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THE DAY

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HOJE já é terça-feira. Bom, hoje eu crio coragem para dizer tudo para ela. E quando eu digo tudo, eu digo sobre esse ponto de interrogação enorme que tomou conta da minha cabeça.

Recentemente, eu tenho sentido coisas estranhas em relação a Eduarda, e esses sentimentos estão cada vez maiores, mas eu não sei o motivo e nem sei como controlar isso.

Eu e Eduarda estamos voltando para casa depois da aula. O silêncio tomou total conta da situação. Minha coragem se desmancha a cada passo que eu dou. A ansiedade parece querer tomar conta de mim, mas eu me contenho.

Após respirar fundo, eu finalmente crio novamente coragem e falo.

— Eduarda, eu preciso falar uma coisa. É muito sério. — Eu disse, após hesitar algumas vezes.

— Eu... Eu também preciso contar uma coisa, mas fala você primeiro. — Eduarda responde pouco nervosa, parando na minha frente, me impedindo de continuar caminhando.

— Olha... Desde aquele passeio que a gente fez no parque de diversões, eu comecei a te ver de maneira diferente. Sei lá, comecei a te achar mais bonita, mais radiante, comecei a reparar mais no seu cabelo, e percebi que você é uma das melhores pessoas que eu já conheci. Eu comecei a gostar muito mais de ficar perto de você, de te ouvir falar sobre seu dia e sobre as coisas que gosta de fazer. Eu gosto de você, Eduarda.

Seus olhos brilharam assim como os meus. Ela ria, saltava e berrava de felicidade na rua vazia na qual estávamos. Eu apenas sorria com a reação que ela teve.

— Você disse exatamente o que eu ia dizer! João, eu também gosto de você. E por mais incrível e chocante que pareça para você, eu gosto de você desde o primeiro dia de aula, desde o dia em que eu te chamei para me ajudar com o dever, desde o parque, desde a festa, desde aquele dia na sua casa... Eu sempre gostei de você.

Ela para novamente na minha frente, mas dessa vez ela estava mais próxima. Estávamos a centímetros de distância. Eu estava nervoso, não sabia o que fazer. Eu apenas a encarei, fazendo ela me olhar de volta. Eu percebi a mudança no olhar dela.

Na verdade, eu entendi aquele olhar. Tudo tinha se esclarecido. Ela sempre me olhava daquele jeito, mas era como se houvesse uma barreira que me impedia de entender quaisquer sentimentos que surgissem em meu coração. Que poético.

Naquele momento, toda a minha timidez, a insegurança, solidão, tristeza, pessimismo e qualquer outro sentimento amargurado que eu já senti, havia sumido. Aquele realmente era um novo eu. Aquela menina me mudou de dentro para fora.

Nós nos abraçamos e eu simplesmente me tornei a pessoa mais feliz do mundo.

☆★☆


AO chegar em casa, eu paro alguns minutos na sala e me deparo com minha mãe sentada no sofá, encarando o chão em silêncio. Assim que ela percebe minha presença, a mesma se levanta e caminha lentamente em minha direção com uma expressão séria, que me deixava cada vez mais preocupado.

— Mãe, o que houve?

Ela ignora minha pergunta. Ela leva uma das mãos ao meu rosto e acaricia, com um sorriso sem mostrar os dentes. Eu estava assustado.

— Mãe? O que aconteceu?

Ela novamente fica em silêncio. Ela leva a mão para trás da minha cabeça e depois de alguns segundos ela a aproxima de seu peito. Da mesma forma que eu havia feito com Eduarda naquele dia, ela coloca o queixo no topo da minha cabeça, enquanto acaricia meu cabelo.

— Mãe...?

Mais uma vez, não tive resposta. Dessa vez, eu escuto ela soluçar. Ela solta várias lágrimas sem parar, e me abraça fortemente depois de alguns minutos. Eu retribui o abraço, ainda confuso.

— Filho, eu fiz o que eu pude. Não foi minha culpa. — Ela responde em meio as lágrimas.

— O que aconteceu?! — Respondo nervoso, me afastando do abraço, colocando as duas mãos em seus rosto e a olhando nos olhos. Ela se acalma e segura minhas mãos.

— Ele morreu, filho. Seu pai morreu.















Um Novo Eu - CONCLUÍDAOnde histórias criam vida. Descubra agora