Capítulo III

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Naemi foi a primeira a acordar das duas ali. Na manhã, o sol entrou pelas pequenas frestas das cortinas de material barato, e a atingiu com força em seu rosto. Nos primeiros instantes, Naemi sequer conseguiu abrir os olhos, e quando finalmente conseguiu tal feito, a dor de cabeça foi arrebatadora o suficiente para que a fizesse fechá-los de novo.

Dentre as milhares de coisas que detestava, beber estava entre elas.

Com muito esforço, ergueu metade de seu corpo do colchão, sentindo cada músculo tenso esticar contra a sua vontade. Desajeitada, coçou os olhos, e quando finalmente os abriu, ela a viu.

A primeira coisa. Ou pessoa, na verdade. Ali ao seu lado, na outra beliche, estava Gabi. A mulher ainda dormia tranquilamente, como se não tivesse experimentado uma gota de álcool na noite anterior. Ali, daquele jeito, quieta e sem sorrisos provocantes, Naemi se permitiu observá-la por um momento.

Percebendo agora, os traços finos de seus lábios combinavam com o seu maxilar marcado, e os pequenos cachos pareciam moldar o seu rosto à medida que permaneciam caídos sob sua testa. Naemi nunca admitiria, nem sequer em um sussurro, mas Gabriela era bonita.

Imediatamente, afastou os pensamentos estranhos e junto com eles, desejou também afastar a sua dor de cabeça. Tomou uma pílula para enxaqueca e temendo atrasar para o café da manhã, decidiu começar a se arrumar.

Quando se olhou no espelho, não pôde evitar a exclamação que fugiu de seus lábios. Ao contrário de Gabi, Naemi estava inteiramente acabada.

— Você está melhor? — se sobressaltou ao escutar uma voz logo atrás de si, rouca e mais grave que o normal. Naemi a olhou através do pequeno espelho que havia no banheiro, engolindo seco ao notar que a mulher vestia somente um top preto junto de um short folgado.

— Se estou melhor?

A mulher assentiu. — Você… Bebeu bastante ontem.

Mortificada e totalmente desinteressada em saber o que suas palavras exatamente significavam, Naemi apressou-se em se arrumar. Gabriela somente riu, divertida.

Eram somente sete da manhã e a sua paz já havia ido embora.

— Hoje devem servir tapioca. Você gosta, não é? — Gabi comentou distraidamente, mais preocupada em calçar os sapatos.

Naemi demorou alguns segundos até entender o que a mulher realmente havia dito.

— Como você sabe?

Gabi suspirou numa falsa inocência, e no mesmo instante Naemi cerrou seus olhos. — Você me contou ontem, ué.

Não é possível.

— Eu te contei ontem?

Gabi, agora sentada na cama, apoiou os dois braços no colchão e a encarou, um sorriso ligeiramente divertido em seus lábios. — Sim. Você também me disse que—

— Eu já vou descer.

A mulher se apressou para sair dali, escutando as risadas de Gabi se distanciarem ao que caminhava rapidamente pelos corredores. O que mais havia falado para ela?

Não. Não queria saber.

— Naemi! — ao chegar ao refeitório imenso, escutou alguém gritando por seu nome.

Ali, um pouco mais distante, Carol acenava para a mulher, chamando-a com a mão. Instintivamente se assustou, não esperando que a mais velha sequer tomasse alguma iniciativa em se comunicar com ela.

Ao olhar para o cardápio, percebeu que Gabi estava certa. Era tapioca, um de seus pratos favoritos no café da manhã. Como havia revelado uma informação dessas para a capitã?

O ódio está no ar | Gabi GuimarãesOnde histórias criam vida. Descubra agora