Chapter II

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Acordei pela manhã no susto e com a mesma sensação de estar sendo observada e após correr os olhos pelo quarto, entendio porquê. A Madre Superiora estava em pé parada atrás da porta que estava fechada me olhando com os olhos mais escuros que antes e com uma expressão mais brava ainda, fazendo-me engolir em seco. Será que passou da hora de acordar? Me perguntei.

Olhei para a janela e era perceptível que a madrugada escura ainda reinava naquele momento. Não parecia ter me atrasado, pelo que pode constar ao ter a visão do lado de fora, não passava das quatro horas da manhã. Porque ela estaria aqui? Me questionei mais uma vez sentindo um certo frio na barriga se apossar de mim.

Com os braços cruzados abaixo do peito e com uma das sobrancelhas arqueadas ela resolveu se pronunciar:

- Bom dia, irmā. Pensei que se atrasaria no seu primeiro dia. Vejo que estava enganada. — Sua sobrancelha continuava aquerda, mas pendeu sua cabeça para o lado com olhos analisadores.

Será que é bom dizer havia despertado no susto? Bom, ela provavelmente percebeu mas preferi manter esse pequeno detalhe apenas para mim.

Maya: - Bom dia, Madre. Obrigada pela observaçāo.— Agradeci. Minha voz saiu um tanto falhada, demonstrando meu nervosismo. —  Estou levando a sério esse compromisso que tomei para mim.

Ela continuava me observando com aqueles olhos negros.

- Ótimo. Levante-se e vista seus paramentos. Vamos tomar café e de lá vamos conversar para tentar descobrir o chamado de Deus para a sua vida. — Disse me olhando pela última vez antes de se virar e sair.

Não imaginava que ela tinha esse costume de visitar o quarto das noviças no meio da madrugada. Deveria ser
porque eu havia acabado de entrar ali e ela estava querendo realmente saber se eu levaria a sério minha nova missão. Me contentando com esse pensamento, saí da cama e vesti minhas vestimentas com pressa, não queria me atrasar.

[...]

Depois do café e rezarmos por quase uma hora na capela particular das freiras que me passaram que eram uma das regras rotineiras do local, seguimos para o jardim onde haviam várias irmãs caminhando e conversando seus
assuntos com a maior descrição possível, indicando que era necessário manter a paz mesmo nesses momentos de descontração.

- Então, irmā. Me conte exatamente o porquê da sua vontade de dedicar sua vida a este lugar, aos irmāos e a
Deus. — Fui tirada das minhas observações pela voz rouca da mulher que caminhava ao meu lado com as mãos cruzadas em suas costas.

Maya: - Eu não me adaptava com as coisas do mundo lá fora. —  Respondi torcendo um pouco os labios. — Minhas amigas que resolveram conhecer as maravilhas carnais, como elas mesmo dizem antes do casamento me contavam como é bom se envolver com os rapazes e até homens mais velhos. O fogo que elas disseram sentir dentro delas, para mim nunca se ascendeu. — Confessei com a voz mais baixa e um pouco acanhada. — Eu nunca senti vontade e interesse nisso. As maquiagens que eu via às moças e mulheres usando em nosso povoado sempre soaram como algo imoral e errado para mim. Nada me prendia ou chamava atenção. Cheguei a conclusão de que me tornar freira seria a minha vocação. Aqui eu me sinto a vontade e sinto que fiz a escolha certa. — Respondi por fim soltando um curto suspiro.

Após isso continuamos andando enquanto ela parecia pensar. Eu fui sincera em tudo o que eu falei, ocultando apenas a parte em que estava nervosa e sentindo que algo
me aguardava mais a frente, ainda assim sem saber distinguir se seria bom ou ruim.

- Entendo, irmā Maya. - Se pronunciou quebrando o silêncio.- Comigo foi meio parecido. E para o que você acha que Deus a chamou? Sente algo dentro de si que possa lhe dar alguma idéia ou direção? - Perguntou-me cessando os
passos e parando de frente para mim me encarando novamente com a expressão fechada.

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