Capítulo 5

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William

Essa garota é muito ousada e não consigo decidir por mim mesmo se esse apelido me incomoda. Parece meio charmoso, no entanto. Meu pulso subiu ao revê-la como sobrinha que tive de esconder minha surpresa com uma saudação formal ao dar de frente com ela no jantar. Ela me beijou. Confesso que a lembrança de seus lábios em minha boca, me acende um desejo incomum. E agora, não nego, uma forte frustração está se apossando de mim.

Que peça monstruosa a vida está querendo me pregar colocando justamente a filha de Edward no meu caminho?

— Vou dar um jeito de trazer suas coisas para cá. — Mudo de assunto fazendo o papel de tio obstinado.

Ela assentiu, brincando com o colar em seu pescoço e eu não consegui tirar os olhos dela. Está ainda mais bonita que da última vez. E poderia dizer que usa um pouco de maquiagem. É impressão minha, ou ela se embonecou um pouco? Não sei. Estou mais abismado que ela, isso não é um bom sinal.

— Você vai me dizer onde fica seu quarto, sim ou não? — Ela questiona, encarando-me com seus lindos olhos verdes.

É claro que eu ia responder, porém nesse exato minuto, ouvimos uma discussão vinda do andar debaixo. Ed e Margareth, só faltam se esbofetear. Desço discretamente as escadas junto de Amélia atrás de mim.

— Eu devia queimar suas bolas! — ela disse furiosa me fazendo arregalar os olhos pelo o que ouvi — Nós acabamos de chegar!

— E o que você quer que eu faça? — Edward gritou consternado — Eu não podia prever que o jornal ia mandar essa mensagem!

Ao chegar na soleira da escadaria, limpei a garganta vendo os dois nos olharem. A empregada ao lado do piano lançou-me um olhar desconfortável.

— Ah, que bom que você apareceu. Esse é o marido com quem me casei. — Soltou Margaret com ironia.

Ed, parecendo cozido de raiva pela colocação, não conseguiu dizer nada. Amélia, acuada pela vergonha, baixa a cabeça.

— Desculpa, mas o que aconteceu? — perguntei. Não é da minha conta, só quero ao menos melhorar a situação.

— Infelizmente, nossas férias acabaram! — Edward praguejou fazendo eco na sala — Eu terei que voltar para cobrir um idiota.

— Tudo bem, eu acho que...

— Não está tudo bem! — interrompe ela explosiva — Eu cancelei meu trabalho, as artes todas que precisava fazer para descansar um pouco e agora, sou obrigada a voltar para casa com o rabo entre as pernas porque meu querido marido é um legítimo irresponsável!

— Vocês podem parar de gritar? O que os vizinhos vão dizer? — Amélia intervém.

— Eu não me importo! E se você quer ficar aqui, aproveite, porque não me resta outra coisa senão voltar.

— Mas, do que você está falando, mulher? — Brada Ed de maneira estúpida.

As coisas estão tomando um rumo imprevisto, e começo a me arrepender de ter vindo a essa casa.

— Pessoal, eu sei que vocês estão chateados, mas deve haver alguma maneira de resolver. — A tentativa de contemporizar para melhorar a situação, não resolve nada.

— Ah claro, outro esperançoso — Margareth revira os olhos e volta-se para Ed indignada — Se nós não podemos ficar aqui, ao menos tenha a decência de deixar sua filha sair um pouco!

Ela deixou a sala, indo para o exterior e eles continuaram a discutir. Amélia foi atrás e para minha surpresa, depois de uns minutos, Edward apareceu propondo de eu ficar com ela no fim de semana.

Não é possível que os dois querem me meter nessa encrenca dos diabos!

Para não ser descortês, acatei o pedido intrigado pela tamanha confiança dele. Vou ficar a semana aqui, em respeito a Darcy e as resoluções que precisam ser tomadas, mas virar babá de uma garota, com idade para ser minha filha é o que menos esperei.

— Eu sei que você está chateado —, vou com ele me distanciando de Margareth. Ela entra no carro dando diversas recomendações para a garota —, mas deixe ela decidir.

