Negociando Com a Morte

Capítulo 1

— Aysha, algo terrível está acontecendo! – A voz de Tavin rasga o silêncio do corredor enquanto ele corre em minha direção. Sua expressão de pavor salta aos olhos; o rosto normalmente calmo está pálido, quase doentio. Ele segura um tablet em uma das mãos, a outra aperta uma apostila, como se fossem o último fio de sanidade ao qual se agarra.

Tavin é mais do que um simples caçador. Ele é o melhor criador de armas que já conheci, um gênio em transformar metal em ferramentas mortais. Embora tenha habilidade em combate, sua verdadeira força está em aprimorar nosso arsenal. É raro vê-lo em missão, e ainda mais raro vê-lo tão agitado. Ele é meu melhor amigo desde nossos dias na academia dos Enviados da Morte, a organização secreta que protege a humanidade de imortais. Se ele está assim, algo muito ruim aconteceu.

— Calma, Tavin! – Tento controlar o nervosismo crescente em minha voz. – Isso tem a ver com a equipe que foi enviada?

— Sim! – Ele respira fundo, tentando se recompor, mas sua aflição é evidente. – A equipe que enviamos ao metrô para investigar sinais de atividade imortal foi atacada... por algo desconhecido. Aysha, você precisa ver isso. É horrível. – Com as mãos trêmulas, ele estende o tablet para mim.

Ao pegar o aparelho, sinto um frio percorrer minha espinha. As imagens na tela são perturbadoras. A Equipe 6, composta por quatro jovens caçadores que eu mesma treinei, estava armada até os dentes pistolas carregadas com munição de ferro puro, facas e granadas. O ferro é a única coisa que consegue ferir qualquer imortal de forma eficaz. Os novatos seguiam as ordens de Elsie Williams, nossa estrategista, que coordenava tudo à distância. Eles avançaram pelo metrô escuro, os olhos atentos a qualquer movimento suspeito.

Mas então, algo emergiu das sombras. Um vulto negro, movendo-se rápido demais para ser humano. Um licantropo. A criatura, metade homem, metade lobo, atacou com brutalidade. Rasgou a garganta de um dos caçadores antes que ele sequer pudesse gritar. Outro teve o coração arrancado do peito em um movimento grotescamente preciso. Os dois restantes tentaram revidar, mas suas balas não foram rápidas o suficiente. O licantropo os dilacerou com fúria, os gritos deles ecoando pelo túnel vazio.

— Maldição! - Minha voz escapa mais como um sussurro, sufocada pela fúria e pela dor. – Quem deu a ordem para enviar a Equipe 6? Eles são apenas novatos! E os reforços? Foram enviados?

— Foi a senhorita Williams que os enviou – Tavin responde, o peso da culpa evidente em seu tom. – Eu avisei ao Baylor, e ele mandou a Equipe 2, mas já se passaram 30 minutos e não recebemos nenhuma resposta.

— Que droga! – Deixo a raiva me impulsionar enquanto me viro e corro em direção ao laboratório central. Tavin me segue de perto, suas botas ecoando no piso de concreto. O laboratório é o coração das operações dos Enviados da Morte, o local onde monitoramos as atividades dos imortais e planejamos nossas caçadas. As paredes são forradas com telas de monitoramento e prateleiras cheias de armas e equipamentos prontos para o combate.

Ao entrar, a tensão no ar é palpável. Baylor, o Chefe dos Enviados, está no centro da sala, envolvido em uma discussão acalorada com os membros da equipe de comando. Ele é um homem imponente, alto e musculoso, com cabelos grisalhos e olhos penetrantes. Baylor sempre foi o braço direito de Lordon, o Líder dos humanos. No entanto, sua autoridade incontestável também veio acompanhada de uma tirania que poucos ousam desafiar. Ele me detesta desde o dia em que fui resgatada por Lordon, quando meu pai biológico, Cassius, foi assassinado em uma emboscada por lobisomens. Cassius era um dos raros humanos capazes de usar magia, e Baylor teme que eu tenha herdado esse dom.

— Qual é o problema de vocês? – a voz de Baylor ressoa como um trovão na sala. — Desobedeceram minhas ordens e enviaram uma equipe inexperiente para uma missão suicida! – Ele se vira para nós, os olhos azuis brilhando de fúria. – E vocês dois, o que estão fazendo aqui? Não deveriam estar no treinamento?