Capítulo 6

9 5 1
                                    

Acordei sentindo o mundo ao meu redor girar levemente, o cheiro estéril de hospital preenchendo meus sentidos. Simon estava ali, em pé ao meu lado, o olhar dele fixo em mim, como se tentasse decifrar cada detalhe do meu rosto.

— Finalmente acordou. Como está se sentindo? — Ele disse, a voz suave, enquanto sua mão quente pousava na minha.

— Quanto tempo eu fiquei aqui? — perguntei, tentando disfarçar a preocupação com o tempo que ele poderia ter passado me observando. Será que ele notou aqueles cravos teimosos no meu nariz ou a depilação do buço que estava atrasada?

— Uns trinta minutos... Liguei para sua mãe, ela está a caminho.

Assenti, mas um incômodo no rosto fez com que eu levasse a mão à bochecha, sentindo uma pontada de dor.

— Não faça isso... — Simon interveio, segurando minha mão com firmeza, o tom dele quase implorando. — Você ganhou um belo machucado. Mas não se preocupe, ainda está linda... e com a mesma cara irritante.

Um sorriso escapou dos meus lábios.

— Por que ela fez isso? — perguntei, referindo-me a Amber. — Eu não fiz nada para atrapalhar vocês.

— Nós não temos nada. Só ficamos uma ou duas vezes. Ela é completamente maluca. Sinto muito por ter te envolvido nisso. — Ele fez uma pausa, seus olhos desviando para nossas mãos entrelaçadas antes de voltar para mim. — Como posso compensar você?

— Me leva para jantar no melhor restaurante da cidade — sugeri, tentando manter um tom leve, mas sabendo que precisava dessa compensação pelas pauladas que levei.

— Fechado. Farei com que seja a noite mais inesquecível da sua vida.

Nosso olhar se prendeu, e por um momento, o mundo pareceu parar. Tudo o que eu conseguia pensar era em como os traços dele, o olhar intenso, a cor da pele e o cabelo se combinavam perfeitamente. A atração era inegável, e a tensão entre nós crescia.

Antes que pudesse ficar ainda mais constrangedor, minha mãe entrou na sala, quebrando o momento e fazendo com que eu puxasse a mão de volta.

— Meu Deus, filha! O que aconteceu com você? Está bem? — Ela entrou, a voz cheia de pânico, me abraçando com força.

— Estou bem, mãe.

— Por que fizeram isso com você? Quem foi?

Expliquei toda a situação, esperando que ela reagisse com a calma habitual. Mas, para minha surpresa, ela já sabia que eu tinha ido à festa ontem à noite. James tinha passado lá em casa para se desculpar, deixando um recado com ela, que, é claro, não entendeu e pediu explicações.

James contou que fui forçada a ir para uma festa, onde nos encontramos e começamos a beber juntos, mas que ele me perdeu de vista e ficou preocupado se eu tinha chegado bem em casa. A verdade, porém, era que ele me abandonou para ir atrás de outra garota, o que deixou Simon me encontrando na pista de dança com um desconhecido.

Minha mãe, visivelmente irritada, culpou Simon por tudo. Disse que não queria que eu mantivesse qualquer tipo de contato com ele, preferindo pagar todo o meu intercâmbio do que ver sua única filha em perigo por causa de um irresponsável.

Simon saiu, obedecendo o pedido dela, e logo em seguida começamos uma discussão.

— Você não deveria ter feito isso! Eu fui para a festa porque quis, eu bebi porque quis! A única pessoa culpada pelas minhas ações sou eu! Você não deveria tê-lo mandado embora como se fosse a pior pessoa do mundo.

— A única razão para você ter ido àquela festa foi porque ele a levou. Você está nessa maca de hospital por causa dele! — Ela passou as mãos pelo cabelo, nervosa. — Você não é de se meter em encrenca, Zaya!

— Meu Deus, mãe! — Exclamei, revirando os olhos. — Nada do que você falou é verdade, e eu vou continuar sendo a monitora dele, queira você ou não!

— Não vou aceitar isso. Em um dia que vocês ficaram juntos, você já foi para uma festa, já ficou bêbada e já apanhou! O que falta agora? Te enterrar? — Ela suspirou, o olhar duro. — Se você continuar com isso, eu vou contar para o Rick o que aconteceu, e ele não deixará o Simon administrar sua parte na empresa.

— Não, você não faria isso.

— Eu farei, se continuar insistindo. Arranje outra pessoa para ajudar.

— Mas eu preciso ajudá-lo, você não entende? Ele precisa dessas notas para conseguir a aprovação do pai.

— Ele tem capacidade de estudar sozinho. Basta parar de ir a festas e de pensar em garotas.

Tentei de tudo para convencê-la de que estava errada, mas nada parecia mudar a ideia fixa dela sobre Simon e sua suposta influência negativa sobre mim.

---

**SIMON NARRANDO**

Eu e Zaya sempre tivemos uma relação complicada. Por muito tempo, a culpei por aceitar tão facilmente o relacionamento entre Rick e Claire. Ela sabia que a união deles nasceu de uma traição, que trouxe apenas dor e sofrimento para minha mãe, que já estava em seus últimos dias.

Ver Rick e Claire felizes, como uma família, só alimentava meu rancor. Parecia que ninguém se importava com a morte dela, nem tinha qualquer respeito. Aceitar Zaya como meia-irmã ou amiga era como aceitar a relação deles. E eu nunca aceitei.

Houve inúmeras vezes em que rejeitei qualquer gesto de aproximação dela. Mas, apesar de tudo, nunca deixei de notar que, entre todas as garotas que já conheci, ela se destacava. Seja pela beleza, pelo coração bondoso e gentil, ou por todas as qualidades que ela própria subestimava.

Agora, enquanto a observo deitada na cama, com um machucado no rosto, me pergunto como uma garota pode ter traços tão perfeitos. E me questiono se essa fascinação por ela não é resultado de ter evitado qualquer tipo de conexão que poderíamos ter tido.

Foi nesse momento que a mãe dela entrou no quarto, e percebi o quanto desejo me afastar dessa "família" e de qualquer ligação com eles, incluindo Zaya.

Foi um lembrete.

O meu meio- irmãoOnde histórias criam vida. Descubra agora