— Ela só tem dezessete anos. E eu sei o que é melhor para ela. Escute — falou, baixo com expressão séria — Eu preciso resolver isso. Margaret tem chiliques por qualquer coisa. É melhor ela ficar para descansar um pouco. Virei buscá-la na segunda-feira.

— Você não pode estar falando sério —, eu digo, mais alto do que esperei. Olhando para os lados começo a me aborrecer — Qual é Ed? Você está querendo reparar todas as brigas do passado me entregando sua filha para eu cuidar?

— É claro que não. E ai de você, se encostar um dedo nela — Aponta o indicador no meu peito cheio de ameaça. Franzi o cenho.

— Está me testando?

— Mas é lógico que não. Ah por favor, William, não exagere. Isso já faz parte do passado. Tivemos tempo suficiente para digerir tudo, não acha? Você é pai entende do que estou falando. Cuide dela pra mim são apenas dois dias, eu prometo.

— Ed?! — A esposa grita dentro do carro.

— Eu tenho que ir. Ligarei mais tarde para vocês. — Ele deu-me as costas sem esperar eu responder. E não ia sair coisa boa só servindo para piorar tudo.

Merda!

Ao entrar no carro, bateu a porta com força, não sem antes dar um beijo na testa da filha e falar de maneira tão discreta que não ouvi. Ela acenou para eles. Quando o carro ganhou a estrada, reparei seu rosto pálido e os olhos brilhantes pelas lágrimas.

— Você está bem? — pergunto atencioso ao me dirigir até ela. Amélia apenas balançou a cabeça em concordância. Indo na minha frente, entrou na casa e ao ganhar a sala, subiu correndo as escadas que ouvi apenas o estrondo da porta bater lá de cima.

Sentei no sofá, passando as mãos pelo rosto.

— Parece que começamos bem. — dou um bufo, irritado. Meu celular vibra dentro do bolso. Tomei o aparelho vendo o número de Anne, minha secretária.

— A quanto tempo senhor William? — Ouço a voz do outro lado cheia de cobranças. Eu é que devo fazer isso. Sou seu chefe, me metendo numa encrenca das bravas ao ter comido essa mulher.

— Desculpe querida, eu ainda estou acertando os ponteiros dos problemas com alguns investidores — Eu menti a ela, evitando entrar em detalhes sobre minha vida pessoal, um tanto para fugir dela e por querer descansar ao menos alguns dias.

— Não é possível, não vamos passar ao menos o fim de semana juntos? Seria mais fácil mandar um representante, não acha?

— Eu também pensei e sim, seria, se não exigisse minha presença. Mas logo estarei de volta. Tudo bem? Alô? — Ouvi somente a chamada caindo. Ela desligou. Sempre é assim, quando se sente contrariada.

Que seja. Eu estou de saco cheio com tanta coisa pra resolver.

À medida que a hora avança, me preocupo com Amélia que não desceu para se alimentar. Edith, a empregada, já a havia chamado. Depois da cena que vi, a preocupação cresce ao perceber que ela está numa família desajustada. É nítido que eles estão jogando-a para escanteio para resolver suas tretas. Talvez, seja melhor para ela esses dias aqui.

Subi as escadas. Não quero ser invasivo, podendo até mesmo ser mal interpretado, porém tenho de saber como ela está.

— Amélia? — Chamei, sem ouvir qualquer ruído e a encontrei saindo do quarto de Darcy com o cachorro — O jantar está servido. Você quer comer alguma coisa?

— O que tem pra comer, anjo? — Ela encara -me com ousadia. Achei que estaria triste depois da discussão e do contrário, aparenta estar calma com um sorriso divertido nos lábios.

— Acho que você deve me chamar de tio. Eu não sei como ainda me sinto com esse rótulo, mas é assim que os jovens falam — tento soar amigável — Bom, Edith fez uma bela lasanha para o jantar. Acho melhor você descer, assim pode decidir se não estiver do seu acordo e quer comer outra coisa.

Não esperei resposta descendo as escadas. Ela veio rapidamente e nos sentamos à mesa.

Proibida para o Magnata/ Degustação AmazonWhere stories live. Discover now