𝐎𝐛𝐬𝐞𝐬𝐬𝐞𝐝 - 𝐘𝐚𝐧𝐝𝐞𝐫𝐞 𝐑𝐞𝐨 𝐱 𝐋𝐞𝐢𝐭𝐨𝐫𝐚

ℵ ℂ𝕒𝕡𝕚𝕥𝕦𝕝𝕠 𝟙

(𝟛𝕣𝕕 𝕡𝕠𝕧)

Reo não estava particularmente animado com esse dia. Para ele, era apenas mais um dia normal diante todos os outros. Claro, ser o herdeiro das grandes empresas Mikage's dava a ele uma vida repleta de privilégios, mas depois de encher quartos e mais quartos com todo o conteúdo possível das mais diversas lojas - desde vídeo games de última geração com todos os jogos possíveis até as mais caras roupas e brinquedos - a vida pode ser um pouco... entediante. Pelo menos é isso que Reo pensa... ou pensava, até descobrir uma nova paixão: corridas de moto.

Claro, seus pais nunca aprovariam sua participação em algo tão "inferior", segundo eles, nem mesmo queriam que Reo andasse de moto por ser muito perigoso para o sucessor de uma sede de empresas tão importante. Mesmo assim, era óbvio que o Mikage mais novo não seria parado tão facilmente. Começou com pequenas viagens em alta velocidade sozinho, escondido dos pais, mas logo não era mais o suficiente - ele queria mais, precisava de mais. Claro, assim como tudo que Reo realmente gosta na vida, logo se tornou uma obsessão.

Depois de alguns meses, acabou descobrindo por meio de um de seus amigos uma corrida clandestina na parte mais escassa da cidade e é claro que isso não tardou a encher os olhos violetas de Reo.

– Tô te falando, Seishiro, eu descobri um lugar muito lindo. – O de cabelos roxo afirmava, enquanto o platinado continuava mexendo em seu celular.

– Toda semana você descobre um lugar novo, Reo. – Seishiro responde, suspirando. Mesmo assim, o ânimo de Reo não se abala. Os dois continuam andando, indo de encontro a Zantetsu e Hyoma.

– O que estão falando dessa vez? – Zantetsu pergunta, enquanto ajeita os óculos falsos.

– Reo está falando mais uma vez sobre os locais que encontra em uma das suas fugas de moto. – Seishiro responde com um tom de voz irônico, sem ao menos tirar os olhos do telefone para cumprimentar os amigos. Se não estivesse tão vidrado, estaria revirando os olhos.

– Sabe, Reo, o Rensuke me chamou para uma corrida de motos que vai rolar hoje. Você deveria ir, se gosta tanto do assunto. – Hyoma fala

– Quem é Rensuke? – Zantetsu pergunta, confuso.

– Rensuke Kunigami, é um ruivinho forte... – Hyoma fala, mas suspira ao perceber a expressão confusa no rosto dos amigos. – Vocês viram ele poucas vezes, não é do nosso ciclo, então é de se esperar que não se lembrem dele. Faço academia com ele e corremos juntos as vezes.

– De todo modo, não posso arriscar. Se meus pais souberem que eu fui num lugar desses, eles acabam comigo. – Reo responde, suspirando triste.

– Mas eles não precisam saber. Digo, a escolha é sua no final, mas você já está saindo escondido toda hora, por que não fazer isso por algo que valha mais a pena? – Zantetsu fala, surpreendendo Reo e Hyoma.

– Bem, tenho que concordar com Zantetsu. Vou te mandar o endereço por mensagem, vê se aparece. É numa parte mais afastada da cidade, duvido que alguém te reconheça lá. Na pior das hipóteses, vai de máscara. Não precisa participar, pode só assistir. Eu vou estar lá, de todo modo. – Hyoma diz, por fim, sem saber que ali ele estava assinando o destino do Mikage.

Reo não só assistiu a corrida como se encantou. Ao assistir, os olhos de Reo brilhavam. Estava decidido, ia participar. Na semana seguinte, lá estava Reo novamente, mas dessa vez do outro ponto de vista - estava em cima de sua moto.

A adrenalina pelo seu corpo era viciante, queria mais, mais, mais. Reo se tornou uma figurinha repetida nas competições e, mais ainda, era o vencedor em todas elas. Todos iam assistir o grande "Vulto Roxo" correr. Ganhou esse apelido, claro, por ninguém conseguir vê-lo na corrida, apenas seu vulto colorido por seu capacete com chamas roxas desenhadas. Tão rápido quanto ganhava, ia embora. Nem ao menos pegava o prêmio - não precisava disso. Ele queria a vitória, o gosto de ser o melhor. Mais que isso: o gosto de ser tão bom correndo quanto se escondendo. Meses se passaram e não havia nem ao menos uma suspeita de quem fosse o vulto roxo. Seus pais estavam orgulhosos por Reo estar tão obediente, apenas para o de cabelos roxos rir da inocência deles.

