Capítulo 36

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Por eles...



Depois da tarde agitada que tivemos, eu e Mirelle dormimos um pouco, e quando acordamos era quase sete horas. Levantamos na pressa, Na verdade, ela levantou. Porque eu continuei deitado enquanto ela tomava banho e ia se arrumar.

Quando ela saiu do banheiro, eu entrei e tomei um banho rápido. Com cuidado para no molhar o curativo nos meus ombros. O que foi meio difícil. Saí do banheiro e me deparei com a Mirelle trocando os lençóis da cama. Que deveria estar sujo depois do sexo que fizemos, umas três vezes.

Devo confessar que estava morto. Ela me cansou. Entrei no closet e peguei uma cueca e uma calça social. Voltei para o banheiro e peguei uma maleta de primeiros socorros.

— Quer ajuda? — olhei pelo espelho e vi Mirelle parada no batente da porta, apenas de roupão, com os braços cruzados. Concordei e ela se aproximou.

Começou a tirar os curativos que tavam, e a limpar o local, ardeu um pouco. Fiquei olhando para a sua concentração através do espelho.

— Me conta mais sobre como foi o seu processo pós transplante. — ela me olhou. — Só se isso não te encômoda, é claro.

— Tudo bem. — respirou fundo. — Nos primeiros meses depois de eu receber o coração foi difícil, todos os dias me olhava no espelho e ficava olhando aquela cicatriz enorme no meu peito. — ficou pensativa. — O meu copo sabia que tinha alguma coisa de estranho, fiquei dias com febre e dores no corpo, vive a base de medicação. As vezes acordava a noite sentindo o coração bater tão forte. Que doía. — abaixou a cabeça de novo. Nunca pensei no sofrimento dela. — Demorei dois meses para voltar a ativa de novo, e foi quando resolvi fazer a plástica. — reparei que sua voz falhou um pouco.

Ficamos em silêncio um pouco, ela tinha passado por tanta coisa, e mesmo assim continuava firme e forte.

— E a tatuagem? — mudei um pouco de assunto, vi um pequeno sorriso em seu rosto, o que me fez pensar que era por um motivo bom.

— Eu fiz em homenagem a pessoa que me doou o coração. — me virei para ela. — Quando eu acordei, me contaram que a mulher que tinha sido a minha doadora tinha acabado de virar mãe. Isso ficou na minha cabeça por meses. — seus olhos encontraram os meus, tinham um brilho diferente, era uma mistura de tristeza com alegria. — Esse coração. — apontou para o lugar onde fica a tatuagem. — É em homenagem a mulher que salvou a minha vida, mesmo sem saber disso. Eu não queria apagar o que tinha vivido, até porque isso me tornou mais forte.

Abriu um sorriso. Algo dentro de mim se aqueceu quando ela disse isso, mesmo sendo uma mulher " fria." Mirelle sabia como demostra amor. Dava para ver no jeito em que tratava o meu filho, pela forma que amava o seu irmão. E como cuidava do Théo. Mirelle era uma mulher maravilhosa. E será uma mãe melhor ainda para o meu filho.

— E você? — sai dos meus pensamentos, ela estava me olhando curiosa. — Como foi depois da morte da Lara.

Vontade de falar sobre isso não existia, mas estávamos abrindo o jogo. Conversando, sendo sinceros.

— Horrível, a gente tinha acabado de se casar. Imagina ver a mulher com quem você planejou todo um futuro, deitada em uma cama de hospital sem vida. — meus ombros caíram e Mirelle ficou triste. — A princípio eu não quis ver o Noah, ainda não tinha caído a ficha que ela estava morta e que eu era pai. — dei uma risada. — Lembro que a Katherine ficou responsável por cuidar do Noah, e então em um belo dia ela me deu um sermão. " Eu perdi o meu bebê que nem sabia que tinha e quando soube que a sua mulher também tava assim, eu me lembrei da dor e mesmo não conhecendo ela, sei que iria querer que você cuidasse bem dele." Foram as palavras dela.

Mirelle me olhou surpresa, ela não sabia que Katherine tinha perdido um bebê. Não que fosse um segredo, mas quase ninguém sabia disso. Ainda era doloroso para ela, eu confiava que Mirelle não ia contar para ninguém.

— Ela perdeu um bebê, e ainda te deu lição de moral, eu gosto desse garota. — nós dois demos risada. — É por isso que ela é a madrinha do Noah ?

— Sim, ela me ajudou muito. Não sei o que seria de mim sem o meu filho, e eu agradeço a ela por me dar esse puxão de orelha, principalmente porque ela não pode ter filhos.

Mirelle levantou as sobrancelhas, e me olhou surpresa.

— Como assim ela não pode ter filhos, eu tenho certeza que... — ela pareceu lembrar de alguém coisa e calou a boca. — Que horas é essa? A gente tem que se arrumar para ir no jantar.

Desconversou e saiu do banheiro. Fiquei intrigado com o que ela ia contar, mas resolvi deixar para lá.

(...)

Resolvi colocar uma roupa simples, um camisa e calça social. Deixei um botão aberto e as mangas dobradas. Pentei o meu cabelo. Coloquei um anel de prata no dedo anelar. Uma corrente no pescoço. Um relógio e passei perfume. Sapato social e já estava pronto.

Sai do meu quarto e fui para o do Noah, que estava todo social, uma coisa fofa.

— Papai. — abriu um sorriso, ele tava sentado com um livro de desenhos na mão. — Porque o senhor tá todo desarrumado e eu não? — cruzou os braços. — Eu quero ficar igual ao senhor.

— Tá bom, garotão. — me aproximei dele e o deixei igual a mim, até às correntes. Ele estava aminado. — Lindão. — olhei para os seus lindos olhos, as vezes era entranho não ver quase nenhuma semelhança entre ele e a mãe.

Me sentei ao seu lado, e li um pouco para ele, gostava desses momentos entre nós dois. Ele era a razão do meu viver.

— Papai? — olhei para ele. — Eu posso te pedir uma coisa? — seus lindos olhinhos brilharam em esperança e medo de eu recusar. — Será que eu p-posso chamar a Mirelle de mãe? — levantou uma sobrancelha. Eu fiquei sem reação. — Só se o senhor deixar, eu não quero te magoar.

Ele disse rápido, peguei o meu filho no colo. Ele já considerava ela uma mãe? Uma pitada de medo cruzou o meu coração, um medo bobo. Medo dele me trocar. Mas não podia negar isso a ele. Meu menino merecia ter uma mãe. E eu agradeço a Deus por ela ser uma mulher maravilhosa que sem dúvidas de certeza moveria céus e terra por ele.

E agora eu sabia que não importava se ela me amasse ou não, o importante era que ela amasse ele. O meu bem mais precioso.

Olhei para o meu filho que já tava fazendo biquinho.

— Claro que pode. — ele pulou em meu pescoço. — Se você sente no seu coração que ela é sua mãe. Você pode chamar ela assim. — ele voltou a me olhar com um sorriso lindo. Era por esse motivo que eu vivia, pelo seu lindo sorriso.

Ele saiu do meu colo e foi até o quadro do sua mãe.

— Eu ainda vou te amar mamãe. — disse para o quadro, eu senti uma lágrima escorrendo. — Só vou ter outra mamãe para me criar. E vocês são os meus amores, e o papai também é claro. — olhou para mim. Sorri em meio as lágrimas.

Eu faria de tudo para que ele não perdesse outra mãe. Mataria e morreria por ele. Por eles...


Um Coração Perdido ( Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora