SK8ER BOI | Augusto Akio

5. Mix de Preguiça e Ansiedade

Chegou o primeiro dia de aula depois das férias do meio do ano, e cá tô eu, arrastando meu corpo meio zumbi pelos corredores da escola. Sabe aquele mix de preguiça e ansiedade? Pois é, tô bem assim. Só que, além da preguiça de começar a rotina chata de novo, tem uma coisa diferente me incomodando.

Não dá pra tirar Maria Clara da cabeça.

Desde aquela apresentação de balé, ela tá grudada nos meus pensamentos como chiclete no tênis. E, honestamente, não sei o que pensar sobre isso. Como é que eu, logo eu, que sempre caguei pra esse mundo esnobe, fui ficar tão mexido por causa de uma dancinha?

Acho que o pior é saber que vou ver ela na escola. Tipo, agora ela não é só aquela garota metida que aparecia na pizzaria pra esnobar todo mundo. Agora, ela é a mesma garota que girava no palco como se fosse feita de ar, deixando todo mundo de boca aberta, inclusive eu. E isso me deixa com um nó no estômago.

Tô zanzando pelos corredores, tentando me misturar na galera, quando a vejo de longe. Maria Clara tá lá, conversando com as amigas, rindo, como se o mundo girasse ao redor dela. E, talvez, na cabeça dela, gire mesmo.

Meu primeiro impulso é desviar o olhar, fingir que nem a vi. Mas, mais uma vez, meu corpo não me obedece. Meus olhos ficam presos nela, como se tivessem vida própria. É bizarro, cara. Eu odeio essa sensação, odeio essa falta de controle. Suspiro. Jogo a cabeça lateralmente e olho para ela de um jeito meio descarado.

A garota ainda tá rindo de algo que alguém disse. Não sei se é a forma como a luz do sol bati no cabelo dela, ou o jeito que ela inclina a cabeça enquanto os lábios esticam sobre os dentes, mas meu coração dá um salto. De novo.

É, cara. Eu tinha esperança de não sentir isso outra vez quando a visse. Passei os últimos dias tentando me convencer de que o que senti antes não foi nada além de uma "admiração" não intencional. Só isso. A garota era talentosa, ponto final. Nada mais que isso. Fim de história.

Arfo.

O som da sua risada penetra meus ouvidos. Ela não me vê, claro. Tá ocupada demais, sendo o centro das atenções, como sempre. Mas só de estar no mesmo ambiente que ela, sinto aquela corda invisível apertando meu peito de novo. E, porra, é frustrante. Eu só queria que essa semana fosse normal, que eu pudesse voltar pra minha vidinha simples sem essa complicação toda.

Mas aqui tô eu, com meu coração batendo mais forte do que as batidas de um solo de bateria no meio de um show de rock. É patético, eu sei. Eu, Augusto Akio, o cara que normalmente tem tudo sob controle, agora fico todo desajeitado só por ver uma garota rindo. Deveria ser fácil superar isso. Mas, é, a vida nunca é tão simples assim, né?

Merda, que confusão.

Quando eu entro no auditório, me dou conta de que tá todo mundo meio sem saber o que esperar. O papo rolando pelos corredores era que o Diretor Anderson tinha um "grande anúncio" pra fazer. Sério, parecia até que ele ia revelar a cura do câncer ou merda do tipo, mas, na real, eu não tô dando muita bola.

Minutos mais tarde, tô largado em uma cadeira desconfortável do auditório da escola, tentando não deixar meus olhos fecharem completamente. A iluminação é tão brilhante que sinto que sou um prisioneiro em uma cena de interrogatório de filme noir, enquanto o diretor, o temido Diretor Anderson, ocupa o centro do salão como o vilão de um filme B. Maria Clara não tá à vista, o que é bom... ou ruim, sei lá. Ainda não decidi.

Repentinamente, o cochicho morre quando o Diretor Anderson, todo sério, sobe ao palco, ajeita o microfone e limpa a garganta. Sua voz repercute pelo auditório, exigindo atenção. Ele começa com as boas-vindas de sempre, relembrando os estudantes da importância do exame que se aproxima e da necessidade de se dedicar nos estudos a partir de agora, e blá-blá-blá. Cada palavra dele pesa mais do que deveria.