Capítulo 3

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— Está olhando o que?— A voz de Simon me trouxe de volta à realidade. Ele me encarava com os olhos semicerrados.

— Nada. — Tentei disfarçar, mas sabia que era tarde demais.

— Tenho certeza de que você estava me olhando.—Ele inclinou a cabeça ligeiramente, o canto dos lábios curvando-se em um sorriso sarcástico.

— Tenho certeza de que estava admirando o belo quadro atrás de você. — Apontei para a parede, mantendo minha expressão impassível. Ele me olhou com desconfiança, mas antes que pudesse responder, continuei — Não se sinta o centro das atenções.

— Bela mentirosa.

— E você, um convencido. — Ele sorriu, discreto, e por um instante, suas covinhas apareceram, suavizando sua expressão habitual de frieza. Mas logo sua expressão séria voltou quando mamãe e Rick retornaram para a sala.

O que veio a seguir me deixou boquiaberta.
Mamãe, com um entusiasmo quase contagiante, anunciou o plano como se estivesse nos presenteando com o bilhete dourado de Willy Wonka.

— Vocês aceitam? Ambos irão se beneficiar.
Ela começou a explicar. — Simon, assim que melhorar suas notas, poderá ingressar na empresa, e Zaya, você terá um candidato para concorrer à indicação.
Ela parecia tão convicta de que essa era a solução perfeita, sorrindo como se acabasse de resolver o maior dos enigmas.

— Isso é loucura, mamãe. — Minhas palavras saíram mais afiadas do que eu pretendia, minha indignação era evidente.

— Ainda estamos em fevereiro, você quer que eu espere até o final do ano? — Simon rebateu, visivelmente impaciente.

— Bastam as cinco primeiras avaliações. Isso será suficiente para medir seu comprometimento. — Mamãe respondeu, como se já tivesse tudo calculado.

— Fechado. — Simon concordou sem hesitar, e meu queixo quase caiu.

— Não, Zaya! Nem pense em discordar. — Mamãe cortou qualquer tentativa de protesto. — Essa é a chance que você queria, e agora você a tem.

— Mas...

— Você vai ajudar seu irmão, e ponto final.

— Ele não é meu irmão. — Resmunguei, frustrada, e saí da sala o mais rápido que pude.

***

Aquela noite foi um inferno. Fiquei virando na cama, incapaz de encontrar qualquer descanso. Pensar em ser a monitora de Simon era um pesadelo. Não queria ter que lidar com ele todos os dias, olhar em seus olhos, ouvir sua voz... Era tudo uma ilusão. Eu sabia que Simon não se empenharia, e eu acabaria sem a indicação. Perderia meu tempo.

Quando a primeira luz do dia entrou pela janela, eu já estava pronta para acabar com isso. Peguei minhas coisas e saí de casa determinada a encontrar Simon e pôr fim a essa farsa.

Cheguei cedo ao colégio e o procurei em todos os cantos, mas ele não estava em lugar nenhum.
Sem surpresa, Simon provavelmente chegaria atrasado. Resignada, fui para a minha sala e tentei me concentrar na aula, mas a ansiedade não me deixava em paz.

Quando o sinal final tocou, eu fui uma das primeiras a levantar. Meus movimentos eram desajeitados, apressados. Queria acabar logo com aquilo. Corri até a sala de Simon, torcendo para que ele ainda estivesse lá. Por sorte, o professor ainda segurava a turma.

Sentei-me em um banco no final do corredor e esperei.
Não demorou muito para uma voz feminina e aguda interromper meus pensamentos.

— O que está fazendo aqui? — Olhei para cima e vi Amber, me encarando com olhos estreitos.

— Não está vendo? Estou sentada.

— Isso é óbvio, querida. Mas quero saber por que está sentada perto da sala do Simon, meu namorado.

— Não entendi.— Fiz uma careta. — Não posso me sentar aqui por ser perto da sala do Simon?

— Não se faça de idiota, garota. — Ela avançou um passo. — Sei que foi você quem nos entregou para a coordenação. Você está apaixonada e quer destruir o nosso relacionamento. Mas eu não vou deixar, entendeu? E da próxima vez que tentar interferir, eu te mato.

Rir alto, não pude evitar. Talvez fosse a ideia ridícula de eu estar apaixonada por Simon, ou a seriedade com que ela me ameaçava. Simplesmente hilário.

— Falei alguma coisa engraçada? — Amber parecia ainda mais irritada.

— Olha, Amber. — Me recompus, tentando manter a calma. — Minha intenção não foi prejudicá-la, muito menos interferir no seu relacionamento com Simon. Mas não me ameace. Você não me intimida. E eu me sento onde quiser, não preciso te dar explicações, e falo com Simon quando bem entender.

— Ouvi meu nome?— Simon apareceu no corredor, e percebi que os alunos já tinham sido liberados.

— Oi, meu amor. — Amber rapidamente se aproximou, dando um beijo em Simon. — Estava apenas esclarecendo para Zaya as consequências de nos prejudicar novamente.

Nossos olhares se encontraram, e eu pude ver a irritação em seus olhos. Mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, Amber continuou:

— Essa garota passou dos limites. Está apaixonada por você e quer destruir nosso relacionamento. Mas eu não vou deixar.

— Amber, me perdoe, mas deixe-me esclarecer uma coisa. — A voz de Simon era firme, mas calma. — Eu e você não temos nada. Somos apenas bons amigos.

A expressão de Amber mudou para um choque total, e lágrimas começaram a se formar em seus olhos.
Por um breve momento, senti pena dela.

— Está me trocando por essa garota? — Ela apontou para mim com desprezo. — Estamos ficando há tempos!

— Não tenho nenhum compromisso com você para que possa te trocar. — Simon respondeu, a calma inabalável. — Se te passei outra impressão, me desculpe. Mas nem por um segundo pense em ameaçar Zaya novamente, entendeu?

Fiquei surpresa que ele tenha me defendido, mas me mantive firme, sem deixar transparecer nada.

— Eu... eu... — Amber gaguejou, completamente perdida. Nos encarou por um segundo antes de sair correndo pelo corredor. Nós dois a observamos até que ela desaparecesse de vista.

Respirei fundo e me levantei.

— Você deveria deixar claro o tipo de relação que tem com essas garotas. — comentei. — Assim elas não sairiam por aí ameaçando outras que ousam se sentar perto da sua sala.

— Então, tudo isso foi porque você estava sentada aí?
Perguntou e eu assenti. . — Ela poderia ter ciúmes de qualquer garota desse colégio, mas logo de você?

— Por que não de mim? — Perguntei, sentindo-me subitamente ofendida. — Sou bonita, inteligente, educada e muito charmosa. Tenho todas as qualidades para que ela sinta ciúmes de mim.

— Depois eu sou o convencido.

— Estou apenas falando a verdade.

— E o que essa garota bonita, educada e muito charmosa estava fazendo sentada aí? — Ele repetiu minhas palavras, um brilho de diversão nos olhos. — Perdeu o ônibus de novo?

Revirei os olhos, indignada.

— Vim te avisar que não serei sua monitora.

— Esqueci de te dizer, já informei ao Sr. Fisher e ele já nos cadastrou no site. Sinto muito.
Ele deu de ombros. — Passo para te pegar às 15h. Estudaremos na biblioteca.

E com isso, ele se virou e foi embora, me deixando sem palavras.

O meu meio- irmãoOnde histórias criam vida. Descubra agora