Amor e Pecado Em Monte Cassino

O alguém

A chuva começou a cair de leve no meu rosto, e logo em seguida começou a engrossar.

Me levantei e sai correndo em direção a abadia, quando cheguei perto o bastante me joguei contra a paredea em busca de proteção.

A proteção que eu esperava era dos detalhes da parede, mas me surpreendi quando a chuva parou totalmente aonde eu estava, olhei para cima e me assustei com a silhueta de algo pairando encima de mim.

Era ele, o mesmo anjo que eu vi outras vezes, suas asas de pedras se curvavam por cima de mim, formando uma espécie de cúpula. Fiquei parada por um bom tempo, até que a chuva cessou.

Me afastei da parede e continuei olhando para o anjo, vendo dessa posição me dei conta de que não, ele não estava ali antes.

O resto da tarde até o início da noite passou rápido, nós jantamos as 19h e oramos as 21h, depois disso fomos indicadas a ir para cama, eu não estava com sono, então fui andar pela abadia.

Várias de minhas irmãs estavam dormindo, os corredores sempre ficavam mais escuros a noite, a luz das velas eram fracas de mais para iluminar as paredes escuras de Monte Cassino, lembro de me sentir como um fantasma andando por um castelo abandonado. Percebi que havia mais alguém acordado quando passei na frente de uma sala, ouvi barulho de lápis sendo passado no papel, a pessoa em questão deve ter me ouvido também, por que logo me chamou.

- Quem está aí? - não pensei em responder de imediato, mas reconheci a voz, era Lexa.

- Sou eu irmã, Samantha..

Entrei na sala, Lexa estava sentada de costa para uma lareira, enquanto segurava um cigarro na mão esquerda e o lápis na direita.

- O que faz acordada essa hora querida? - ela disse enquanto tragava o cigarro.

- não estava com sono irmã, e então pensei em conhecer o lugar.

- Hm, e então, o que está achando de Monte Cassino?

- Um lugar muito confortável e misterioso

- Misterioso?

- Sim.

Ela deu outra tragada no cigarro, e o deixou descansando no cinzeiro.

- O que você viu que lhe pareceu um mistério?

- Posso parecer louca irmã, mais vi as estátuas se mexeram hoje...

Ela se remexeu na cadeira, devo ter lhe falado algo que a incomodou.

- Sente-se aí - ela apontou para cadeira na frente dela, e então me sentei.

Ela se levantou e encheu uma xícara com café.

- Você quer?

- Não, obrigada

Lexa deu de ombros e sentou de volta em seu lugar, deu um gole no café e disse:

- Vou lhe contar uma história, uma história muito antiga sobre esse lugar. A muito tempo atrás, na época da construção de Monte Cassino, o homem que fez a planta deste lugar era conhecido como um Santo. Dizem que ele era enviado por Deus, e que fez milagres na Cidade próxima daqui...

Um clarão de luz iluminou a sala, e logo em seguida um trovão ecoou.

- Ele viveu por muito tempo em Monte Cassino, seu nome era "Lux", que significa Luz em Latim. Dizem que Lux estava insatisfeito com o fim de sua vida, e por conta disso ele pediu para Deus lhe fazer um milagre.

- Mas se ele já era santo, pra quer precisaria de um milagre? - eu perguntei

- porque os homens sempre querem mais.

Foi uma resposta bem convincente, ela continuou a história.

- Lux pediu a Deus para poder viver para sempre em Monte Cassino, Deus ouviu suas presses e realizou seu milagre. Como Lux não especificou como queria viver aqui, Deus o transformou em uma estátua.

- Uma estátua? Que destino horrível...

- não foi um castigo querida, no final das contas Lux agradeceu a Deus e desapareceu nas fundações do Castelo. Estou lhe contando essa história porque dizem que ele ainda está por aqui...

- A senhora acredita mesmo nessas histórias?

- Com certeza não, mas gosto de contar as freiras mais novas, elas sempre ficam com medo. - ela riu nessa última parte.

Eu saí da sala totalmente apavorada, um homem que tinha virado uma estátua, e que ainda estava vivendo ali ? Foi assombroso. Depois dessa situação eu fui para meu quarto, só que quando eu cheguei perto da porta escutei um barulho estranho vindo do andar de cima.

Procurei a escada mais próxima e subi para investigar, sempre fui muito curiosa. O andar de cima era aberto, com várias passagens ao ar livre e gárgulas em corrimões, a chuva estava muito forte e tudo estava muito escuro, mas pude ver com clareza o que aconteceu nós segundos a seguir.

Eu podia jurar que o tempo havia desacelerado, o céu se iluminou e um raio o cruzou, a área do segundo andar inteira brilhou, a luz refletia nas poças e nas estátuas. E lá estava ele, com suas asas abrindo lentamente para cima, ele me encarava do outro lado da passagem que eu estava, ele estava de pé encima do corrimão. Seu corpo inteiro se iluminava com a luz que o raio nos deu, vi cada curvatura de seus músculos e a água cair devagar por ele.

Isso durou muito pouco, em um piscar de olhos ele desapareceu e a cena toda mudou. Mas, esse alguém... Esse anjo.... Lux, ele me deu uma sensação estranha no peito, não uma sensação ruim, mais boa.