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— Você é sempre assim tão desconfiada? — Ele dirigia olhando para a estrada enquanto eu me encolhia no banco do carona.

O rapaz tinha mãos bonitas, conseguia notar suas veias a cada instante que apertava firme no volante. Desviei o olhar para janela e percebi que logo mais estaria em casa e quebraria esse momento constrangedor. Nem me lembro mais quando foi a última vez que fiz amizade com alguém, antigamente era rodeada de pessoas e vivia saindo para beber, mas agora eu não aguento nem ao menos um copo de saquê.

— Eu nem ao menos sei o seu nome — Murmurei — Como quer que eu confie?

— Ah... Perdão, me chamo Higuruma Hiromi.

— S/n Takahashi.

— Seu nome é estrangeiro? — Eu o olho de lado mas em nenhum momento ele desviou sua atenção da estrada.

— Minha mãe é brasileira, meu sobrenome é por causa do meu pai... Com isso ficou essa mistura louca.

— Mora com eles? — Fiquei em silêncio — Desculpa, invasão de privacidade.

— Você pede desculpas para tudo? Daqui a pouco irá pedir desculpas por ser homem.

— Não — Falou dando de ombro — Se eu estou errado, não ligo de pedir desculpas. Mas não irei pedir desculpas por ter nascido com o sexo masculino, algo totalmente incontrolável por mim. Que tipo de cara faz isso?

— Os escrotos — Vejo Higuruma abrir e fechar a boca repetidas vezes como se pensasse no que deveria dizer.

— Pelo jeito você teve experiências desagradáveis com os homens.

— Pode acreditar que sim — Tentei encerrar o assunto cruzando os braços e novamente voltando minha atenção para a rua.

— Você tem quantos anos? Parece bem fechada para as pessoas.

— Vai me julgar com base na minha idade?

— Não exatamente, também senti curiosidade de saber sua idade.

— Direi se você me disser primeiro a sua.

— Quantos anos acredita que eu tenha?

— Trinta?

— Pelo jeito não estou tão acabado — Sorriu de lado — Mas quase isso, tenho trinta e dois.

— Vinte e oito.

— Idade da Shoko.

— É... Minha chefe — Observo minha casa e aponto para ele que estacionou bem em frente — Obrigada pela carona.

— Eu disse que era apenas uma carona.

— Tudo bem, obrigada novamente. — Falo de uma forma totalmente inexpressiva, pego minha bolsa e saio do carro.

Ele ficou esperando eu entrar em casa antes de partir. Assim que vi seu carro virando a esquina pela janela da cozinha, pude finalmente colocar minha janta para esquentar e me jogar no sofá.

Além de Itadori e Choso, eu não falo com mais ninguém na empresa, não tenho intimidade com o pessoal dos outros setores, para mim são um bando de esquisitos. Me sinto em um reality sendo observada por tantas pessoas, isso as vezes é sufocante.

Abro o notebook e vou direto para a minha caixa de e-mail, percebo que a clinica que fiz meus exames finalmente mandou meus resultados. Sem abrir o e-mail, apenas resolvo encaminhar para minha psiquiatra e psicóloga.

— Esse problema não é meu — Fecho a tela e volto a relaxar no sofá enquanto a lasanha esta descongelando no micro-ondas.

*Dia seguinte*

HEARTBEAT | Hiromi HigurumaOnde histórias criam vida. Descubra agora