Após quase dois anos separados por circunstâncias além de seu controle, Richard e Anna se reencontram: ele, um talentoso jogador de futebol; ela, uma dedicada fisioterapeuta que trabalha no mesmo time. O que começou como uma amizade no passado, agor...
O pub está cheio, o som da música alta misturando-se com o riso e as conversas ao redor. Estamos todos juntos, eu, Raphael, Murilo, Lázaro e, claro, Richard. Tento me distrair, me forçar a sorrir e acompanhar as piadas que os meninos fazem, mas a presença dele tão próxima torna isso quase impossível. Richard está do outro lado da mesa, conversando animadamente com os outros, mas eu sei que ele acompanha cada movimento meu, de cada olhar que evito lançar na direção dele.
Ele age como se nada estivesse acontecendo, como se tudo fosse uma grande brincadeira. E talvez para ele seja mesmo. Cada vez que ele faz um comentário casual, algo que parece inofensivo para os outros, sinto a tensão crescer dentro de mim. Tento manter a calma, rir junto com os meninos, mas é difícil.
Bebo minha soda de morango, quando uma loira, alta, de olhos brilhantes, se aproxima da mesa. Murilo solta uma alfinetada, mas ela nem se toca, pois está mirando Richard. E ele não a ignora. Pelo contrário, sorri daquele jeito provocador que eu conheço tão bem, e ela se derrete toda, jogando-se na cadeira ao lado dele.
Tento desviar o olhar, focar em qualquer outra coisa, mas é impossível. Vejo como ela se inclina para mais perto dele, mostrando seus enormes peitos. Como ela toca o braço dele casualmente, rindo de algo que ele diz. E o que mais me incomoda não é a presença dela, mas o jeito como Richard parece estar se divertindo com tudo isso. Ele percebe minha reação, claro que percebe.
Eles continuam conversando e Richard não perde a oportunidade de jogar uma ou outra olhada na minha direção. Estou quase chegando ao game over.
Olho para Raphael que está sentado ao meu lado. Ele está me encarando. E é uma droga ele já me conhecer bastante pra saber que tem algo estranho acontecendo. As alfinetadas entre mim e Richard, o jeito como eu tento ignorar a loira na mesa... Tudo isso não passa despercebido pelo meu amigo.
- Tá tudo bem, Anna? - Raphael pergunta intercalando o olhar entre mim e o colombiano.
- Tá sim. - Respondo rápido demais, forçando um sorriso que não chega aos meus olhos. Raphael arqueia uma sobrancelha.
A conversa na mesa continua. Estou irritada, não só com Richard, mas também comigo mesma por deixar que isso me afete tanto. Decido que preciso de um momento para mim, para respirar longe daquela mesa.
- Vou ao banheiro. - Murmuro para ninguém em especial, levantando-me rapidamente e indo em direção ao corredor que leva aos banheiros.
Assim que estou fora do campo de visão dos outros, respiro fundo, tentando me acalmar, mas antes que eu possa me recompor completamente, Richard aparece no corredor.
- Você sempre foge assim quando as coisas ficam difíceis? - Ele se encosta na parede, como se fosse a coisa mais normal do mundo me seguir até aqui.
- Eu não estou fugindo. - Tento manter a voz firme. - Só preciso de um pouco de espaço.
- Espaço? - Ele repete a palavra como se fosse algo engraçado e estala a língua no céu da boca. - Desde quando você precisa de espaço?
A provocação é clara e eu sinto meu rosto esquentar de raiva.
- Vai voltar para a loira que está te esperando na mesa.
Quero acabar com aquela conversa antes que ela vá longe demais. Richard, como sempre, se recusa a facilitar.
- Por que você está incomodada com isso? - Ele se aproxima e eu dou um passo para trás, sentindo a parede fria contra minhas costas.
- Pelo amor de Deus. - Esbravejo. - Você que me seguiu até aqui e eu que estou incomodada com quem você come ou deixa de comer?
Perco o controle. Meu coração palpitando contra meu peito. Quando o jogador abre a boca para me responder Raphael aparece atrás dele.
- Anna? - Ele chama meu nome, o rosto está fechado. - O que está acontecendo aqui?
Richard sorri, aquele sorriso provocador que só piora a situação.
- Nada demais, só estamos conversando cara.
Raphael olha para mim, esperando que eu diga algo, mas minha mente está em branco. Não posso contar para ele, como vou dizer que já nos conhecemos e escondi esse tempo todo? Como vou explicar o que está rolando aqui?
- Volta para a mesa, Richard. - Raphael diz, sem tirar os olhos de mim. Há um tom de desconfiança na voz dele e eu sinto meu estômago revirar. Richard dá de ombros, lançando-me um último olhar antes de se afastar.
Assim que ele se vai, Raphael se aproxima, ainda cheio de desconfiança nos olhos. - Anna, o que está acontecendo entre você e Richard? - Pergunta, agora com mais clareza. Continuo em silêncio, desviando o olhar. - Anna... - Raphael começa, mas antes que ele possa continuar, o corto.
- Não é nada, Raphael. Só... por favor, me leva para casa?
Ele parece querer insistir, mas acaba cedendo.
- Tá, eu te levo.
Me despeço dos meninos, que já estão um pouco alterados e reclamam de irmos embora cedo. Resisto em olhar uma última vez na direção de Richard e sua puta.
O retorno é silencioso. Raphael me lança olhares de canto de vez em quando, mas não força a conversa. Quando chegamos em frente ao meu prédio, me despeço murmurando um obrigado, mas não escuto sua voz. Sei que ele está chateado.
Assim que fecho a porta do meu quarto, o ar começa a faltar. A sensação de sufocamento toma conta de mim e é como se o peso de tudo estivesse caindo sobre meu peito, tornando impossível respirar. Eu tento me acalmar, mas as lágrimas vem antes que eu possa me controlar. É tudo demais.
Eu me encolho no chão do quarto, tentando desesperadamente respirar fundo, mas a ansiedade é como uma corrente, me puxando para baixo. Sinto meu coração disparar e o medo toma conta de mim, me fazendo sentir ainda mais perdida e sozinha. Tento lembrar das técnicas de respiração que conheço, das maneiras de controlar uma crise de ansiedade, mas nada parece funcionar.
Tudo o que posso fazer é esperar que passe, que essa sensação diminua. E enquanto estou no chão do meu quarto, em meio à escuridão e ao silêncio, a única coisa que consigo pensar é porque estou me permitindo sentir isso novamente.
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