Capítulo 19

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Amanda

Horas depois eu já me sentia um pouco melhor, meus pais e a Roberta não puderam ficar por muito tempo pois eu precisava descansar e os medicamentos que me deram me deixaram muito sonolenta na mesma proporção que estavam fazendo efeito sobre as minhas dores.

Pela manhã a enfermeira que me atendeu ontem foi a mesma que me ajudou no banho, a me vestir e na alimentação, vocês não fazem ideia do quão ruim é a comida do hospital, sem gosto, o que se salva é a gelatina de laranja, uma delícia e a minha preferida.

Depois ela me levou para fazer alguns exames pois a doutora falou de uma possível alta ainda hoje então tinham de garantir que estava tudo bem para eu poder me recuperar por completo em casa, depois de todos os exames feitos recebi a visita da psicóloga do hospital para uma breve conversa sobre a gravidez que eu não sabia e acabei por perder.

Ela explicou que cada pessoa tem a sua forma de lidar com uma perda ou uma dor emocional, que seria sempre bom conversar e exteriorizar tudo o que estivesse a sentir para alguém, que guardar chega a ser perigoso e torturante, que quando estamos convictos de que não precisamos de ajuda e que nada daquilo nos afetou, é quando realmente precisamos de ajuda.

Falei sobre o fato de não querer contar ainda ao pai do bebé por eu ainda não ter digerido bem essa notícia e por ele ter se mudado à trabalho, ela disse que se essa foi a minha decisão, que não deveria esconder isso dele por muito tempo pois ele pode se revoltar ou não reagir muito bem ao facto de ser o último a saber, nisso eu concordei e vi que ela tem razão, eu conheço o Tiago e sei que ele ficaria magoado se isso acontecesse, mas eu ainda preciso de tempo, faz nem 24h que soube estava grávida e perdi o bebé nesse acidente.

No final a psicóloga de nome Samantha deixou o seu cartão e disse que poderia continuar a me consultar com ela, não só pelo assunto da gravidez, mas para outros assuntos também, gostei dela, apesar de aparentar ser nova senti firmeza e profissionalismo, vou levar em consideração tudo o que ela me disse.

Mais tarde veio um policial pegar o meu depoimento e saber se eu queria fazer um boletim de ocorrência para o homem responsável pelo acidente, contei o que me lembrava e disse que faria o sim o B.O, para ele aprender a não dirigir bêbado e drogado, por culpa da irresponsabilidade dele estou aqui e perdi o meu bebé.

Fiquei um tempo sozinha pensando em tudo e nada, ainda era estranha essa situação, mas não podia me lamentar, guardar rancor e sofrer para sempre, preciso dar a volta por cima e ficar bem, devo isso à mim mesma e ao pequeno anjo lá no céu.
Na parte da tarde recebi a visita dos meus pais, dos meus irmãos com suas esposas e da Roberta.

- Oi minha Filha como está se sentindo hoje?

- Oi pai, estou me sentindo um pouco melhor.

- Oi pequena como vai? _Perguntou o meu irmão mais velho Heitor vindo me abraçar com cuidado por causa do braço imobilizado, em seguida o Patrick meu irmão do meio, Clara e Andreia suas respetivas esposas fizeram o mesmo.

- Estou bem agora tendo todos vocês aqui comigo, obrigada por virem pessoal, mas cadê a Roberta e a mamãe?

Assim que terminei de perguntar vejo elas passarem pela porta com flores e uma caixinha do que acho ser um almoço do restaurante do Sandro, essa parte deve ser ideia da maluca da Roberta.

- Achou mesmo que eu ia deixar minha amiga passar fome com essa comida horrível de hospital, mas de jeito nenhum, toma amiga, é para você, eu queria trazer seu prato favorito, mas o Sandro não deixou e preparou algo saudável, infelizmente ele não pôde vir porque hoje é dia de inspeção lá no restaurante.

- Amiga não precisava se incomodar, mas muito obrigada e diz para o Sandro que eu entendo, de verdade mesmo.

Abri a marmita que estava com um cheirinho gostoso e já fui logo atacando tudo. Fiquei conversando com os meus irmãos algumas bobagens, perguntei à Clara e a Andreia como estavam os meus sobrinhos e elas disseram que estavam bem, e ficaram na escolinha, pedi que avisassem à Lilian apenas sobre o acidente já que acabei me esquecendo de ligar para ela, pedi também para o Patrick ir pegar o meu carro que ficou na rua do supermercado para deixá-lo na garagem do meu prédio.

A enfermeira veio novamente para me dar a medicação e disse que daqui a pouco a Doutora passaria para me ver e confirmar se teria alta. Depois de mais algumas horas conversando e rindo das besteiras dos meus irmãos a doutora foi até ao meu quarto.

- Boa tarde a todos! vejo que tem uma grande família, bom agora vamos ver sua ficha...

Ela fez algumas perguntas como se estava com alguma dor incapacitante, dor de cabeça e entre outras, colocou a lanterninha nos meus olhos, fez algumas apalpações e recomendou que marcasse um acompanhamento com um ginecologista caso eu tenha alguma dúvida ou queira voltar a engravidar, o que eu não penso tão cedo.

- Como a cirurgia correu bem e não houve nenhuma complicação no pós-operatório e os seus exames não mostram nenhum outro problema, a Senhorita poderá sair de alta ainda hoje e continuar se recuperando em casa, tomando os remédios que irei lhe passar e qualquer sinal de piora pode voltar para o hospital, depois é só passarem na receção do piso para assinar os papeis.

- Muito obrigada doutora, pode deixar que seguirei todas as suas recomendações.

- Não precisa agradecer, é o meu trabalho. Bom, desejo as rápidas melhoras Senhorita Medeiros, licença.

Foi bom saber que já estava liberada, queria ir para casa e tomar um banho quente, estava com saudades da minha cama.

Por um momento me lembrei do Marcelo, até agora ele não veio e eu acabei de receber alta, será que fui tão mau educada assim para ele não voltar? Acho que nunca mais vou voltar a vê-lo para me desculpar e agradecer de forma correta.

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