Para a jogadora, a definição de "parar no tempo" sempre fora algo somente possível em livros e ficções. Mas ao escutar as palavras de Gabi saírem de seus lábios, pairarem no ar e serem finalmente absorvidas em sua mente, Naemi sentiu como se realmente o tempo houvesse parado.
Ela sabia. Ela sempre soube.
— Você sempre... — balbuciou, sem ideia do que responder. Se fosse momentos atrás, até se castigaria por agir de forma tão boba, mas naquele momento, mal conseguia procurar por palavras suficientes para o que sentia.
Gabi, talvez pela primeira vez desde que a conheceu, desviou seus olhos dos dela. — Eu tinha catorze anos. Aquela foi a idade em que eu me apaixonei pelo vôlei. — comentou, brincando com os próprios dedos. — Não é difícil me lembrar de um dos meus primeiros jogos.
Os jogos em que você me humilhou? Naemi até pensou em brincar, mas se calou. — Se te consola, eu passei um bom tempo pensando em te derrotar.
Com isso, Gabi riu. — Pelo visto, até hoje.
Naemi controlou o seu impulso de revirar os olhos. — Hábitos antigos não morrem facilmente.
As duas riram. Gabi, aparentemente divertida; Naemi, em completa necessidade de cavar um buraco no chão e se enterrar lá para sempre.
— Por que você não me disse nada antes?
Gabi riu, um pouco sem graça. — Seria estranho falar que te reconheci quando eu te vi pela primeira vez.
Naemi se lembrou do evento ocorrido que envolvia toalhas e pura humilhação, seu rosto tomando alguns tons de vermelho. — É. Melhor não.
Gabi riu, desta vez mais alto. De canto, a encarou feio, mas sem nenhum real pesar em seus olhos.
— E por que não me disse depois?
— Quando você encheu a cara?
Naemi ameaçou desferir um chute fraco com a provocação da mulher. Gabi, percebendo isso, se afastou em meio a risos.
— Eu até pensei em te contar durante a festa. — de forma imediata, Naemi arqueou as sobrancelhas em curiosidade. Gabi permaneceu alguns segundos em silêncio. — Quando você me desafiou.
A morena franziu o rosto, seus olhos repletos de confusão. — Sobre o treino de equipes?
Gabi assentiu com a cabeça.
— O que isso tem a ver com me reconhecer?
A capitã sorriu, parecendo envergonhada desta vez. — Ah, qual foi! Você não se lembra?
A confusão de Naemi somente aumentou. Gabi, em resposta, bufou um pouco frustrada.
— No passado, depois de um dos nossos jogos, você—
— Ah, Gabriela Guimarães!
As duas ergueram seus rostos em direção a terceira voz, pegas de surpresa. Aliviadas, perceberam que se tratava de um funcionário.
— O técnico Zé Roberto quer conversar com você.
Como se estivesse procurando uma escapatória, Gabi se ergueu do chão num salto. A mulher a olhou de escanteio, sorrindo fraco com a confusão óbvia escrita no rosto de Naemi.
— É bom te ter em quadra comigo, Naemi.
Nisso, tanto Gabi quanto o funcionário foram embora, deixando Naemi completamente estirada no chão, confusa e sem palavras.
Gabi sabia.
Naemi pensou em ligar para Breno, o único que entenderia o seu surto naquela ocasião, mas logo se lembrou da rotina puxada que o rapaz provavelmente estaria atendendo em outros projetos e desistiu. O ligaria depois.
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O ódio está no ar | Gabi Guimarães
FanficNaemi tinha somente dez anos quando encarou a sua primeira derrota durante um amistoso de vôlei. Desde aquele dia tão marcante, a mulher jurou bloquear todos os ataques que receberia. Especificamente os de Gabi Guimarães, titular do time na época. ...