Chapter XI

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Narrador

A noite se apossava lentamente da cidadezinha em que era
localizada o convento e junto a ela, o frio fazia companhia,
trazendo consigo uma sensação ruim, sensação de dor e
injustiça.

Parece que algo sobrenatural ocorre fazendo com que o
clima, às sensações e às ações se encaixem perfeitamente
como num quebra-cabeças, sejam elas boas ou más.
Quando o clima está quente e aconchegante, trás a tona
uma sensação de felicidadee liberdade.

Quando está frio como naquele momento, trás os adjetivos já ditos acima, mas temperado com uma sensação a mais de solidāo e abandono.

Há quem diga que o frio é melhor que o calor e vice e versa,
mas se tem algo dê que não podemos negar, é que o clima
se encaixa perfeitamente com o momento ali sendo vivenciado.

E bom, naquela noite já mais escura, às ações dos cidadãos da pequena cidade faziam jus ao frio pouco gélido ali presente.

Num pequeno círculo, entre vozes exaltadas e expressões
de ódio, nojo e desprezo se encontravam duas moças
ruivas com suas faces um tanto sujas de um fino barro que
se formou por conta da quantidade de poeira que se acumulou em seus rostose pelas diversas lágrimas
derramadas, essas que saíam sem permissão pelo susto e
medo do que viria a seguir, fazendo com que seus olhos
ardessem e inchassem cada vez mais, tomando por conta
própria sua coloração avermelhada.

Para quem vive na atualidade desse século XXI onde existe
a liberdade de expressão pregada quase que completamente, com raiva facilmente pensaria que
aquelas pessoas se intitularam Jesus Cristo por decisão
própria e tomaramo poder de julgar as pobres moças.

Porém, como conta a história, sabemos que um poder
maior por trás tinha às rédeas da situação e quem melhor
que o povo para executar suas regras horrifícas estabelecidas tão abertamente? Não tỉnha.

Rita sempre se sentira mal por fazer parte daquela "comunidade", pode-se assim dizer. Mas naquelas ocasiões, a ânsia de vômito acompanhada pela vontade
quase incontrolável de correr tomavam conta da sua carne
e alma. Sua alma tão livre e aberta que não acompanhava
os costumes e pensamentos arcaicos, diga-se de passagem preconceituosos da época, sentia-se enjaulada por não poder expressar seus pensamentos e se opor contra as ordens da igreja.

Igreja essa da qual ela ocupava um cargo extremamente
importante, do qual ela sempre executou com tamanha
perfeição, desde o comecinho quando foi nomeada Madre
Superiora até aquele presente momento.

Rita imaginava sua Maya ali no lugar das duas garotas.
Sua Maya tão pequena, inocente e frágil. Não que às
moças não fossem também, porém, estamos falando de
Maya agora, a pessoa que tomava conta dos principais
pensamentos da madre, eram situações completamente
diferentes.

Não que a madre não sentisse pena pelas garotas,
obviamente que sim. Mas seu coração doía de pensar na
sua pequena noviça no lugar delas ou passando por uma
situação pior.

Já havia presenciado situações parecidas como a daquele
momento. Situações em que moças morriam por terem conhecimento em chás medicinais, essas eram taxadas como bruxas ou feiticeiras.

Situações em que moças morriam por simplesmente terem
tido a "má sorte" de nascerem ruivas e que, por ironia do
destino, também morriam por serem taxadas como bruxas.
Caso esse que eram das meninas citadas a cima também.
E a situação que Rita jamais admitiria em voz alta, mas
que partia seu coração em incontáveis caquinhos, eram as
quais moças que se apaixonavam por outras moças morriam pelo simples fato de não poderem se amar. A
mesma já havia presenciado essas situações diversas
vezes, e em todas elas precisou apoiar as tomadas de
decisões dos padres ou seja lá qualquer homem com um
cargo importante dentro da igreja.

Em todas às vezes sentia sua bile subir e o mais despido gosto do amargo tomar conta das suas papilas gustativas. Tudo sempre ia contra os seus sentimentos e o que ela considerava certo.

Na maioria das vezes chegava a ser sufocante ter nascido
mulher, não que ela não gostasse de ser uma, muito pelo
contrário. Mas, o problema era ter nascido mulher naquela
época, talvez se fosse em hoje em dia, o perfume que ela
sempre daria um jeito de ter impregnado em si era o perfume que jazia em um lugar específico que se encontrava dentre os lábios íntimos de outra mulher,
aquele que algumas pessoas dizem ter um cheiro agridoce
e outras não conseguem encontrar uma definição ou
compará-lo com algo parecido.

Mas que ela sempre daria um jeito, ainda mais se fosse o da sua Maya. Eram diversas situações que na grande maioria mulheres eram o alvo de ataques. Todas ela engoliu calada pois seu passado ainda a atormentava e tinha plena consciência de que estava muito longe das mulheres conseguirem algum tipo de direito e lugar de fala. Mas...

Como fala aquela frase clichê que não tenho conhecimento
agora de quem a citou: Sempre existe um "mas".

Mas sua vontade da continuar acomodada em seu cargo e
em seus segredos estavam se esvaindo por entre seus
dedos sem que ela conseguisse segurar desde que ela
chegou. Maya mesmo sem saber estava tomando o
controle do controle que um dia Rita já teve.

Estava nítido pela morena que aquilo tinha passado da fase
do desejo apenas carnal, seé que em algum momento teve
essa fase. Rita havia se apaixonado por ela, havia se
apaixonado pela segunda mulher em toda a sua vida até
aquele presente momento.

O leão há muito adormecido estava acordando mais faminto e carente do amor que apenas uma mulher sabia dar do que antes.

Rita não sabia como, mas faria durar a "relação" delas o
máximo que conseguisse, talvez não da forma que se
espera num livro ou filme de romance clichê de hoje em
dia, mas seria do jeito dela. Se tivesse que morrer para
protegê-la, ela morreria. Não haveria mais o seu pai lhe
poupando a vida. Haveria apenas a mais crua paixãoe
adoração de Rita pela sua pequena Maya.

Ela estava disposta a isso. Porém, ainda naquele momento, a madre deu graças por estar longe com a sua noviça quando recebeu a informação naquela noite de que às duas jovens seriam executadas.

Tinha uma certa noção do que Maya poderia pensar e até
como poderia reagir. Ela com certeza assemelharia a
situação das duas com a das moças, mesmo que fossem
por motivos distintos. Rita não queria isso, não naquela
hora e nem nunca, mesmo sabendo que aquele momento
poderia chegar.

Ela queria apenas a sua Maya consigo e aproveitar do que
podiam fazer, sendo naquela viagem ou não.

Até porquê Rita sabia, um amor quando bem amado, se
torna gritante e ao chegar nesse patamar, a tarefa mais
difícil é escondêlo dos olhares julgadores e bocas acusadoras, as duas se amando ou não.

Ela sabia por experiência própria.

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⏰ Última atualização: Aug 08 ⏰

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