SK8ER BOI | Augusto Akio

1. Escola é Idiota

Eu odeio as pessoas.

Elas são falsas e pretensiosas, tiram conclusões sobre tudo, e não importa o quanto tentem, eventualmente, sempre vão te decepcionar. E sejamos sinceros, eu não poderia me importar menos se elas gostam de mim ou não. Mas quando agarro o garoto pela gola da sua camiseta do Capitão América e o empurro contra os armários, a dor no meu peito quase me faz questionar minha aversão por elas.

Quase.

Porque, no fundo, eu sei que não importa o que eu faça, elas sempre vão encontrar uma forma de me desapontar. E então, me vejo aqui, mais uma vez, agindo conforme as expectativas.

Mas, por mais que eu queira acreditar que estou no controle, que sou eu quem dita as regras, a verdade é que essa raiva que eu sinto, essa necessidade de me impor, é só a resposta a um mundo que nunca me deu escolha. É uma defesa. Uma armadura que eu uso para me proteger da realidade que insiste em me empurrar para baixo, mas que também me lembra, a cada instante, do quão longe estou de ser como os outros.

"Entrega", eu rosno em seu ouvido, apalpando seus bolsos com minha mão livre.

O que posso dizer? O garoto mereceu. Ele estava espiando de trás de um lixo quando o vi pela primeira vez. Eu estava agachado, riscando a lateral do carro do Diretor Anderson durante a terceira aula, quando o flash da câmera dele disparou. Eu tinha sido pego em flagrante. Garotos como ele não costumam andar com caras como eu. Eles têm o hábito de me dedurar. Sorte a minha eu ter esperado por ele do lado de fora da sala do diretor.

O garoto nunca perguntou por que eu fiz isso. Se tivesse perguntado, eu teria dito que ouvi o Diretor Anderson me chamando de vagabundo esta manhã. Mas duvido que ele se importasse. Dizer a verdade não muda nada. Nunca mudou.

"Por favor, eu... eu não tenho mais a foto, eu juro. O Lucas me pegou antes e me fez deletá-la." Seus olhos percorrem o corredor, procurando por ajuda.

Não é que eu não acredite nele, isso realmente parece algo que o Lucas faria — mas eu não posso simplesmente deixá-lo ir. A hierarquia social do colégio Monte Alegre me rotulou como um punk no segundo em que me mudei para a cidade. Quer eu goste ou não, eu tenho uma imagem a manter.

Não vou mentir. Tirando as suspensões ocasionais, ser o bad boy residente de Monte Alegre tem suas vantagens. Não me lembro da última vez que paguei pelo meu próprio almoço, e ninguém jamais tentou me impedir de andar de skate pelos corredores entre as aulas. A menos que você conte o semestre passado, quando troquei um baseado com a monitora do corredor em troca do silêncio dela.

Mas enfim. Ninguém quer mexer com o "japinha" raivoso de camisetas largas; jeans frouxo, propositalmente baixo nos quadris, com rasgos estratégicos que fiz por conta própria — ou que foram o resultado de anos de uso — e tênis de skate surrados, geralmente com os cadarços desamarrados. Exceto por esse garoto, aparentemente.

Eu o empurro com mais força contra a parede, amassando a camisa dele entre meus nós dos dedos.

A princípio, o garoto tenta revidar com um soco fraco no meu braço e um chute acima do meu joelho direito. Mas ele desiste rápido, sabendo que não tem chance. Ele não faz ideia de que, se tivesse chutado só um pouco mais forte, eu teria caído de dor. Meu joelho é meu calcanhar de Aquiles, feito mais de trauma do que de osso.

Eu faço ele esvaziar os bolsos. Eu nunca machucaria o garoto de verdade, mas o medo nos olhos dele me diz que ele não sabe disso.

"Você está brincando, né?"

Eu olho por cima do ombro. O Sr. Rodrigues, o orientador, está na porta do escritório dele, seus Nikes brancos brilhando sob as luzes fluorescentes do corredor. Se ele não tivesse falado, eu o teria perdido completamente de vista — sua camisa bege de colarinho e calças de veludo cotelê marrons se misturam perfeitamente com as paredes da escola.