Capítulo II

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Há momentos na vida em que, de alguma forma, surge a necessidade de olhar para o céu e perguntar: "É sério isso?" da forma mais incrédula possível. E por mais exagerada que Naemi fosse às vezes, poderia contar nos dedos os momentos em que realmente questionou o destino.

Bom, até agora.

Num misto de pavor e confusão, os olhos de Gabi triplicaram de tamanho. Incerta em acreditar se aquilo era um fantasma na sua frente ou se havia entrado no quarto errado, ela permaneceu ali, parada na porta.

— O que você ‘tá fazendo aqui?

Naemi, em resposta ao próprio desespero, riu. — Eu que te pergunto!

— Esse é o meu quarto!

As duas se olharam em silêncio. Gabriela em pura confusão e Naemi, obviamente, mortificada. O que estava acontecendo?

— Me avisaram que isso era um quarto provisório.

Nisso, Gabi fez uma careta. — Meu quarto é tão feio assim?

— O colchão é duro.

— O quê?

— Nada. É, só... Confuso. Tudo isso, eu quis dizer. — passou a destra entre seus fios curtos e, lembrando que estava de toalha, imediatamente levou as mãos ao próprio corpo. Que merda. Mil vezes merda.

Gabi permaneceu alguns segundos em silêncio, uma reação digna de filme de terror estampada em sua face. — Espera. Você.

O corpo de Naemi enrijeceu. — Eu...?

— Você é a nova jogadora, não é? A escolhida 'pra seleção. Naemi Bynes.

Certo. "Escolhida para a seleção", e não "adversária de anos atrás". Gabi não a reconhecia e Naemi não sabia determinar se aquilo era algo bom ou ruim.

— Exatamente. — Naemi se conteve com isso, olhos cravados no piso do quarto. Não entendia o porquê da sensação que de repente possuiu o seu estômago, como se houvessem milhares de pessoas saltitando dentro de si. A mulher preferiu colocar a culpa em sua fome, novamente.

— Eu pensei em até... Te apresentar CBV como capitã do time, mas... — ela gesticulou, rindo meio sem graça. — As condições agora não são muito favoráveis.

Jura?

— E eu até trocaria um papo com você, mas eu... — Naemi apontou para o próprio corpo, e Gabi pareceu finalmente se dar conta da situação embaraçosa em que a dignidade de Naemi se encontrava.

Ela olhou para o seu corpo por um milésimo de segundo, o que foi suficiente para o seu rosto se tornar vermelho. — Ok, eu vou...

— Sair daqui?

— Para o meu banheiro. — a interrompeu, mantendo a ênfase no "meu". — Você pode se vestir e... Depois resolvemos isso.

Então, em um gesto só, Gabi entrou no quarto, caminhou até o banheiro que Naemi havia acabado de sair, e fechou a porta num baque. A mulher permaneceu estática por alguns minutos, e depois, como se houvesse levado um choque, caiu de bruços sobre o colchão e gritou contra o travesseiro.

Já não bastava encarar a sua maior inimiga em quadra, agora teria que a encarar no próprio quarto também?

Naemi pegou o seu celular, disposta a caçar encrenca com todos de sua equipe quando percebeu que já haviam centenas de mensagens e ligações perdidas. Ela viu que uma delas era de Amanda.

"Amanda (equipe): Bynes, você não irá acreditar nisso...

(Ok, antes de falar qualquer coisa, por favor não me mate)

O ódio está no ar | Gabi GuimarãesOnde histórias criam vida. Descubra agora