Capítulo 26

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Morta.

Pov: Mirelle




Grávida?, pensei quando a segunda rajada de vômito saiu pela minha garganta, o gosto ruim e amargo se fez presente, todo o meu corpo doía. Me inclinei mais ainda para frente enquanto vomitava. Não sabia ao certo que horas era, e nem se tinha alguém acordado.

Só sabia de uma coisa, que eu não estou grávida e sim doente. De um tempo para cá eu dei uma descuidada com a minha saúde, e não era culpa do Noah, não. Longe disso.

Tudo era culpa do desgraçado do meu tio. Faz mais ou menos um mês que ele anda metendo o nariz onde não é chamado, e não adiantava nada. Já tinha mandado dar uma surra nele. Não adiantou. Mandei até dar um tiro, mas o desgraçado se safou. E agora tinha sumido.

Minha mãe jurava de pé junto que não sabia onde ele estava, e é claro que eu não acreditava.

Me levantei e dei descarga. Andei até o espelho e olhei a minha aparência. Querendo ou não isso me afetava. Os meus sonhos tinham voltado e me deixavam doidas. Esses dias eu estou dormindo sozinha, já que quem me fazia companhia era o Noah. Mas agora ele tava com o pai, que tinha uma semana que voltou.

Nesse tempo ele tem agido muito estranho comigo, se oferecia para me ajudar com o trabalho, perguntava se eu estava bem. Se precisava de alguma coisa. Tudo muito suspeito e que me deixava com uma pulga atrás da orelha.

De vez enquanto eu pegava ele falando escondido no celular, cochichando por ai. Fazendo perguntas sobre mim. E se tem uma coisa que eu aprendi desde cedo é não confiar em ninguém, principalmente Homens.

Bom, eu também reparei que ele não estava satisfeito com algumas mudanças. Tipo o Noah fazer karatê. Ele não gostou muito, mas não podia fazer nada por ele. Que insiste em dizer que o filho é muito novo para isso.

A cada justificativa fajuta eu revirava os olhos e fingia que não ouvia. Outra coisa que ele não gostou foi do filho dormir com o cachorro, o que me deixou bastante puta. Afinal Noah era apenas uma criança e gostava de carinho.

Quero só ver como ele vai reagir quando souber que Noah me chama de mãe, provavelmente vai surtar.

Como eu vi que isso incomodava ele, fiz com que o Noah não dormisse mais com o cachorro, ele ficou bastante chateado. Mas entendeu.

Passei uma água no rosto e peguei o remédio. Tomei dois comprimidos. Era para me ajudar a dormir. Toquei na testa, me sentindo um pouco quente.

Era a temperatura mudando, isso não deveria me afetar, mas fazer o que. Cancelei todos os meus planos do dia seguinte. E aproveitaria para dormir, já que Noah e Diego não vão estar em casa amanhã, e que também era folga de Julia.

Me apoiei no mármore frio, isso fez com que correntes elétricas passassem pelo meu corpo, e me dessem calafrios. Me olhei de novo. Não me reconhecia, olheiras, cabelos sem hidratação. Unhas precisando de cuidados.

Mas isso iria mudar, não podia deixar nada me abalar. Depois de hoje, eu vou no salão, e também fazer compras. Preciso me recompor. Agir como uma mulher forte.

Tudo isso amanhã, porque agora eu vou cair na cama. Sai do banheiro em passos lentos. Arrastando os pés. Peguei o controle e ajustei o aquecedor. Me joguei na cama, me enrolei. Não demorou muito para eu pegar no sono.

(...)

Eu estava brincando de esconde esconde com o meu irmão. Ele me procuraria, então corri o máximo que minhas pernas conseguia.

Virei à esquerda no corredor, e vi a porta do escritório do meu papai. Olhei para os lados e não vi ninguém. Com o meu pulmão pegando fogo, por conta da respiração acelerada da adrenalina. Eu fiquei na ponta dos pés e girei a maçaneta.

O escritório do papai era proibido, por isso o Lucian nunca ia me achar aqui, e eu torcia para mais ninguém também.

Por que se isso acontecer, vou ficar de castigo. Olhei mais uma vez para os lados e entrei. Escritório do meu pai tinha cheiro de cigarro. O que não era nem um pouco agradável. Mas o meu papai não fumava. Isso significava que outra pessoa esteve aqui.

Olhei em volta, os armários gigantes, a mesa e os sofás, poltronas. Andei pela sala olhando tudo, as janelas estavam fechadas deixando mais escuro. Dei a volta na mesa e sentei na cadeira do meu pai.

Tinha fotos minhas, do meu irmão, e da minha irmãzinha mais nova. Fiquei fingindo que era uma grande mafiosa e que comandava tudo. O que infelizmente não iria acontecer.

Então ouvi um barulho no corredor. O que era estranho, já que não era para ter ninguém em casa, além de mim, o Lucian as babás e empregadas, sem contar os seguranças.

Senti o meu coração bater forte, pensei que era o Lucian, então desci bem devagar e entrei no armário, ele tinha umas frechas que dava para ver de dentro para fora, mas não de fora para dentro.

Me agachei e fiquei quieta, ouvi a porta se abriu, entrou duas pessoas dando risada. Era um homem e uma mulher. Tapei a boca, tentando não fazer barulho.

Um deles acendeu a luz e. Mamãe. Pensei comigo mesma.

Era ela lá, mas aquele não era o meu pai. E as coisas que eu vi e ouvi, nunca mais saíram da minha mente.

Pelo menos era o que eu pensava. Até porque eu não me lembrava disso, até agora, até esse certo momento.

O momento em que eu estou morrendo. Em que o meu coração bateu bem devagar, a minha respiração é lenta, e que eu sinto algo sendo pressionado em meu rosto. Não me recordava do que a minha mãe fazia escondido do meu pai, de todos. E do quanto eu a odiava.

Não me lembrava disso, até o momento da minha morte. Do meu último suspiro. Eu não sabia. Não desconfiava de nada. E não sentia o ódio.

Até a morte vim tomar a minha alma. Até o fim está próximo. E tudo o barulho que eu ouvia se tornar um silêncio sem fim.

Eu não poderia partir agora, não sem dizer ao garotinho que chorava pedido para eu acordar, o quanto eu o amava, mesmo sendo em tão pouco tempo.

Pode descansar, ovelhinha.passou a mão em meus cabelos.

— Minha monstrinha. — ouvi outra voz.

Mas infelizmente ele me matou, o meu próprio tio, me matou.

Um Coração Perdido ( Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora