Sinclair

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O som dos passos firmes de Albert Sinclair ecoavam pelos corredores, que jaziam banhados de sangue. A cena com que se deparava era deplorável, um bando de cavaleiros, sendo derrotados por uma garotinha de 15 anos. Ela parecia uma criatura selvagem aos seus olhos, com uma espada roubada em suas mãos, e suas roupas sujas do sangue de seus inimigos, para Albert, isso era inaceitável. A garota corria em sua direção visando sua jugular, contudo uma única palavra pôs um fim em tal desastre.

— Restringir!

A garota cai no chão, apesar de ainda estar acordada, seu corpo perdeu a força, e uma espécie de símbolo estranho se forma em seu pescoço, como uma coleira mágica. Para ele, não restavam mais dúvidas, ela era a criança perdida. Uma coincidência infeliz do destino, porém agora, seus problemas pareciam ter encontrado a conclusão. Abert se aproxima dela, erguendo seu rosto para analisa-la melhor.

— Quase impecável, os traços da família genuinamente percorrem sua face, como se chama criança?

A resposta da menina se resumiu a um cuspe na face de Albert, que se levanta limpando o rosto com uma flanela. Uma mulher se aproximava, seu semblante era melancólico, e suas vestes lembravam a de uma empregada.

— Chegou bem na hora, minha querida irmã. Finalmente! Depois de 15 anos, finalmente encontramos nossa querida sobrinha. — comemorava Albert, se dirigindo a nova figura que jazia ali. — Porém ela se recusa a se apresentar, deveríamos ensina-la bons modos.

A mulher se abaixa, aproximando-se da garota, e a encara profundamente, como se estivesse espiando sua alma através de uma janela.

— Eu me chamo Isabel Sinclair, e você? — um silêncio perturbador perdurou por meio minuto. — Não precisa ficar assustada Alice, agora você tá em casa.

— Que maravilha, ao menos o nome não é tão ruim, agora venha! Preciso que você cuide dos preparativos para a próxima reunião do conselho. — Albert gesticulava, revelando uma coleira mágica no pescoço de Isabel também, puxando-a para fora do salão. Após sua saída, ele voltou-se novamente a Alice, permitindo que ela se mova, fazendo um sinal para que o siga.

A cabeça da menina estava devastada, era como se alguém acabara de invadir sua mente vasculhando algo, e largasse tudo bagunçado. Apesar de nervosa, ela não era burra, sabia que a força não seria a resposta para fugir. Além de tudo, precisava entender o que aqueles estranhos queriam, como a conheciam, e principalmente, que magia era aquela que a aprisionara. Por sua vez, Alice decide segui-lo em silêncio.

Ambos caminham por um longo corredor, Albert cantarolava animado com sua nova descoberta, enquanto Alice se sentia apreensiva, buscando possíveis rotas de fuga, mas sua angústia não permitiu que permanecesse em quietude.

— O que quer comigo afinal?

— Oras, você é da família, vou te apresentar o lugar. — respondia enquanto a encarava de canto de olho com um sorriso sádico.

— Do que está falando? Minha família está morta. Eu os vi morrer.

— Se te deixaram nesse estado deplorável, mereciam a morte, de fato. Mas lhe garanto que aqueles com quem viveu não eram realmente sua família. — Albert para diante uma porta um pouco mais velha, de aspecto abandonado, seu semblante pomposo, por um breve momento, é sobreposto por melancolia. — este era o quarto de minha falecida irmã mais velha, sua mãe.

— O que? Não, isso é impossível! Por que eu deveria acreditar em alguém que me sequestrou e me mantém aprisionada em um feitiço estranho?

— Pois veja com seus próprios olhos. — Albert abre a porta, revelando um quarto simples, alguns enfeites com as fases lunares e diversos rabiscos nas paredes com símbolos repetidos, uma espécie de losango envolto de um círculo. Neste momento a cabeça de Alice palpita, e o mesmo emblema ressoa em sua mente, como o sino de uma catedral badalando ao meio dia. Era quase como se ele houvesse sido entalhado nas profundezas de sua mente. — Você reagiu rápido, veja, este é o selo que representa nossa família, entalhado em todas as que nascerão mulheres, quando ainda são fetos. Ele restringe qualquer resquício de magia que haja em seu corpo, e o deixa sob minha jurisdição, o líder da família. Não me entenda mal, mas é que vocês possuem um poder perigoso demais para deixar na mão de seres tão emotivos.

As Crônicas de Alice e Klaus: Coração e OssosOnde histórias criam vida. Descubra agora