capítulo 4

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                         Sakura

Cada centímetro do meu corpo doía, e, quando eu dizia cada centímetro, queria dizer literalmente cada centímetro mesmo. Do alto da cabeça aos dedos dos pés. Antes de passar um dia trabalhando no rancho, eu não tinha ideia de que os dedos dos pés podiam ficar doloridos.

Quando a semana chegou ao fim, eu
tinha certeza de que meu corpo iria se rebelar contra qualquer forma de movimento. Mas segui firme, caindo no sono por volta de meia-noite e acordando antes do nascer do sol para ir andando até o rancho.

Sasuke também não estava pegando mais leve. Estava mais do que claro que ele queria me fazer desistir, e, para falar a verdade, eu não entendia o motivo. Não podia ser só por causa do flagra que eu dei, porque, se fosse, ele seria o homem mais mesquinho
da face da Terra.

Eu tinha certeza de que toda aquela raiva e irritação tinham um motivo mais sério. Só não fazia ideia de qual seria. Mas a verdade era que eu não me importava o suficiente para tentar
descobrir. Minha única preocupação era fazer meu trabalho bem-feito. Ele não poderia se livrar de mim se eu não desse motivos para isso.

Depois de voltar andando ao fim de outro dia de trabalho exaustivo, encontrei a casa imunda. Mamãe ignorava as tarefas que costumavam ser minhas, e, desde que comecei a trabalhar, muitas delas acabavam ficando por fazer. A pia estava cheia de louça, havia uma pilha de roupas para lavar e guimbas de cigarro espalhadas por tudo quanto era canto, jogadas como se as pessoas que moravam ali nunca tivessem ouvido falar de
cinzeiros. Também tinha latas vazias de cerveja pela casa inteira.

Mamãe estava sentada no sofá,
assistindo à TV. Na noite passada, ela havia caído no sono ali, e fiquei me perguntando se ela não estava naquela posição desde então.

-— Já estava na hora de você aparecer -— comentou ela. —- O Danzo disse que você precisa limpar a casa antes que ele chegue.

Ela estava com um cigarro na boca, e a visão fez meuestômago se revirar.

-— Mamãe, a gente combinou que você ia parar de fumar por causa do bebê.

-— Eu vou parar. Estou diminuindo. Não começa a me julgar.

-— Não estou julgando. Só quero que você se cuide. -— Coisa que ela não estava fazendo, é claro. Mamãe fumava um maço por dia. Era bem improvável que estivesse diminuindo.

-— Eu estou me cuidando. Além do mais, eu fumei que nem uma chaminé quando estava grávida de você. E deu tudo certo.

-— Poxa... valeu, mamãe - falei, revirando os olhos.

Arregacei as mangas e fui para a cozinha lavar a louça. Era irritante eu ter que limpar a casa quando não era nem eu que fazia a bagunça, mas eu não estava a fim de ver Danzo irritado.

Era melhor limpar tudo e ficar quieta. Cinderela tinha duas irmãs postiças más e uma madrasta má; eu só tinha um padrasto mau e uma mãe desinteressada. Podia ser bem pior.

Depois que terminei de lavar a louça, joguei parte da roupa na máquina de lavar e voltei para a cozinha.

Abri a geladeira e vi que não tinha comida. Parecia que, se eu não fosse ao mercado fazer compras, ninguém iria.

Danzo com certeza comia na rua,
mas mamãe quase não saía de casa. Se não houvesse comida na geladeira, ela não se alimentava, o que era um problema. Especialmente quando ela devia estar comendo por dois.

-— Mamãe, você jantou?

-— O Danzo disse que ia trazer comida chinesa.

Olhei para o relógio do micro-ondas. Já passava das dez. Do jeito que Danzo era, podia levar horas para voltar. Não dava para prever quando ele traria comida para mamãe.

Um amor desastroso ( versão Sasusaku)Onde histórias criam vida. Descubra agora