A Presa e O Caçador

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Klaus descera ao vilarejo, tudo parecia quieto demais, a pouco tempo a festa governava o lugar, mas agora, silêncio. O feiticeiro caminha por entre as vielas, buscando alguma pista para o desaparecimento de todos. E não demorou muito para que percebesse a estranha duplicidade no som de seus passos.

- Eu sei que está me seguindo, revele-se.

A figura de um lobo, maior que um cavalo, surge atrás de Klaus, com sua boca pingando de baba, ele está faminto.

- Entendi, mandaram o cachorrinho do império atrás de mim. - o feiticeiro não parecia intimidado com o olhar voraz da criatura. - Vai se esconder atrás do seu bichinho? - ele continua.

- Um verdadeiro caçador se revela na hora certa, mas você certamente é uma presa especial. - diz Florence, saindo de uma névoa mágica que encobria sua presença. - Me entregue a garota, e seus amiguinhos serão devolvidos as suas casas.

- Todos morrerão com suas almas dilaceradas, então eu tenho uma sugestão melhor.

- Acho que ainda não entendeu Klaus. Você é a presa aqui, não tem poder de escolha.

- Tremam! - a voz rouca do feiticeiro ecoou como um sussurro na mente de todos ali presentes.

- Cansei de papo, Vorax, hora de caçar. - diz Florence, antes de perceber que seu fiel companheiro, antes pronto para devorar o que estivesse a sua frente, agora dava passos para trás, trêmulo, afastando-se do bruxo. - O que está fazendo Vorax?! Não me diga que está com medo daquela coisa?

- Parece que cão que ladra, não morde no fim das contas. - Klaus o provoca.

- Não importa! Atirem nele! - grita apontando para o esqueleto, porém a única reação percebida é o som de passos apressados.

As pessoas que haviam sido feitas de refém corriam de volta para suas casas, passando pelo feiticeiro, o agradecendo com um aceno, quase como se não temessem por suas vidas, pois sabiam que ele viria ao resgate. Nos telhados e nos becos restaram arqueiros trêmulos, sem conseguir reagir a nenhum outro estímulo, a não ser a presença aterradora de Klaus.

O feiticeiro em um piscar de olhos se desfaz em sombras, ressurgindo diante um dos caçadores, devorando sua alma com um único toque. Ele repetiu seu ato, consumindo um após o outro, alguns tentaram correr, mas não se pode fugir do devorador. No fim restou apenas Florence, seus olhos não acreditavam no que estava vendo, homens caindo um a um. Então, correu para a floresta subindo a montanha. Klaus o perseguiu, através das árvores, quase o perdendo de vista.

- Pare! - sua voz, mais uma vez estremece e assim foi feito, o caçador praticamente congelou. - Pra quem se diz o rei dos caçadores, não acho que faça seu estilo fugir como uma doninha.

- Você é bom, tenho que admitir, agora entendo o porquê do Imperador querer sua cabeça, mas sabe, - Florence que parecia paralisado, vira-se para o feiticeiro. - você é a presa aqui, e não o contrário. - do meio das árvores, uma flecha silenciosa atinge em cheio a mão que Klaus segurava seu cajado, que caí no chão. Seus ossos escurecem, como se estivesse apodrecendo. - E um bom caçador sabe que nem toda presa pode ser encarada de frente.

Um uivo pôde ser ouvido, e de cima do bruxo, surge Pietro, em sua forma bestial, o agarrando em um abraço esmagador, ao mesmo tempo em que desfere uma poderosa mordida em seu ombro.

- Uma armadilha então, entendo, definitivamente é um bom plano. - Klaus observa as presas cravadas em seus ossos, junto ao apodrecimento que se espalha. - estes dois são capazes de ferir minha alma, então essa é a tão famosa habilidade da família Cannis.

- Você é bem arrogante não é? - diz Florence, que caminha até ele com uma de suas sobrancelhas trêmulas. - Essa sua serenidade já está me tirando do sério, então sinto muito, o papo acaba agora.

As Crônicas de Alice e Klaus: Coração e OssosOnde histórias criam vida. Descubra agora