Capítulo IV

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Para a jogadora, a definição de "parar no tempo" sempre fora algo somente possível em livros e ficções. Mas ao escutar as palavras de Gabi saírem de seus lábios, pairarem no ar e serem finalmente absorvidas em sua mente, Naemi sentiu como se realmente o tempo houvesse parado.

Ela sabia. Ela sempre soube.

— Você sempre... — balbuciou, sem ideia do que responder. Se fosse momentos atrás, até se castigaria por agir de forma tão boba, mas naquele momento, mal conseguia procurar por palavras suficientes para o que sentia.

Gabi, talvez pela primeira vez desde que a conheceu, desviou seus olhos dos dela. — Eu tinha catorze anos. Aquela foi a idade em que eu me apaixonei pelo vôlei. — comentou, brincando com os próprios dedos. — Não é difícil me lembrar de um dos meus primeiros jogos.

Os jogos em que você me humilhou? Naemi até pensou em brincar, mas se calou. — Se te consola, eu passei um bom tempo pensando em te derrotar.

Com isso, Gabi riu. — Pelo visto, até hoje.

Naemi controlou o seu impulso de revirar os olhos. — Hábitos antigos não morrem facilmente.

As duas riram. Gabi, aparentemente divertida; Naemi, em completa necessidade de cavar um buraco no chão e se enterrar lá para sempre.

— Por que você não me disse nada antes?

Gabi riu, um pouco sem graça. — Seria estranho falar que te reconheci quando eu te vi pela primeira vez.

Naemi se lembrou do evento ocorrido que envolvia toalhas e pura humilhação, seu rosto tomando alguns tons de vermelho. — É. Melhor não.

Gabi riu, desta vez mais alto. De canto, a encarou feio, mas sem nenhum real pesar em seus olhos.

— E por que não me disse depois?

— Quando você encheu a cara?

Naemi ameaçou desferir um chute fraco com a provocação da mulher. Gabi, percebendo isso, se afastou em meio a risos.

— Eu até pensei em te contar durante a festa. — de forma imediata, Naemi arqueou as sobrancelhas em curiosidade. Gabi permaneceu alguns segundos em silêncio. — Quando você me desafiou.

A morena franziu o rosto, seus olhos repletos de confusão. — Sobre o treino de equipes?

Gabi assentiu com a cabeça.

— O que isso tem a ver com me reconhecer?

A capitã sorriu, parecendo envergonhada desta vez. — Ah, qual foi! Você não se lembra?

A confusão de Naemi somente aumentou. Gabi, em resposta, bufou um pouco frustrada.

— No passado, depois de um dos nossos jogos, você—

— Ah, Gabriela Guimarães!

As duas ergueram seus rostos em direção a terceira voz, pegas de surpresa. Aliviadas, perceberam que se tratava de um funcionário.

— O técnico Zé Roberto quer conversar com você.

Como se estivesse procurando uma escapatória, Gabi se ergueu do chão num salto. A mulher a olhou de escanteio, sorrindo fraco com a confusão óbvia escrita no rosto de Naemi.

— É bom te ter em quadra comigo, Naemi.

Nisso, tanto Gabi quanto o funcionário foram embora, deixando Naemi completamente estirada no chão, confusa e sem palavras.

Gabi sabia.

Naemi pensou em ligar para Breno, o único que entenderia o seu surto naquela ocasião, mas logo se lembrou da rotina puxada que o rapaz provavelmente estaria atendendo em outros projetos e desistiu. O ligaria depois.

O ódio está no ar | Gabi GuimarãesOnde histórias criam vida. Descubra agora