Joo Jaekyung descia da estação de metrô, caminhando até sua antiga moradia. À medida que se aproximava, sombras de memórias sombrias e sentimentos pungentes começavam a envolver sua mente.
Naquelas casas ostensivas, viviam famílias como a sua, representações perfeitas de uma respeitável fachada social para o venerável público. Contudo, quando as portas se fechavam, o espetáculo dava lugar ao drama real, revelando famílias despedaçadas, desfiguradas de seus roteiros primorosamente encenados.
Cônjuges, ligados por laços ancestrais, herança de alianças antigas, promessas feitas não por amor, mas por dever. Em seu ninho, onde deveriam reinar a confiança e a cumplicidade, os homens se entregam ao desvario com suas amantes, sujando o lençol que deveria ser sagrado.
Os alfas da sociedade buscam nas sombras o alívio de suas inquietações. Após uma reunião vitoriosa, desviam-se para o canto escuro da vaidade e, com um suspiro, entregam-se à sedução da cocaína, acreditando que apenas assim podem domar os demônios que os consomem.
A cem metros do casarão, já conseguia divisar a figura do pai, escancarando a porta para a amante, a mesma de sempre, desde que ele ainda era um garoto. Agora, à frente do imponente casarão, o jovem não se atrevia a usar a entrada principal; sabia que ali o perigo espreitava. Conhecia o peso daquela porta, era muito pesada ao ponto de chamar atenção dos amantes.
Contornou o vasto jardim, escondendo-se nas sombras projetadas pela longa fachada cinzenta, aquela que chamava de casa. De um salto, transpassou a muralha que cercava o terreno, já familiarizado com cada centímetro daquele espaço proibido. O jovem colocava luvas,limpando qualquer rastro digital deixado por ele. Aproximou-se da porta dos fundos, sempre deixada destrancada pela empregada que, sem saber, lhe garantia um refúgio seguro.
Tudo aquilo lhe parecia insano, como uma peça mal escrita pela própria vida. As lembranças de seu pai se atropelavam na sua mente, trazendo à tona um misto de mágoa e desesperança, sentimentos que apertavam seu punho fechado. Silencioso, quase felino, o jovem avançou até a vasta biblioteca do pai, onde livros antigos, testemunhas de três gerações, forravam as estantes. Cada volume era um guardião, ocultando entre as páginas segredos de defesa, artefatos destinados à preservação da honra.
Foi então que o jovem encontrou o que procurava. Ali, entre as folhas de um livro vermelho, repousava uma adaga antiga, herança do bisavô japonês.
Estudando aquela adaga letal, Joo Jaekyung começou a ouvir murmúrios que se infiltravam em seus ouvidos, vozes etéreas que não eram suas, mas pareciam emergir de um abismo primitivo, um inconsciente intocado e selvagem. Essas vozes vibravam com uma energia insana, distorcendo a realidade ao seu redor, arrastando-o para uma espiral alucinante onde o delírio e a loucura se misturavam num turbilhão de caos. Elas insinuavam, com uma frieza calculada, que ele deveria cortar a artéria carótida e veia jugular. Que esse ato seria o primeiro passo para sua libertação. Diziam que, para matar seu antigo eu, para se ver livre do jugo paterno, era preciso um sacrifício. A morte, sibilavam as vozes, não seria um ato de ódio, mas de amor. Um amor doentio e distorcido, que justificava a traição, que transformava o sangue em laços mais fortes do que qualquer vínculo de família. Tudo seria por amor, tudo seria pela libertação.
Subindo cada degrau, ele já conseguia ouvir os amantes entregues ao prazer desenfreado, as palavras de amor sussurradas entre gemidos e a cama que rangia a cada estocada, ecoando no silêncio da casa vazia. Naquele momento, o mundo externo desaparecia para eles, envoltos na ilusão de que o prazer era eterno e inviolável.
A porta entreaberta não escondia nada. Ele observava, imóvel, enquanto o quarto minimalista e cinza se revelava em toda sua frieza desordenada: um frasco de Viagra derramado na mesa de cabeceira, um notebook caído no chão, contratos espalhados pelo piso de madeira, tudo lembrando que, ali, o amor era negociado, não sentido.
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Sob o controle de Joo Jaekyung.
FanfictionKim Dan e Joo Jaekyung eram amigos inseparáveis desde a infância, seus dias repletos de aventuras e na pequena cidade de Alveria. Aos dez anos, Kim Dan era um garoto de coração puro e muito doce, enquanto Joo Jaekyung, aos doze, começava a sentir as...