Um Novo Eu - CONCLUÍDA

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𝐀𝐏𝐑𝐄𝐍𝐃𝐄𝐑 𝐀 𝐕𝐈𝐕𝐄𝐑

𝑃𝐴𝑅𝑇. 𝑂𝑁𝐸

☹︎

JÁ é noite. Eu e Eduarda estamos no meu quarto estudando. Eu estou sentado no chão, brincando com uma bola de tênis enquanto faço perguntas sobre Geometria para ela. Ela realmente está boa na matéria por estar se esforçando.

Quando nós acabamos, ela arruma seu material e eu a ajudo. Eu hesito um pouco antes de falar algo, até que ela repara e eu finalmente digo.

- Bom, já que eu estou te ajudando com as matérias da escola, eu queria que você me ajudasse com outra coisa...

- Sério? E o que seria isso? - Ela pergunta curiosa.

- Eu quero me tornar sociável. Quero ter amigos, saber falar em público e não ser esquisitão.

- O que? João, você não é esquisitão. Talvez seja um pouco, mas não tanto quanto você acha.

- Você acha que... Eu posso me tornar descolado?

- Eu acho, se você quiser se tornar isso. O que você quer que eu faça, exatamente?

- Eu quero que você me ensine a viver.

Essa frase ficou boa na minha cabeça. Era aquilo que eu mais queria. Não quero jogar todos os meus anos de vida no lixo por causa de um trauma de criança.

- Ah... Tudo bem. Vamos começar, então. Começamos do básico: você vai em eventos anuais da escola?

- Tipo o que? Aniversário da escola, formatura ou coisa do tipo? Não, nunca fui. Nunca gostei.

- Sério?! Nem que fosse só para ficar de cantinho, sem falar com ninguém?

- Não. Nem passeios escolares, nem nada.

- Meu Deus. Vai ser mais difícil do que eu pensava.

Dou um pequeno sorriso com seu último comentário. Nem eu mesmo acreditava nas minhas próprias palavras. Quando eu percebi, já tinha falado. Acho que isso pode ser divertido.

☆★☆

NO dia seguinte, em uma das aulas, Eduarda fez dupla comigo. Eu ficava cada vez mais à vontade com ela. Nós estávamos nos tornando amigos, chegando ao ponto dela ir na minha casa para conversar e jogar juntos. Ela era divertida.

Eu e Eduarda estávamos na sala, sentados no sofá jogando no meu videogame. Minha mãe não estava em casa, de novo.

Estávamos jogando um jogo de corrida. A tela estava dividida. Éramos dois esquiadores na neve. A corrida estava tensa.

- João, há quanto tempo você não passeia por aí? Sei lá, você sai de casa pra passear, andar sem rumo por aí? - Ela pergunta num tom tranquilo, mas sem tirar os olhos do jogo.

- Não. Por que eu faria isso? - Respondo concentrado em manter meu personagem em uma velocidade estável.

- É divertido! Caramba, você não vive mesmo.

- Pois é.

- Olha, eu vou te apresentar aos meus amigos. Você vai aprender a se enturmar bem rápido.

- Assim eu espero.

A partida acaba e Eduarda ganha de novo. Ainda não sei como ela ganhou tantas vezes seguidas, sendo a primeira vez que ela jogou esse jogo. Eu a ensinei bem demais. Até os atalhos ela decorou!

Eu estava animado com a ideia de conhecer pessoas novas, mas ainda estava um pouco inseguro. Eu ainda recuava um pouco com a ideia que eu mesmo havia inventado. Eu ainda não havia me preparado mentalmente para fazer coisas novas.

Ficamos sem jogar por um tempo. Eu me levanto para preparar um lanche para nós, enquanto ela esfregava a vitória na minha cara, pela milésima vez. Mal sabia que eu havia deixado ela ganhar, só porque eu sou um cara legal.

Após o lanche, ela resolve ir embora e, dessa vez, eu resolvo acompanhá-la. Nada mais cavalheiro do que isso, não é?

- Então... Que aula vamos ter amanhã?

- Acho que História. Amanhã é quinta?

- É. O que acha de sairmos depois da aula?

- Sério? Mas, para onde?

- Sei lá, a gente vê na hora. - Ela diz.

Quando ficamos em silêncio novamente, percebo que andamos bastante.

- Pode me deixar aqui. Estou perto de casa.

- Tudo bem. Até amanhã, então?

- Sim, até amanhã. - Ela fecha o punho em minha direção. Eu apenas observo por um momento, mas depois bato o meu punho no dela. Ela sorri e vai embora.

Eu fiquei ali por mais uns minutos, esperando ela chegar em casa. Ela apenas anda sem olhar para trás.

O dia acabou bem, de novo. Eu acho que agora, uma nova fase na minha vida começou, de verdade. Estou ansioso para o que está por vir, seja bom ou ruim.