Quando Lilith abriu a porta, um arrepio correu por minha espinha. O quarto que ela revelava era uma fusão de luxo e uma atmosfera opressiva, como uma mistura fascinante de conforto e desconforto, que tirava meu fôlego.As paredes, cobertas com papel escuro, exibiam padrões intricados que pareciam formar figuras quase vivas, se retorcendo sob a luz fraca e difusa. Pequenos abajures e velas negras dispostas por toda a sala lançavam um brilho suave e sinistro, que dançava pelas sombras do quarto, criando uma aura de mistério e suspense. O ar estava impregnado com o perfume de ervas e incensos, que tornavam o ambiente mais pesado, mais sombrio.
No centro do quarto, uma cama majestosa de dossel dominava o espaço, com cortinas de tecido escuro que pendiam como véus de segredos. Os lençóis de seda escura faziam um contraste gritante com a palidez da minha pele, e as almofadas, cobertas por bordados elaborados, pareciam convidar para um descanso enigmático e perturbador. Cada detalhe naquela cama era opulento e intimidante, e me fazia sentir como se estivesse sendo observada.
Espalhados pelo quarto, móveis antigos e ornamentados me faziam pensar em um museu ou uma sala ritualística. Um guarda-roupa de madeira escura, entalhado com detalhes meticulosos, guardava roupas que pareciam de outra época, algumas peças repletas de adornos sombrios e outros trajes em tons profundos e misteriosos. Ao lado, uma escrivaninha pesada ostentava velas negras, que lançavam uma luz trêmula sobre objetos estranhos e runas gravadas. Frascos de vidro, punhais com inscrições antigas e pequenos artefatos, que mais pareciam relíquias de rituais, estavam dispostos com precisão quase cerimonial.
— Vejo que apreciou o ambiente — disse Lilith, sua voz ecoando um tom malicioso.
Eu a encarei, sem me impressionar. Aquele cenário gótico não era o meu estilo, e estava longe de me agradar.
— Bonito até... — respondi, com um tom irônico. — Mas você errou feio no meu gosto.
Com um leve sorriso no rosto, joguei minhas armas sobre a mesa ao lado da cama. Depois, puxei uma adaga da minha bota e a depositei junto com as outras, ouvindo o som metálico suave ao tocar a superfície de madeira.
Lilith levantou uma sobrancelha, seu olhar se fixando nos detalhes das armas, antes de voltar os olhos para mim.
— Ah, é mesmo? — murmurou, fingindo-se ofendida, com um sorriso de divertimento. — Se quiser, posso te mostrar os outros quartos. Talvez você goste mais de algum deles.
Soltei um suspiro, já exausta de toda aquela encenação.
— Não, está tudo bem. — Desviei o olhar, cansada. — Estou exausta demais para andar por aí.
Lilith deu de ombros, ainda com aquele sorriso sutil, e fez um pequeno aceno de cabeça.
— Como desejar. Tenha uma boa noite, Senhorita Herrington.
Ela se virou e saiu, fechando a porta atrás de si, e, com sua ausência, o silêncio do quarto ficou ainda mais intenso, quase palpável. Sozinha, observei o ambiente, deixando que meu olhar vagasse pelas sombras projetadas nas paredes. Apesar de seu tom quase acolhedor, aquele lugar parecia mais uma prisão do que um refúgio. Mas era o que eu tinha. Era minha única opção.
Suspirei e me aproximei do guarda-roupa, em busca de algo confortável para vestir, mas lembrei-me de que minhas roupas estavam sujas, manchadas de sangue de lobisomem e até um pouco do meu próprio sangue. Senti o cansaço me dominar. Precisava de um banho.
Atravessei o quarto até o banheiro adjacente e, ao abrir a porta, fui surpreendida por sua elegância sombria. O espaço era dominado por uma banheira de mármore escuro, com detalhes talhados nas bordas, e um chuveiro espaçoso que parecia feito para abrigar sombras e segredos. A luz suave e pálida filtrava-se pelas cortinas semiabertas, e cada detalhe era revelado sob um brilho lunar frio.
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Negociando Com a Morte
RandomEm um mundo devastado pela guerra entre humanos e imortais, a morte de Hades, o temido líder dos imortais, desencadeia um caos que força seus seguidores a se esconderem nas profundezas do submundo e nas sombras do mundo humano. Quase cinco séculos d...