capítulo 5

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O mundo parecia estar a meu favor, porque o sol brilhou mesmo na manhã seguinte. Eu não conseguia me livrar da sensação de ter sido traída por minha mãe, mas pelo menos havia o trabalho para me manter ocupada. Apesar de ser meu dia de folga, apareci para o serviço no rancho. Se eu estivesse trabalhando, não pensaria na minha atual falta de teto. Quando você está limpando esterco, é difícil se concentrar em outra coisa que não seja na vontade de vomitar.

Além do mais, agora que eu tinha invadido o barracão abandonado, não precisava andar durante meia hora para chegar ao trabalho e depois voltar para casa a pé, o que era um ponto
positivo.

— Mas o que você acha que está fazendo? —  rugiu uma voz rouca quando eu me sentei nos estábulos e comecei a escovar Dottie, a égua mais bonita que já vi na vida. Eu e Dottie tínhamos dividido uma maçã havia pouco tempo, e, depois disso, passamos a bater um papo, porque minha vida tinha chegado ao ponto em que eu conversava com animais para me sentir menos sozinha. Que barato.

Na verdade, animais eram muito mais legais que seres humanos, então minha nova amizade com Dottie me parecia uma grande vitória.

—  Dei um pulo aqui pra ajudar hoje —  respondi para um Sasuke emburradíssimo, parado na porta.

Eu me perguntei se ele sabia o que era um sorriso... De nós dois, ele com certeza era o que mais tinha motivos para sorrir, e, mesmo assim, eu ainda conseguia encontrar motivos suficientes para fazer isso.

—  Você não está na escala —  reclamou ele.

—  Eu sei. Mas estava passando por aqui.

—  Bem, então vai passar em outro lugar.

—  Que diferença faz? Os caras não escovam a Dottie nem os outros cavalos direito. Você devia ficar no mínimo feliz pela minha ajuda.

Sasuke ergueu as sobrancelhas.

—  Ninguém vai pagar você por isso.

—  Eu não bati cartão. Sei como empregos funcionam.

—  Parece que não, já que veio trabalhar no dia de folga.

Parei de escovar Dottie e deixei as mãos caírem no colo enquanto eu encarava Sasuke.

—  Por que você está sempre irritado comigo?

—  Por que você faz idiotices que me deixam irritado? -—  rebateu ele.

Seu cabelo estava despenteado e completamente descontrolado enquanto ele me encarava com os braços cruzados sobre o corpo musculoso. Se os bíceps dele pudessem
acenar, provavelmente me dariam um safanão.

-—  É só me ignorar -—  sugeri. —- Não estou atrapalhando ninguém, e a Dottie gosta da minha companhia.

-— A Dottie é uma égua. Ela não tem capacidade de gostar da companhia de ninguém.

-—  É meio besta achar que ela não tem sentimentos só porque é uma égua. Quando foi a última vez que você perguntou como ela estava se sentindo?

-—  Pelo amor de... —- murmurou ele, antes de passar uma das mãos pelo cabelo. -—  Você não pode ficar aqui no rancho se não estiver trabalhando. Isso se chama invasão de propriedade. É
contra a lei.

-—  Ah, é? Você vai chamar o delegado Minato para me prender por escovar a Dottie?

-—  Não testa minha paciência, Sakura - disse ele com os dentes trincados. -—  Você está tentando me azucrinar ou isso é um talento natural?

—- Tão natural quanto respirar.

Ele resmungou mais um pouco e esfregou o dedão sob o olho esquerdo.

-—  Se eu ficar sabendo que você atrapalhou alguém, é rua. E não estou falando só por hoje. É rua mesmo. Está demitida. Entendeu?

-—  Positivo e operante, capitão.

-—  Para com o sarcasmo.

—- Ele também é tão natural pra mim quanto respirar.

Antes que Sasuke pudesse soltar os cachorros em cima de mim, uma mulher entrou nos estábulos e o encarou.

-—  Vamos, Sasuke? Tenho pouco tempo de almoço pra gente... Você sabe.

Ela me viu e afastou o olhar, ficando ligeiramente corada. Ah, pode ter certeza, meu bem, todo mundo sabe.
Se eu ganhasse um dólar por cada mulher que vi dar mole para Sasuke nos últimos dias, não precisaria nem trabalhar no rancho. Eu seria rica nível Kylie Jenner. Provavelmente
conseguiria montar uma paleta inteira de sombras só com a cor dos olhos das garotas que cruzaram o caminho dele e acabaram em seu escritório.
Verde-esmeralda. Azul-madrugada. Preto-sombra.

Sasuke me fitou como se quisesse continuar reclamando, mas sua vontade de levar a garota para seu covil era maior do que a de ficar me enchendo o saco. Fiquei feliz sozinha quando ele foi embora. Eu e Dottie tínhamos muito o que conversar.

Um amor desastroso ( versão Sasusaku)Onde histórias criam vida. Descubra agora