03. Mudanças

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A mudança de escola foi um turbilhão de emoções para mim. Deixar o ambiente familiar que eu conhecia desde pequena, e onde tinha estabelecido minha posição, foi uma experiência assustadora. Mas havia uma coisa que fazia tudo parecer menos intimidante: Toni Topaz. Sabendo que ela estaria ao meu lado, o medo e a ansiedade foram, de certa forma, diminuídos. Toni tinha essa capacidade de me tranquilizar com sua simples presença, e isso era algo pelo qual eu era profundamente grata, mesmo que nunca dissesse em voz alta.

Nos primeiros dias, enquanto caminhávamos pelos corredores da nova escola, eu sentia os olhares curiosos dos outros alunos. Mas com Toni ao meu lado, isso não me incomodava tanto. Sua confiança e capacidade de se adaptar às situações sempre foram qualidades que eu admirava, e agora eu me apoiava nelas.

Foi nesse novo ambiente que conhecemos Betty, Jughead, Archie e Verônica. Betty Cooper era doce e gentil, com uma mente afiada que se destacava nas aulas. Jughead Jones era reservado, um pouco distante, mas com um humor sarcástico que eu rapidamente passei a apreciar. Archie Andrews era o típico garoto popular, sempre cercado de amigos e com um sorriso fácil. E Verônica Lodge... bem, ela era um misto intrigante de sofisticação e audácia, alguém que imediatamente se destacou como uma força a ser reconhecida.

Nossos laços com eles foram se fortalecendo com o tempo. Depois da escola, era comum nos encontrarmos na lanchonete local, onde passávamos horas conversando sobre tudo e nada. Mas, mesmo quando estávamos cercadas por esses novos amigos, havia algo diferente quando eu estava sozinha com Toni. Talvez fosse o conforto do familiar ou talvez algo mais profundo, que eu não estava pronta para reconhecer.

Toni frequentemente passava as tardes na minha casa. Nossa mansão era grande, com jardins vastos e labirintos verdes que mais pareciam saídos de um conto de fadas. Durante essas tardes, nos perdíamos no labirinto do jardim, rindo e explorando como se fôssemos crianças novamente. Aquele era um lugar onde eu me sentia livre, onde as expectativas e pressões do mundo exterior pareciam não existir.

— Este lugar é incrível, Cheryl — Toni comentou uma vez, enquanto caminhávamos pelo labirinto, cercadas por paredes de folhagem alta.

— É fácil se perder aqui — respondi, olhando para ela e sentindo uma pontada estranha no peito, algo que eu não conseguia identificar claramente.

Esses sentimentos por Toni estavam crescendo dentro de mim, mas eu os mantinha escondidos, enterrados sob camadas de negação e racionalização. Eu dizia a mim mesma que era apenas a proximidade, a amizade que tínhamos desde pequenas. Mas, no fundo, sabia que era mais do que isso. Cada vez que nossos olhares se encontravam por mais tempo do que o normal, ou quando ela sorria de um jeito que parecia ser só para mim, eu sentia meu coração bater mais rápido.

Nana Rose, minha avó, parecia perceber tudo. Ela adorava ter Toni por perto, sempre elogiando sua gentileza e inteligência. Eu a via observando-nos com um olhar conhecedor, como se enxergasse mais do que eu estava disposta a admitir.

Penelope, minha mãe, também adorava Toni. Ela era sempre tão acolhedora quando Toni vinha nos visitar, muitas vezes convidando-a para ficar para o jantar ou passar a noite. Era óbvio que Toni fazia bem a mim, e minha mãe não deixava de mencionar isso.

— Toni, você é uma presença tão positiva para Cheryl — disse minha mãe certa vez, enquanto estávamos todas na sala de estar.

Eu estava prestes a tomar um gole do meu chá, mas as palavras dela me fizeram parar. Senti minhas bochechas ficarem quentes, e tentei disfarçar meu desconforto com um sorriso.

— Eu tento, senhora Blossom — respondeu Toni, sorrindo de volta, sem perceber o impacto que aquelas palavras tinham em mim.

Penelope olhou para mim, e por um breve momento, nossos olhares se encontraram. Havia algo em seus olhos, algo que dizia que ela sabia mais do que estava deixando transparecer. Era como se ela pudesse ver diretamente através de mim, enxergando o segredo que eu tentava tanto esconder. Mas, para minha surpresa, ela nunca pressionou, nunca fez perguntas que eu não estava pronta para responder.

— Aí mãe, você quer me matar de vergonha? — eu murmurei, irritada, tentando esconder meu constrangimento.

Penelope apenas sorriu, aquele sorriso enigmático que só uma mãe pode ter, e deu um leve aceno de cabeça, como se dissesse que entendia mais do que eu jamais admitiria.

Eu sabia que minha mãe entendia o que estava acontecendo dentro de mim, mas ela respeitava meu tempo, minha necessidade de descobrir esses sentimentos por conta própria. Esse era o jeito de Penelope, sempre um passo à frente, sempre compreendendo mais do que eu achava que ela poderia.

As tardes que Toni passava na minha casa eram momentos que eu esperava com ansiedade. Estávamos apenas começando nossa adolescência, mas aqueles momentos compartilhados no jardim, ou as noites em que assistíamos a filmes até tarde, conversando sobre tudo e nada, foram se tornando o centro do meu mundo. Eu me encontrava ansiando por sua presença, por mais tempo com ela. E, mesmo que eu não quisesse admitir, meu coração estava lentamente se entregando a esse sentimento.

Era estranho e confuso, mas também emocionante. Eu nunca me senti assim por ninguém antes, e isso me deixava insegura, perdida entre o desejo de explorar esses novos sentimentos e o medo de destruir a amizade que era tão preciosa para mim.

Enquanto Penelope e Nana Rose nos observavam com carinho, eu sabia que estava em um caminho sem volta. Um caminho que poderia mudar tudo entre mim e Toni, mas que eu estava disposta a seguir, mesmo sem saber onde nos levaria.

Esses primeiros passos na adolescência trouxeram consigo não apenas novos amigos e desafios, mas também o despertar de algo maior, algo que eu não podia mais ignorar. E, mesmo com todo o medo e incerteza, havia uma parte de mim que estava ansiosa para descobrir o que o futuro nos reservava.

O início da adolescência foi o começo de uma jornada que, eu sabia, mudaria minha vida para sempre. E, com Toni ao meu lado, estava pronta para enfrentar o que viesse. Mesmo que significasse confrontar os sentimentos que estavam crescendo dentro de mim.

Caleidoscópio (Choni)Onde histórias criam vida. Descubra agora