atenciosa e preocupada com a filha, não imaginaria ela diferente sabendo do pé torcido de Anna.

- Ela só quer o melhor para você. - Dou um passo em sua direção. - Mas você está bem, não está?

- Sim, estou. Só um pouco dolorido o pé, mas nada sério. - Ela dá de ombros e me lança um olhar logo em seguida.

Ficamos em silêncio por um momento. Anna faz tudo sem me olhar e eu a conheço bem para saber que algo te incomoda.

- Fala logo.

Ela suspira, como se estivesse lutando contra algo dentro de si.

- É só... complicado.

- Complicado o que exatamente?

Anna hesita em falar, dá leves pulinhos para trás se encostando no balcão, ficando apoiada em um pé só.

- Isso.

- Seja mais específica. - Peço, me aproximando mais.

- Richard. - Escuto um suspiro cortado sair dos seus lábios. - Ontem eu fiquei bastante atordoada por conta do meu pé, mas você aqui novamente, depois do que rolou na sala de fisioterapia, é... hum... desconfortante demais.

- Eu só estou cuidando de você.

- E eu não quero ser mal agradecida. - Ela morde o canto da boca e fixa os olhos no chão. - O que eu quero dizer, é que, só é estranho demais e eu não sei lidar com situações estranhas.

- Não costumava ser estranho ficarmos na presença um do outro. - Toco a lateral do seu cabelo macio, o colocando atrás do ombro. - Mas as coisas mudaram, não é?

- Sim, mudaram - Ela murmura. - Por isso, o que aconteceu na sala de fisioterapia não pode se repetir. Foi um erro.

Anna finalmente me olha, por um longo momento, como se estivesse me avaliando. Não êxito em erguer meus dedos e deslizar por sua bochecha rosada até chegar aos seus lábios.

ANNA


Fico paralisada com o gesto dele. Respiro fundo, tentando controlar o turbilhão de emoções que ameaçam me derrubar.

Tá ficando cada vez mais difícil travar essa batalha contra Richard, contra qualquer sentimento que um dia existiu e contra novos desejos.

- Anna, -  Ele fala meu nome lentamente. Sua voz ricocheteia rouca nos meus ouvidos.

Richard me olha como um leão pronto para capturar sua presa, algo que me deixa nervosa e incapaz de raciocinar.

- Não gostou do que fiz? - Seus dedos ainda circulam meus lábios e sou incapaz de os afastar. - Eu te dei a oportunidade de parar.

- Não estou interessada nos seus joguinhos, Richard. - Tento me manter firme, mas minha voz falha. - Para de levar tudo para o sexual.

- Se eu te colocasse nessa bancada agora, você recusaria?

Ele ri fraco e meu coração está disparado. As palavras ficam presas na minha garganta.

Eu odeio o fato de ele me conhecer tão bem, de saber exatamente onde apertar para me desestabilizar, mas não posso ceder, não de novo.

- Eu prefiro manter as coisas profissionais. Dentro e fora do CT. - Tento manter a cabeça erguida, embora cada fibra do meu ser quisesse ceder à tentação.

Ele inclina a cabeça, como se estivesse estudando minha expressão, procurando alguma fissura na armadura que eu tento desesperadamente manter intacta.

- Uma vez que entramos nesse jogo não tem mais volta, Anna.

Mais uma vez não tenho resposta. Ele está certo e esse é o problema. Toda essa tensão, toda essa resistência, não muda o fato de que, no fundo, eu sei que estou à beira de um abismo.

E Richard está aqui, pronto para me puxar para o fundo.

E Richard está aqui, pronto para me puxar para o fundo

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Perdoem a demora 🥲😔

ᴀᴍᴏʀ ꜱᴇᴍ ᴍᴇᴅɪᴅᴀ, ʀɪᴄʜᴀʀᴅ ʀɪ́ᴏꜱOnde histórias criam vida. Descubra agora