A Menina que Sobreviveu

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Talvez, a pior visão que uma criança poderia ter, seria a de uma criatura escamosa devorando a alma de seus pais. Infelizmente, Alice, com seus nove anos, tivera tal visão. Após a monstruosidade terminar de se deliciar com o casal, voltou-se para a jovem, que tremia enquanto engasgava em suas próprias lágrimas.

— Que criaturinha interessante. — rosnou o ser reptiliano, passando sua garra sobre o rosto de Alice, que se encontrava paralisada. — Você não tem cheiro de medo. — ele a farejava de perto.

De fato, os olhos da menina não demonstravam pavor, suas sobrancelhas arqueadas e sua testa enrugada entregavam seus sentimentos, era puro ódio. Alice empurrou a mão do lagarto, tirando-a de seu rosto.

— Eu vou te matar! Seu monstro! — sua voz trêmula com as lágrimas ecoavam na floresta escura. A criatura por sua vez, ao mesmo tempo em que demonstrava divertimento, parecia ofendida.

— Eu reconheço sua determinação pequeno vagalume. Lhe ofereço um acordo, pouparei sua vida agora e permitirei que me acompanhe, e quando se sentir pronta , me desafie para um duelo justo, onde poderá obter sua vingança. Porém servirá de isca, para atrair mais almas ingênuas a mim.

A primeiro momento, Alice queria recusar, mas ao ver as cascas vazias que os corpos de seus pais se tornaram, ela percebeu que talvez não haja outra saída. Abaixando sua cabeça, a pequena garota indefesa aceitou o acordo.

Alguns dias depois, Alice o aguardava na frente de uma taberna, onde dezenas de gritos poderiam ser ouvidos. Logo após o silêncio, uma figura encapuzada sai do local. A garota o encarava com desprezo, enquanto o mesmo conjurava uma magia, invocando um enorme lagarto bípede, com um pequeno caixão infantil em suas costas. Ele retira seu capuz, revelando seu crânio esquelético, e adentra o pequeno objeto de madeira.

— Você é uma criatura suja! — afirma a jovem, cuspindo no chão próximo dele.

Os olhos do réptil brilham e o esqueleto responde através da criatura.

— Adoro sua audácia, pequeno vagalume. Vamos adiante.

Durante as noites frias, a criatura montava uma fogueira, já Alice se deitava a distância. O enorme lagarto, com sua voz distorcida, a chama para perto do fogo, mas é imediatamente rejeitado.

— Me recuso a dormir perto de um monstro!

— Sua teimosia é primorosa, mas devo admitir, é irritante que me chame dessa forma constantemente. Já lhe disse que meu nome é Klaus, e assim exijo que me chame. — ele vocifera.

— Isso não consta em nosso acordo. — ela da de ombros, e se vira para o outro lado.

Após algumas horas, Klaus percebe que a garota adormeceu, ele avalia a temperatura dela, estava gelada, então com uma magia simples, ele conjura uma fogueira ao seu lado.

Os anos se passam, e a rotina da dupla se mantinha igual. Klaus ia de cidade em cidade consumindo 7 almas de forma metódica. Sempre que um cavaleiro planejava intervir, Alice entrava em ação, tanto o atraindo para uma armadilha mortal, quanto o distraindo durante o combate. A jovem assistia de perto, horrorizada, o assassinatos brutais daquela criatura ardilosa, porém estava atenta, analisando o seu jeito de lutar.

Um certo dia, um grupo inteiro estava em busca de Klaus. Alice como sempre os atraia, alegando ter fugido do monstro, porém algo que ela jamais imaginou que aconteceria, aconteceu, os caçadores a pegaram como refém. Havia um boato da criatura estar vagando com uma garota por ai, Alice batia perfeitamente com a descrição . Um dos guerreiros colocou uma pequena lâmina no pescoço da garota, enquanto a arrastavam pelo cabelo. Alguns acharam brutal demais, afinal era apenas uma criança, porém ninguém tinha coragem de se opor a decisão, até porque todos ali tinham motivações convincentes para caçar Klaus.

As Crônicas de Alice e Klaus: Coração e OssosOnde histórias criam vida. Descubra agora