Naemi foi a primeira a acordar das duas ali. Na manhã, o sol entrou pelas pequenas frestas das cortinas de material barato, e a atingiu com força em seu rosto. Nos primeiros instantes, Naemi sequer conseguiu abrir os olhos, e quando finalmente conseguiu tal feito, a dor de cabeça foi arrebatadora o suficiente para que a fizesse fechá-los de novo.
Dentre as milhares de coisas que detestava, beber estava entre elas.
Com muito esforço, ergueu metade de seu corpo do colchão, sentindo cada músculo tenso esticar contra a sua vontade. Desajeitada, coçou os olhos, e quando finalmente os abriu, ela a viu.
A primeira coisa. Ou pessoa, na verdade. Ali ao seu lado, na outra beliche, estava Gabi. A mulher ainda dormia tranquilamente, como se não tivesse experimentado uma gota de álcool na noite anterior. Ali, daquele jeito, quieta e sem sorrisos provocantes, Naemi se permitiu observá-la por um momento.
Percebendo agora, os traços finos de seus lábios combinavam com o seu maxilar marcado, e os pequenos cachos pareciam moldar o seu rosto à medida que permaneciam caídos sob sua testa. Naemi nunca admitiria, nem sequer em um sussurro, mas Gabriela era bonita.
Imediatamente, afastou os pensamentos estranhos e junto com eles, desejou também afastar a sua dor de cabeça. Tomou uma pílula para enxaqueca e temendo atrasar para o café da manhã, decidiu começar a se arrumar.
Quando se olhou no espelho, não pôde evitar a exclamação que fugiu de seus lábios. Ao contrário de Gabi, Naemi estava inteiramente acabada.
— Você está melhor? — se sobressaltou ao escutar uma voz logo atrás de si, rouca e mais grave que o normal. Naemi a olhou através do pequeno espelho que havia no banheiro, engolindo seco ao notar que a mulher vestia somente um top preto junto de um short folgado.
— Se estou melhor?
A mulher assentiu. — Você… Bebeu bastante ontem.
Mortificada e totalmente desinteressada em saber o que suas palavras exatamente significavam, Naemi apressou-se em se arrumar. Gabriela somente riu, divertida.
Eram somente sete da manhã e a sua paz já havia ido embora.
— Hoje devem servir tapioca. Você gosta, não é? — Gabi comentou distraidamente, mais preocupada em calçar os sapatos.
Naemi demorou alguns segundos até entender o que a mulher realmente havia dito.
— Como você sabe?
Gabi suspirou numa falsa inocência, e no mesmo instante Naemi cerrou seus olhos. — Você me contou ontem, ué.
Não é possível.
— Eu te contei ontem?
Gabi, agora sentada na cama, apoiou os dois braços no colchão e a encarou, um sorriso ligeiramente divertido em seus lábios. — Sim. Você também me disse que—
— Eu já vou descer.
A mulher se apressou para sair dali, escutando as risadas de Gabi se distanciarem ao que caminhava rapidamente pelos corredores. O que mais havia falado para ela?
Não. Não queria saber.
— Naemi! — ao chegar ao refeitório imenso, escutou alguém gritando por seu nome.
Ali, um pouco mais distante, Carol acenava para a mulher, chamando-a com a mão. Instintivamente se assustou, não esperando que a mais velha sequer tomasse alguma iniciativa em se comunicar com ela.
Ao olhar para o cardápio, percebeu que Gabi estava certa. Era tapioca, um de seus pratos favoritos no café da manhã. Como havia revelado uma informação dessas para a capitã?
VOCÊ ESTÁ LENDO
O ódio está no ar | Gabi Guimarães
FanficNaemi tinha somente dez anos quando encarou a sua primeira derrota durante um amistoso de vôlei. Desde aquele dia tão marcante, a mulher jurou bloquear todos os ataques que receberia. Especificamente os de Gabi Guimarães, titular do time na época. ...