09. Adeus

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O despertador toca cedo, a luz do sol ainda está lutando para atravessar as cortinas. A manhã é fria e silenciosa, exceto pelo som do meu próprio coração, que parece estar batendo em um ritmo lento e pesado. O som do despertador é um lembrete cruel de que a mudança está finalmente aqui, de que a decisão que tomei chegou ao seu ponto culminante.

Eu me levanto da cama, o colchão ainda quente onde Cheryl repousou. A ausência dela no espaço ao meu lado é um vácuo que me engole. O quarto está em desordem, mas não tenho tempo para me importar com isso. Preciso fazer as malas, e a ideia de empacotar toda a minha vida em caixas parece um fardo impossível. Cada item que coloco na mala é um lembrete do que estou deixando para trás.

Olho ao redor, vendo o reflexo de nós duas em cada canto do apartamento. Aquelas fotos nas paredes, os pequenos objetos que Cheryl e eu escolhemos juntas, tudo parece carregar uma carga emocional que não consigo quantificar. Cada pedaço do nosso espaço compartilhado está carregado de memórias, de momentos bons e ruins, que agora se tornam fragmentos de um caleidoscópio quebrado.

O caleidoscópio sempre me fascinou pela sua capacidade de criar padrões belos e diversos, mas que mudam rapidamente. O amor que eu senti por Cheryl foi exatamente isso — uma série de imagens deslumbrantes e diferentes, mas que, com o tempo, começaram a se desfazer em pedaços. O que uma vez parecia um mosaico perfeito e harmonioso, agora é uma coleção de fragmentos que não se encaixam mais da maneira que costumavam.

Eu me lembro dos dias em que nos apaixonamos, como tudo parecia tão claro e definido. Cada momento compartilhado, cada toque, cada sorriso se encaixava como peças de um quebra-cabeça que faziam sentido. Mas agora, à medida que arrumo minhas coisas e me preparo para ir embora, o que resta é uma imagem distorcida, uma visão que se rompeu com a realidade do que não conseguimos mais salvar.

O peso das minhas malas parece simbolizar o peso do que estou carregando — não apenas as roupas e os objetos pessoais, mas também o fardo emocional de deixar Cheryl para trás. Cada peça de roupa, cada livro, cada lembrança que coloco nas caixas é como um lembrete de tudo o que lutamos para manter e, eventualmente, não conseguimos.

Sigo com a arrumação, tentando ignorar a dor que cresce dentro de mim. Olhando pela janela, vejo o sol começar a iluminar a cidade, e percebo que é uma nova manhã, uma nova etapa que está se iniciando, tanto para mim quanto para Cheryl. Sinto uma mistura de tristeza e alívio. Tristeza por estar me afastando de alguém que foi uma parte tão significativa da minha vida, e alívio por saber que essa mudança pode, de alguma forma, nos dar a chance de encontrar um novo equilíbrio, mesmo que separados.

Finalmente, tudo está pronto. Fecho a última mala e olho para o apartamento, agora um espaço vazio que uma vez foi cheio de vida e amor. A sensação de vazio é palpável, quase como se o próprio espaço estivesse chorando pela perda. Eu respiro fundo e me dirijo para a estação de trem, onde Cheryl me encontrará para me dar adeus.

A estação está agitada quando chego, mas o tempo parece desacelerar enquanto espero por Cheryl. O ambiente é uma mistura de sons e movimentos, mas minha mente está focada apenas no que está por vir. A chegada de Cheryl, a tristeza em seu olhar, e o que isso significa para nós duas.

Então, finalmente, vejo Cheryl se aproximar. Ela está claramente emocionada, os olhos inchados de tanto chorar e o nariz vermelho, um sinal de que a despedida está sendo difícil para ela, assim como para mim. O simples fato de vê-la assim — vulnerável e com lágrimas nos olhos — faz meu coração apertar ainda mais. Em meio à dor, há algo quase fofo na maneira como ela tenta manter a compostura, o esforço para não desmoronar completamente na minha frente.

— Você chegou cedo — eu digo, tentando sorrir, mas a tristeza em minha voz é inconfundível.

Cheryl me dá um sorriso triste, mas um sorriso ainda assim.

— Não conseguiria ficar longe de você mais tempo.

Ouvindo suas palavras, sinto um nó se formar na garganta. A dor da separação é quase física, um peso que me faz desejar que as coisas pudessem ser diferentes. Nós passamos por tantas coisas juntas, e agora, ver esse adeus se concretizar é como assistir a um sonho se desvanecer.

— Eu... — Cheryl começa, hesitando. — Eu só quero que você saiba que, não importa o que aconteça, eu sempre estarei aqui, mesmo que de longe.

Eu tento segurar as lágrimas, a visão de Cheryl tão quebrada me atinge com força.

— Eu sei, Cheryl. E eu também sempre estarei aqui, mesmo que em pensamento.

Nós nos abraçamos com força, e a sensação do seu corpo contra o meu é reconfortante e dolorosa ao mesmo tempo. Há uma intensidade no abraço, uma mistura de despedida e de agradecimento por tudo o que tivemos. O som dos nossos corações batendo em uníssono parece ecoar na estação, um lembrete cruel de que estamos prestes a seguir caminhos diferentes.

Enquanto nos afastamos do abraço, eu vejo o trem se aproximando. O som das rodas nos trilhos parece um sinal do fim, uma marcação do final de um capítulo. Cheryl me observa entrar no trem, e a última imagem que levo comigo é a dela, com os olhos inchados e a expressão triste, mas ainda assim, ela sorri para mim, como se tentasse me dar coragem para o que está por vir.

O trem começa a se mover, e eu vejo Cheryl ficar cada vez menor na janela. O calor das lágrimas escorrendo pelo meu rosto é um lembrete doloroso do que estou deixando para trás, mas também é uma parte inevitável da aceitação. A visão de Cheryl, com seu sorriso triste e seus olhos vermelhos, é algo que vou levar comigo para sempre, uma memória que, mesmo dolorosa, é uma prova do que tivemos.

Enquanto o trem se distancia da estação, eu olho para o horizonte, um futuro incerto à minha frente. A metáfora do caleidoscópio continua a girar em minha mente, uma lembrança de que, mesmo que o amor tenha mudado de forma e cor, ele ainda fez parte de um padrão lindo e complexo, e agora, eu estou pronta para aceitar o próximo padrão que a vida tem para oferecer.

Não se esqueçam da estrelinha! Estamos entrando nos últimos capítulos. <3

Caleidoscópio (Choni)Onde histórias criam vida. Descubra agora