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Higuruma pov;

Hoje é sábado, um dia depois do que aconteceu com a jovem S/n. O dia parece agradável e o Sol se torna presente do lado de fora. Estou em meu apartamento tomando café enquanto leio alguns casos arquivados que peguei em um armário do setor, queria entender melhor os motivos para terem sido dados como encerrados.

É normal as vezes as pessoas tirarem suas queixas, pedirem indenização compatível com o que a empresa propõe ou terem feito acordos. Não costumo gostar de fazer essas tarefas, mas sempre tem algo sujo por baixo de tanta formalidade e pessoas "gentis". Não, não estou falando que Nanami é um canalha ou que a Shoko é uma vadia interesseira, mas sim que a alta cúpula sempre ira visar seus próprios interesses e abafar casos polêmicos.

Não foi atoa que aceitei trabalhar naquela empresa, um nome tão importante como os dos Zenin's sempre tem uma sujeira deixada para trás.

Apoio minha xícara na mesa e tombo a cabeça para trás, massageio a minha nuca e solto um suspiro. Queria não estar pensando se ela esta bem, até porque ontem eu a levei até a sua casa novamente e a mesma já tinha uma aparência melhor. Que susto foi aquele que eu tomei? Nunca havia visto uma pessoa tendo uma crise de ansiedade daquela forma, por mais comum que seja esse comportamento acontecendo em audiências... Ainda sim, vindo de uma mulher, foi estranho.

Abro mais um envelope lacrado e começo a ler o documento que esta nele.

— Caso de assédio? — Arqueei a sobrancelha abrindo um sorriso largo — Pelo jeito ganhei na loteria. Vamos ver o que temos aqui.

Lendo cada paragrafo do caso, senti o sorriso que eu tinha no rosto desaparecer. Não se tratava de um simples caso, ele foi arquivado meses atrás e a pessoa acusada pediu demissão uma semana depois, saindo ilesa do processo. Continuando a ler sobre, noto que a vítima retirou o processo com a justificativa de estar embriagada e não ter clareza do que ocorreu no dia... Algo tão simples de ser resolvido com câmeras de segurança.

Vejo o nome do acusado e da vítima e logo sinto como se o chão estivesse estremecendo, Naoya Zenin e S/n Takahashi.

— Nem fodendo.

Pego meu telefone sabendo perfeitamente quem deve ter conhecimento desse caso. Não adiantaria ele mentir para cobri-la, acredito eu que ele já sabia que eu pegaria esse caso. Ouço o aparelho tocar algumas vezes antes dele atender e como esperado, sua voz era de alguém que já esperava um confronto.

— Porque não me contou?

— Eu optei por deixar você mesmo descobrir.

— Foi por isso que ela o olhou em desespero ontem?

— Sim — Ouço sua voz um tanto quanto receosa — Olha cara, eu já imaginava que você uma hora ou outra colocaria suas mãos nesse processo, mas acredite em mim, a S/n não fara nada para ajuda-lo.

— Porque ela tirou o processo?

— Ela se culpa — Ficamos em silêncio por alguns segundos — Os superiores, o acusado, todos fizeram ela se sentir culpada. Eu não estava presente, mas sei que fazia algumas semanas que Naoya estava de olho nela, chamando para sair, ajudando com as tarefas no trabalho. Eles chegaram almoçar juntos uma vez... Ela disse que ele tentou algo a mais, porém quando a mesma recusou, ele não foi insistente e pediu desculpas.

— E o acontecimento?

— Foi em uma confraternização da empresa. Eu fui embora cedo e a S/n continuou com o pessoal, ela bebeu até um momento começar a passar mal, o Nanami me disse que Naoya foi ajuda-la e que não se opôs pois eles eram próximos. Mas que sentiu a falta deles minutos depois.

— Ela pode ter sido dopada.

— Sim, no exame que foi realizado tinha uma quantidade pequena de sonífero. O Nanami quando encontrou ambos, Naoya estava beijando ela e a mesma parecia praticamente apagada em seus braços. Foi uma briga um tanto quanto pesada deles dois.

— Kento não me contou sobre.

— S/n no dia seguinte se sentiu envergonhada e com nojo de si. Ele conversou com ela e abriram o processo juntos, mas após os superiores chamarem a mesma uns dias depois, ela apenas desistiu e Naoya foi mandado embora. Com certeza os Zenin's não queriam sua imagem vinculada a um escândalo desse e deram um jeito de calar a boca dela.

— Vocês deram um jeito para que eu me candidatasse a essa vaga.

— Você é um cara de confiança do Nanami, um prodígio. Os Zenin's não suspeitariam se contratassem você apenas para lidar com casos de indenização ou cobranças, mas que na verdade sua tarefa fosse outra.

— Tsc — Revirei os olhos.

— Tava na cara que você era um cara curioso e tinha interesses próprios. Juntamos o útil com o agradável.

— Quem esta por trás da queda dos Zenin? Nanami? Shoko?

— Você recorda de Toji Fushiguro?

— A história do moleque imprestável que foi abandonado por eles? — Soltei uma risada anasalada — Vai me dizer que ele quer vingança?

— Pois ele quer — Riu do outro lado da linha — Ele é o pai do Megumi Fushiguro, aquele meu amigo do setor de marketing. Faz anos que eles estavam esperando só um tropeço para arruinar aquele império.

— E vão se aproveitar justamente de um caso como esse...

— A S/n não irá ser exposta, a única coisa que precisamos é de uma moeda de troca. Se conseguirmos o máximo de provas daquele dia, fim da linha para eles.

— Os exames não são o suficiente?

— Você sabe melhor do que eu que não, Hiromi. Precisamos de gravações, mensagens, qualquer prova que incrimine eles. Esse papel que você encontrou é apenas o inicio.

— Eu preciso falar com ela antes, não podemos fazer as coisas pelas costas dela. Não me importa o plano de vocês, não trabalho dessa forma.

— Como queira, faça da sua maneira, só precisamos de resultados.

Antes de dizer algo, ele desligou o aparelho e me deixou em um estado de questionamentos. Tudo parecia um grande tabuleiro de xadrez, cada movimento precisava ser muito bem calculado e previsto para que no final não ocorresse xeque-mate e o nosso jogo terminasse de forma que perdêssemos.

Bem, na teoria, não parecia algo complexo se a peça fundamental não estivesse em uma gaiola presa e amedrontada. Como um pássaro, a S/n tinha suas asas quebradas e não conseguia levantar voo para sua liberdade. Ela não teve apenas uma crise de ansiedade, com certeza esse episódio desencadeou nela diversos traumas que esta tentando ocultar e isso fez com que a pressão se tornasse insustentável.

— Pensa Higuruma... — Passo a mão pela minha testa tentando bolar um plano — Eles não irão poupá-la do sofrimento se necessário, mas será que eu consigo tornar sustentável a dor? Como uma anestesia antes de um corte profundo...

Olho para o meu celular novamente e entro nas minhas redes sociais, vou no campo de busca e procuro pelo nome dela. Ao entrar em seu perfil, vejo que havia poucas fotos, a mais recente na verdade era antiga... fazia cinco meses. Uma foto com um sorriso encantador e um vestido provocante, ela estava belíssima segurando um girassol em mãos. Pelo jeito foi nesse dia que ela se afastou desse mundo e entrou em uma bolha.

HEARTBEAT | Hiromi HigurumaOnde histórias criam vida. Descubra agora