Os únicos que sabiam eram seus amigos, Hyoma Chigiri, Seishiro Nagi e Zantetsu Tsurugi. As vezes eles assistiam algumas partidas para apoiar o amigo, mas normalmente só um deles comparecia - geralmente Hyoma, acompanhado de Rensuke que, claro, não fazia ideia da presença do Mikage. Contrariando o previsto, hoje os três amigos foram presenciar a corrida apenas por uma coincidência. Não haveria nada de especial na competição de hoje - ou pelo menos era o que Reo achava.

No outro lado da moeda, [Nome] estava indo participar da corrida pela primeira vez em meses. De certa forma, [Nome] era como a contraparte de Reo, vivia uma vida completamente distinta da do Mikage. Competia nas corridas clandestinas de seu bairro desde a adolescência para conseguir dinheiro, sempre apoiada pelo seu melhor amigo desde a infância, Ryusei Shidou, mas havia parado há alguns meses, tentando trabalhar de forma mais "honesta". Para quem vê de fora, essa amizade causa estranhamento. A tão gentil [Nome], melhor amiga do encrenqueiro Ryusei? [Nome], que já trabalhou em dois lugares ao mesmo tempo para se sustentar, enquanto Ryusei não perde a oportunidade de pegar uma carteira "dando bobeira".

[Nome] e Ryusei dividem um pequeno apartamento na parte mais pobre da cidade. Os dois cresceram juntos, nas maiores adversidades da vida, fazendo o que podiam para sobreviver. A vida nunca foi fácil para eles, crescendo como se fossem amaldiçoados pelo universo. Apesar disso, conseguiram se virar. Claro, não vivem no luxo, mas são gratos por pelo menos terem um teto acima de si para poderem dormir. Pelo menos por enquanto...

– Merda... – A [cor dos cabelos] murmura, mais para si do que para o mundo.

– Hm? O que foi dessa vez? – Ryusei questiona, vendo [Nome] se jogar nas almofadas que chamam de sofá, puxando os cabelos para trás em frustração.

– Aumentaram o aluguel. Temos 2 dias para pagar ou a nossa próxima janta vai ser junto com os ratos. – [Nome] respondendo, contendo as lágrimas. Já estava acostumada com os murros da vida, mas era cansativo não ter um descanso. – Você sabe como é o dono desse apê, ele não aceita atrasos. Ele tá doido para tirar a gente daqui.

– Isso é fácil de resolver, eu chamo os moleques e– O loiro começa, apenas para ser cortado por [Nome].

– Não, Ryu. Chega disso, vamos fazer as coisas do jeito certo. A gente vai dar um jeito.

– Como, [Nome]? Vai pegar mais um emprego? Você nem para em casa! – Ryusei fala alto, quase gritando. Se sentia revoltado, mais uma vez atazanado pelos infortúnios da vida. Não poderia ter paz uma vez sequer?

– Você não consegue falar com aquele seu amigo riquinho? O Itoshi? – [Nome] pergunta, mesmo sabendo que o maior vai negar.

– O Sae? Não, claro que não. Já seria o segundo mês que ele ajuda a gente, vai achar que somos caloteiros. – A [cor dos cabelos] suspira, sabendo que não adianta discutir. Ryusei e Sae podem ser melhores amigos, mas Sae é uma pessoa... complicada. No fundo, ela entende o motivo de Ryusei não querer pedir para o Itoshi. Ela também não pediria.

Depois de alguns segundos em silêncio, parece acender uma lâmpada na cabeça de Ryusei, que logo sorri grande.

– Sae não emprestaria dinheiro, mas emprestaria uma das motos dele. Ele tem uma moto largada, nunca usa ela, mas também nunca se desfaz. Não é fácil, mas posso tentar fazer com que ele empreste para você, ainda mais se prometer pagar uma certa quantia em troca. – O loiro fala, fazendo [Nome] arregalar os olhos de leve.

– Ryusei Shidou, o que você está insinuando? – [Nome] pergunta, mesmo já sabendo a resposta.

– Participe da competição de novo.

ℂ𝕠𝕟𝕥𝕚𝕟𝕦𝕒...

(𝟙𝟛𝟛𝟟 𝕡𝕒𝕝𝕒𝕧𝕣𝕒𝕤)