Capítulo 10

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Nada se equipara a isso.
Nem mesmo a surra que dei nele a momentos atrás é tão bom quanto ver um psicopata que tomou minhas dores, enfrentar meu ex traidor com a sua própria viatura. É revigorante.
  O carro ronca o motor, ameaçando avançar sobre Louis. Ele cambaleia para traz até que seu calcanhar esbarra no meio fio e ele cai de costas na grama se arrastando para longe do veiculo. O carro avança em solavancos enquanto o braço do homem bate enlouquecidamente na lateral da porta do carro. Um agitador, maluco e perseguidor.
As pessoas rugem, berram e se amontoam ao redor do policial semi nu. Meu rosto se ilumina com um sorriso. Porque ele está fazendo isso? Porque ele se importaria com o meu relacionamento frustrado? A função do stalker é vigiar e degradar a vida da pessoa, não ajudar. Aliás, porque me perseguir? Quem é ele? Se ele foi contratado pelos Greenbergs para me matar, não deveria me ajudar em uma vingança pessoal. Muitas perguntas e nenhuma resposta. O carro guincha e dá ré, ele gira bruscamente em seu próprio eixo, fazendo o carro retornar a faixa principal. Com o freio de mão puxado, o garoto acelera, fazendo as rodas traseiras rodarem em falso e gerando mais fumaça. Ele está fugindo.
Ele não pode sumir de novo, preciso alcançar ele antes que volte para  as sombras de onde saiu e eu volte a ser apenas assombrada pela sua sombra verde por todos os cantos.Preciso de respostas. Preciso saber o quão fodida estou e quantas pessoas tem conhecimento da minha localização. Saber qual a ligação desse com a casa Greenberg e porque caralhos esta rondando a tanto tempo sem acabar de vez com o serviço.
Me desfaço dos meus saltos, tirando as fitas enroladas em minha panturrilhas até a dobra dos joelhos e jogo em um canto. Retiro laços e presilhas que se enroscaram em meu cabelo e atiro sobre a cama. Sem olhar para traz deixo o quarto que certamente vai me assombrar por muito tempo e vou em direção a escada. Passo por alguns jovens caídos pelos corredores, tomando cuidado para não pisar em nenhuma perna, mão ou garrafa de vidro quebrada no carpete. Assim que o caminho está livre, disparo em uma corrida para o pé da escada. Não posso deixar ele sumir. Eu preciso... Agradecer. Perguntar... Agredir? Não sei a ordem ou a prioridade dos fatores.

---Candy? O que está acontecendo? Ouvi sirenes--- Me viro para a voz atrás de mim. Hannah. Ela sai pela porta com o garoto em suas costas, subindo  zíper de seu vestido. Seu cabelo estava emaranhado em um coque rápido e seu chapéu esta preso no cinto. Sua bota não está a vista.
---Sim, polícia... Louis.. Ele...--- Eu não percebi quão ofegante estava até precisar falar. Céus, minha garganta ardia. Meu pulmão parecia não ser capaz de puxar ar. As sobrancelhas dela franzem em confusão. Um sorriso quase escapa dos meus lábios. Ela estava certa. Estava bem na minha cara o que ele fazia, debaixo do meu nariz esse tempo todo. E eu me recusei a ver. Agradeço aos céus por ter Hannah comigo e faço uma nota mental para nunca mais duvidar dela. Devo ter deixado um soluço escapar porque seus olhos se arregalam.
---Candice, o que aconteceu? Você não parece bem...--- Ela vem em minha direção com o rosto tomado de preocupação mas para bruscamente como se tivesse levado um choque, quando um estrondo corta o ar e uma multidão explode em gritos. Os olhos dela se arregalam em compreensão e meu sangue gela. Esse era o som que atormentavam meus sonhos e me faziam suar frio. Era o som que eu confundia com trovões sempre que chovia. Que quando derrubavam acidentalmente a bandeja no Hunter's bar me fazia travar no lugar. Um som impossível de se confundir, mas que meu subconsciente adorava me pregar peças. O som de tiro. Merda. Merda. Merda. Pessoas correm desesperadas no andar de baixo, o ar é preenchido por estilhaços de objetos caindo no meio da multidão. Meus pensamentos se embaralham. Será que Louis disparou contra o mascarado? Ou meu stalker atirou em Louis? Louis está ferido? Se ele estiver eu não sei se me importo. Mas preciso verificar. Em um segundo meus olhos encontram o de minha amiga, no outro estou me virando e pulando de  dois em dois degraus escada a abaixo, quase caindo no caminho e trombando em alguns bêbados que vem sentido contrario.
---CANDICE! Que merda está fazendo? Você não pode ir lá fora...--- Sua voz sai abafada por cima da cacofonia de gritos e estrondos vindos de toda parte. No fim da escada consigo ver claramente o caos. Pessoas gritando. Quem estava dentro querendo sair e quem estava no jardim, forçando entrada na casa.  O cômodo está com apenas uma luz piscando incessantemente, tornando praticamente impossível enxergar o chão e onde pisar e onde não. Foda-se. Salto o ultimo degrau derrapando na madeira molhada e uso o corrimão para aterrissar sem cair. Sinto meus pés pinicarem no carpete da sala e piso em algo que encharca meus pés. Peço que seja alguma bebida, porque com certeza é a melhor opção nesse momento. Uso meu tamanho como vantagem para me enfiar no meio de pessoas e alcançar a porta que dá para o quintal. Enfio meu braço entre dois garotos vestidos de múmias e alcanço o batente da porta, segurando para usar como uma âncora e me puxar para mais perto da saída. Estamos em um cabo de guerra porque eles lutam para entrar e eu, para sair. Me espremo mais um pouco e passo por eles. Quando finalmente chego a porta e vejo a varanda, mal tenho tempo de raciocinar quando uma garota vestida de cisne negro corre desesperada, tropeçando nos próprios pés em minha direção e me empurra para abrir passagem. Porra! Porque estão correndo para dentro? Corram para suas casas. Seu enorme tutu me empurra para a lateral da porta em direção a um grupo de garotos aterrorizados que choram junto a parede. Uso as mãos para aparar a queda quando um deles me empurra de volta, me jogando direto para o chão. Inferno de festa. Preciso sair daqui. Tento erguer a cabeça, mas o joelho de alguém atinge minha bochecha e eu tombo para frente mais uma vez. Alguém chuta minha panturrilha e um grito escapa da minha garganta. Um salto grosso amassa meu mindinho e rapidamente recolho a mão. Não consigo levantar.  Olho em volta. A mesinha. Ao lado da porta uma mesa alta o suficiente para eu conseguir me apoiar para levantar ou para eu me esconder em baixo por tempo o suficiente para a multidão se dissipar e eu não ser pisoteada como uma barata. Pouco a pouco, engatinho em direção ao móvel ainda levando pontapés e algumas pisadas. Meus joelhos e as palmas da mão protestando pelos cortes feitos pelos cacos de vidro e do carpete áspero como uma lixa.Quando finalmente alcanço a beira da mesa ergo a comprida toalha branca que cobre o móvel até tocar o chão e me enfio por debaixo, mas mal chego até minha cintura quando uma mão gigantesca rodeia meu tornozelo me puxando rapidamente para fora de meu esconderijo. Em um segundo estou embolada em maio a toalha da mesa, em outro estou sendo virada de barriga para cima e encarando a mais inebriante luz verde que já vi na vida. E sangue. Muito, Muito sangue.


Candy Ou TravessurasOnde histórias criam vida. Descubra agora