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Durante a semana eu me isolei. Não por medo, ansiedade ou qualquer outra coisa, mas apenas me isolei de forma involuntária entrando em uma bolha profunda de pensamentos e trabalho. Todos esses dias Higuruma me ofereceu carona e por mais que eu sentisse vontade de negar, meu corpo ainda estava em estado de alerta para caso Naoya aparecesse.

Quando chego em minha casa, tranco tudo de chave e deixo apenas a luz do corredor acesa, para que assim ninguém pense que eu cheguei. Uma forma de viver sufocante, mas preciso apenas acreditar que isso é temporário.

Vejo uma mensagem chegar em meu celular e noto se tratar do advogado que tanto vem me cercando. Não posso dizer que a companhia dele é desagradável, para dizer a verdade, eu tento esconder alguns sorrisos que ele consegue me arrancar. Ninguém do setor acredita quando digo que não esta rolando nada entre nós, para eles, estamos criando uma linda relação.

Me jogo na cama e leio a mensagem em que ele diz as horas que irá me buscar amanhã para irmos ao parque. Como será uma sexta feira, ele e eu trabalharemos de home office e então assim que terminarmos, Hiromi virá me buscar. Porque sinto uma ansiedade crescendo dentro de mim quando é algo envolvendo ele? Coloco meu braço tampando minha visão e fico pensando nos pequenos momentos e toques dele.

O toque de Hiromi em minha cintura quando me ajudou na crise de ansiedade, as perguntas que ele faz tentando se intrometer nos meus problemas mas ao mesmo tempo ajudar, aquela droga de playlist que ele criou para ouvirmos juntos enquanto ele me traz para casa, a maldita música que toca sempre na minha mente quando ele chega no escritório. Sim, eu passei a ouvir uma música sempre que Higuruma chega no escritório.

— Same old tired, lonely place ( Mesmo velho, cansado, solitário lugar)

— Walls of insincerity (Paredes de insinceridade)

— Shifting eyes and vacancy (Olhares perdidos e vagos)

— Vanished when I saw your face (Sumiram quando vi o seu rosto) — All I can say is it was (Tudo que posso dizer é que foi) — Enchanting to meet you (Encantador te conhecer).

Não faz sentido eu ouvir essa música sempre que ele esta perto, não faz sentido. Mordo meus lábios enquanto me viro de lado na cama e fico olhando para um urso que tenho desde os meus doze anos. Um presente que ganhei na adolescência do filho de uma amiga da minha mãe, não me lembro o nome dele, mas o mesmo me chamava de Girassol.

*QUEBRA DE TEMPO*

Usando uma roupa confortável e uma maquiagem básica, escutei o carro de Higuruma estacionar em frente a minha casa. Minha rua é pouco movimentada, então carros e motos passando por ela é fácil de serem escutados, até porque é uma vizinhança calma. Respiro fundo enquanto pego minhas coisas, é apenas um passeio, ele não fará nada... Apenas preciso confiar.

Ao entrar em seu carro, ele me entrega um buquê de girassóis e por coincidência eu recordei do tal rapaz. Não é possível que eles dois...

— Vi que compartilhou recentemente uma foto de um campo de girassóis, parece que temos gostos parecidos.

Não, não é possível, foi apenas uma coincidência. Sinto o cheiro das belíssimas flores e a seguro em meu colo enquanto ele dá partida em direção ao parque.

— Obrigada... — Murmurei com um sorriso fraco — São lindas.

— Como foi o seu dia? Cansativo?

— Sempre é — Tombo a cabeça para o lado e fico observando cada detalhe nele, desde o seu nariz que é grande porém tem um contraste bonito com o seu rosto, as olheiras e os olhos puxados. Droga, eu o acho realmente atraente.

HEARTBEAT | Hiromi HigurumaOnde histórias criam vida. Descubra agora