— Parece que você tem tudo pra ser uma cidadã de Londres, senhora Melanie, tudo que precisa é de mais alguns meses, e conseguirá sua cidadania.
Era sua segunda vez naquele ano que Melanie comparecia ao Immigration and Nationality Directorate (IND) para analisar seu visto de estudante. Aquele no qual a permitia ficar no país por mais seis meses, o suficiente para que ela terminasse seu curso.
— Que bom senhor Frederick. — Falou enquanto recolhia seus documentos — Isso com certeza é o que eu mais quero no momento.
No momento e desde de sempre. Melanie foi para Londres sem nenhuma vontade de voltar para sua terra natal, então mesmo se ela não conseguisse ingressar em uma universidade, ela iria dar um jeito de permanecer ali, mesmo que precisasse se casar com um desconhecido para isso.
— Ótimo, então creio que no começo do século a senhorita já será uma cidadã Britânica e essas reuniões chatas não vão lhe irritar mais. — Com essas palavras, sorrisos finos e um breve aperto de mão, aquela reunião teve fim e a morena se dirigiu à saída daquela agência e caminhou com seu sobretudo marrom claro de caxemira, naquelas ruas ventosas de Croydon.
Seus olhos estavam fixos no chão e sua cabeça completamente alheia a qualquer coisa. Depois daquele episódio há uns três dias atrás esse seu estado era rotineiro. Mel estava tão desgostosa com a vida, que mesmo na entrega de seu trabalho ela não esboçou nenhum sinal de alegria ou comoção, havia apenas um sorriso fino e um olhar vago em seu rosto o que deixou Joe e seus colegas de turma em uma confusão notória, porém ninguém teve coragem de perguntar o que tinha realmente acontecido.
E mesmo se perguntassem, ela não iria responder, não queria relembrar nada que tinha acontecido dentro daqueles seis meses. Ela iria esquecer, apagar totalmente de sua mente,ou fingir que aquilo não tinha acontecido de fato, tudo fora apenas uma história que ela leu em algum de seus livros e se prendeu tanto que imaginou estar vivenciando aquilo.NADA DAQUILO ACONTECEU.
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Sua cabeça doía, seus pés doíam, as pontas de seus dedos estavam quase congeladas por conta do frio intenso e de seu esquecimento das luvas, que, mesmo depois de tanto tempo, tantos invernos, ainda não se acostumou a usar. Mas ela não poderia se culpar tanto, cinco anos morando em um país realmente frio, comparado há vinte anos morando em um país próximo da linha do equador é uma desculpa válida.
A chegada em seu prédio lhe trazia sempre um sentimento bem aconchegante, principalmente em dias assim, ela já visualizava seu sofazinho quentinho, com sua manta quentinha, um copo de chocolate quente com quatro marshmallow dentro e um bom livro em sua mão, deliciando de mais uma leitura erótica, ou fantasiosa.
Era isso que ela faria assim que entrasse em seu apartamento, exatamente isso. E essa ideia lhe encheu de alegrias e até fez um sorrisinho brotar em seu rosto.
Porém assim que a porta do elevador abriu, no andar de seu apartamento, esse sorriso murchou.
Melanie não queria acreditar, não poderia. Não conseguiria.
Mas era muito real. Era INSUPORTAVELMENTE real.
O homem que estava sentado no chão em frente de seu apartamento se levantou assim que a viu, e ficou parado esperando que ela fizesse algum movimento, algum sinal, alguma coisa… Até mesmo um xingamento ele estava esperando, porém não veio nada.
— Melanie…
Aquela voz só tornou aquele momento mais insuportável, pois provou que realmente era real e que agora ela teria que sair dali correndo, pois não queria estar ali, naquele andar, naquele prédio, naquela rua, naquele país. Londres era sim um de seus sonhos e um dos motivos disso era pelo fato de ser muito, muito distante dele, e por não ter ele.
— Filha, por favor.
Melanie engoliu seu ódio, e começou a apertar o botão do elevador o mais rápido que conseguiu, porém antes que a porta conseguisse fechar, seu pai o impediu.
— O QUE VOCÊ QUER?
— Conversar, eu juro que só quer conversar.
— É? Mas eu não to nem um pouco a fim de conversar, PRINCIPALMENTE com você!
Como estava encurralada ali, ela decidiu que, se aquilo está mesmo acontecendo,ela pelo menos não iria ficar encurralada ali naquele elevador, então prendeu a respiração e foi em direção a sua porta, enquanto pegava suas chaves em sua bolsa, o mais rápido que conseguia.
— Melanie, por favor! — Ele correu, tentando acompanhá-la, mas ao menos precisou, pois ela parou no meio do corredor e virou rapidamente para ele, colocando o dedo bem em sua cara.
— Não! Por favor, digo EU. Já não basta tudo que você fez pra mim? Não basta tudo que TIROU de mim ? E você tem a pachorra de vir até aqui, até LONDRES, tirar minha paz? Acha mesmo que suas cartas não respondidas foram um convite para vir me visitar?— E-Eu… — O senhor foi interrompido de imediato pela menor, que estava tão nervosa que suas íris estavam tremendo.
— Eu não quero ouvir nada! Eu quero que você saia do meu prédio, volte para o seu país e fique pro resto da sua vida sozinho até que finalmente a morte venha te fazer companhia.
Os olhos do homem carregavam uma tristeza descomunal por conta daquelas palavras duras e cruéis,porém merecidas.
— Nunca mais me procure de novo. Você morreu pra mim!
Sua última fala veio acompanhada com todo ódio que havia dentro daquele pequeno corpo, mesmo grande parte daquele ódio não ser totalmente por ele, ele absorveu.
O Pai de Melanie ficou ali parado no corredor por mais alguns minutos enquanto chorava, porém ele resolveu atender o pedido de sua filha e se retirou dali.
Já dentro daquele apartamento o mundo de Melanie desabou novamente.
Seu corpo inteiro tremia muito, e seu choro era tão dolorido que seus pulmões doíam em busca de um pouco de ar. Novamente ela se encontrava no chão, derrotada e solitária, se agarrando a única coisa que lhe restou. Ela mesma.
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𝐿𝑜𝑣𝑒 𝑤𝑜𝑟𝑑𝑠 - 𝑁𝑎𝑛𝑎𝑚𝑖 𝐾𝑒𝑛𝑡𝑜
FanfictionMelanie é uma universitária,estudante de letras e apaixonada por livros eróticos. em um belo dia em seu trabalho ela conehce Nanami, seu escritor favorito, e ao descobrir que precisa de um livro inédito para um trabalho na faculdade, ela não pensa d...