— E agora, para onde vamos? - Eu perguntei, com um tom de voz firme.
Para a minha casa, Roshawn já deve estar lá. Ele respondeu, com um olhar penetrante e um sorriso enigmático.
Eu entreguei as chaves do meu carro a ele, sentindo um nó na garganta. Eu não sabia onde ficava a sua casa, nem o que iria encontrar lá, na verdade, eu nem sabia que Tavin tinha uma casa por vivermos na mansão. No instante em que Tavin pegou as chaves da minha mão, senti o coração disparar, uma ansiedade estranha tomando conta de mim. Havia algo enigmático nele, algo que escondia muito mais do que ele deixava transparecer. Quando ele abriu a porta do carro e fez um gesto para que eu entrasse, percebi que, mesmo com todo o receio, eu confiava nele. Mas ainda assim, a pergunta que fervilhava em minha mente escapou antes que eu pudesse conter.
— Tavin, como você conhece um dos filhos de Hades? — Minha voz soou quase como um sussurro, mas com a intensidade de quem precisa desesperadamente de respostas.
Ele hesitou por um momento, os dedos pousados sobre o volante como se estivessem em um campo de batalha. Seus olhos fixaram-se na estrada à frente, mas eu podia ver o conflito ali, a luta interna que ele travava para decidir o que revelar.
— É uma história complicada e perigosa demais para ser contada agora. — Sua voz soou sombria, quase como um eco do próprio Submundo. — Não é algo fácil de explicar, Aysha.
— E por que Roshawn te chamou de irmão? — Eu insisti, recusando-me a aceitar suas evasivas. — É só um título, ou tem algo mais profundo nisso?
Ele apertou o volante, e vi seus nós dos dedos ficarem brancos. A tensão entre nós era quase palpável, e o ar dentro do carro parecia cada vez mais denso.
— Aysha — ele disse, quase em um tom de advertência —, eu entendo sua confusão. Há muito mais nesse mundo do que você imagina. Mas quando você descer ao Submundo, suas dúvidas serão respondidas.
Minhas sobrancelhas se ergueram em choque, o sangue gelando nas minhas veias.
— Como assim "quando eu descer ao Submundo"? — Minhas palavras vieram carregadas de incredulidade e medo. — Tavin, você está me pedindo para arriscar minha vida num lugar onde não passo de uma caçadora de seres imortais. Eu sou um perigo para eles e eles, para mim. E você... você quer que eu vá direto para a toca dos leões?
Ele me lançou um olhar sério, mas havia algo de suave ali, quase um pedido silencioso.
— Eu confio em você, Aysha. — A voz dele era firme, mas havia um tom de ternura que eu não esperava. — Eu sei que seu coração vai te guiar para o que é certo. Mas entendo sua angústia… Você vai entrar em território inimigo, mas é só lá que encontrará as respostas que busca.
Olhei para ele, balançando a cabeça, incrédula.
— Eu nunca segui meu coração, Tavin. Desde criança, aprendi a seguir apenas a razão e lutar com ela.
Ele ficou em silêncio, absorvendo minhas palavras. A tensão no carro era pesada, como uma tempestade à beira de explodir. Em mim, um redemoinho de emoções — raiva, medo, e algo mais, algo que eu não queria admitir: uma pontinha de esperança. Eu sentia como se estivesse sendo jogada em um abismo sem fim, e Tavin era a única âncora que eu tinha para me manter sã.
Quando finalmente chegamos ao destino, Tavin parou o carro e olhou para mim com um meio sorriso misterioso, seus olhos dançando com um brilho provocador.
— Chegamos ao meu covil. — Ele abriu a porta e desceu, vindo ao meu lado para me ajudar a sair.
Desci do carro e encarei o lugar. À minha frente erguia-se uma construção imponente, nada parecido com o que eu imaginaria que ele chamasse de “covil”.
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Negociando Com a Morte
RandomEm um mundo devastado pela guerra entre humanos e imortais, a morte de Hades, o temido líder dos imortais, desencadeia um caos que força seus seguidores a se esconderem nas profundezas do submundo e nas sombras do mundo humano. Quase cinco séculos d...