"Onde você se meteu durante a última aula?"
É Lucas quem quer saber. Eu resmungo. Ele me dá um tapa nas costas, deixando a marca de uma mão com farinha na minha camiseta.
"Provavelmente ele estava se masturbando para alguma foto do Cristiano Ronaldo", Matheus dá uma risada enquanto entra na cozinha com o avental pendurado frouxamente no pescoço. Ele toma um gole de uma garrafa azul antes de acariciá-la sugestivamente, simulando uma punheta. Lucas se dobra de tanto rir.
Eles sempre fazem isso. Piadas obscenas. Embora eu não ache que nenhum dos dois suspeite que eu sou gay — o que eu realmente não sou —, eu cerro os dentes toda vez que deixo passar.
"Cala a boca, cara." Dou um chute na canela do Matheus e depois abaixo a cabeça, embaraçado. "O Rodrigues me pegou."
Nunca fui pego matando aula em todos os meus anos de escola. Sabendo como os caras são, eles nunca vão superar isso.
"O Japinha perdeu o jeito!" Lucas zomba, me dando um mata-leão.
Lucas da Silva Carvalho e eu somos melhores amigos desde que entrei na minha primeira briga na escola. Logo depois de me mudar para Curitiba, um garoto da quinta série achou que seria engraçado fazer uma piada sobre a minha mãe. Antes que ele tivesse a chance de se defender, eu já estava o derrubando no chão, e uma multidão estava se formando ao nosso redor. Lucas foi o único a notar que, embora meus machucados não fossem visíveis como os do outro garoto, eu também estava sofrendo. Ele ficou do meu lado desde então.
Não importa onde ele esteja, Lucas sempre usa AirPods e prefere gritar por cima da música que está tocando em seus ouvidos. Ele tem a pele oliva, cachos pretos bagunçados e os primeiros sinais de um bigode, do qual ele não para de falar. Ele também é assustadoramente alto, o que só torna pior estar em seu mata-leão.
O sonho de Lucas é um dia se tornar um chef famoso e transformar o Vincenzo's, o negócio da família, em um nome reconhecido globalmente. Mesmo que ainda estejamos lutando para entrar no "Top 10 Lugares para Comer em Curitiba" no Tripadvisor.
Ao longo dos anos, a família de Lucas esteve à beira da falência mais vezes do que posso contar. Lucas não deixa isso afetá-lo, mas você pode ver isso na maneira como o resto de sua família anda; com os queixos abaixados nos peitos, os ombros caídos a ponto de prejudicar a saúde.
Quanto ao Matheus, bem... Matheus Oliveira entrou em nossas vidas no primeiro ano do ensino médio com um corte de cabelo raspado, um boné do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense virado para trás — que eu nunca o vi sem —, e uma obsessão doentia pelo Cristiano Ronaldo. Matheus é forte como um boxeador, mas ele é tão silencioso nos pés que consegue se aproximar de qualquer pessoa sem que ela perceba.
Ele sempre nos pressiona, Lucas e eu, para fazer a viagem de intermináveis horas até a capital do Rio Grande do Sul para assistir aos jogos do Grenal — e quando vamos, Lucas sempre nos abandona para pegar garotas na lanchonete, e eu fico com Matheus, que passa o jogo inteiro gritando com os árbitros e discutindo com os caras bêbados nas arquibancadas atrás de nós.
Quando tínhamos quinze anos, a irmã do Matheus contrabandeou um pacote de 24 cervejas Budweiser para nós porque era o que todos os caras da turma dela bebiam. Ele passou a noite toda vomitando no banheiro de baixo, e Lucas e eu temos a obrigação moral de lembrá-lo do episódio deste então.
"O Japinha tá levando um pau, é?" Ele me provoca agora, batendo na bola de massa de pizza à sua frente enquanto Lucas finalmente me libera do seu mata-leão.
"Vou te mostrar o pau." Começo a baixar o cós da calça, me encolhendo ao pensar nas coisas que faço por uma risada fácil.
Os caras cobrem os olhos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
SK8ER BOI | Augusto Akio
Fiksi PenggemarO "bad boy" de Curitiba, Augusto Akio, está reprovando no último ano - graças à sua raiva descontrolada, amigos deliquentes e uma tendência à abandonar os deveres de casa para se dedicar ao skate. Então, quando sua mãe o arrasta para assistir a uma...