O som da lâmina metálica sendo arrastada pelo chão, sinalizava o fim da carnificina. Alice caminhava lentamente, deixando para trás um mar de corpos, e com paços cansados, aproximava-se de uma figura esquelética, encoberta por um manto negro.
— Você, de fato, se tornou uma exímia espadachim, devo admitir. — ele a recebia com sua voz rouca.
— Não graças a você Klaus. — retrucava com um suspiro.
— Bom, descanse vagalume, acredito que já esteja pronta, logo partiremos.
— Pronta? Pronta pra que? Pra onde vamos agora?
Ela o enchia de perguntas, que foram respondidas apenas com um sinal de mão, pedindo que se acalme, pois logo ela saberá. Após um breve interlúdio, ambos saíram em viagem, e apesar dos esforços de Alice, Klaus se recusava a dar respostas claras sobre seu destino. Uma noite, sob a luz da fogueira, ela o pegara lendo um livro sobre cajados mágicos, e curiosa, indagou.
— Se cansou desse pedaço de graveto que carrega pra cima e pra baixo?
— O fôlego dele está acabando. — A resposta, fria e enigmática a deixara mais confusa que antes, afinal, por que um cajado teria fôlego? Esticando-se para espiar, uma única imagem pôde ser compreendida dentre uma infinidades de sigilos ilegíveis, um coração de dragão.
— Eles existem mesmo? — indagou a menina com genuíno interesse.
— Sim, mas entraram em extinção. — respondeu, sem se importar com a intromissão.
Nesse momento, Alice caiu pra trás, uma pequena gota de suor escorria de sua têmpora.
— Entraram em extinção? Não estão extintos? Não me diga que? Você é louco?— Não se preocupe, não tenho intenções de entrar em conflito com um dragão etéreo.
A conversa havia escalado mais do que Alice jamais imaginária, porém ela encarou a situação como uma oportunidade. Esse seria o momento perfeito para assistir de camarote Klaus lutando a sério, e assim, analisar suas fraquezas. Já que simples caçadores de recompensa, haviam se tornado moscas irritantes até mesmo para ela, um dragão poderia ser a resposta que procurava. Apenas uma questão a preocupava, Klaus definitivamente não queria lutar, ela teria de coloca-lo em uma situação onde não teriam outra opção.Alguns dias se passam, e a dupla se encontrava nos pés de um vulcão adormecido. Alice engolia seco, ansiosa e temerosa pelo que estava por vir. Klaus permanecia com seu semblante sério e pesado, a situação em que estavam prestes a enfrentar, parecia delicada, até mesmo para ele. Com um movimento leve de mão, o esqueleto abre uma passagem no meio da montanha, um túnel que os levaria ao interior, com um forte suspiro da garota, eles seguiram.
Já dentro do local, Klaus a alertou de não fazerem nenhum tipo de ruído, pois despertaria a fera. Ela tinha dúvidas de como ele teria tanta certeza de que estava dormindo, mas sua resposta veio no momento seguinte. Uma enorme criatura, de escamas prateadas, com um enorme par de chifres em sua cabeça, e uma pelagem acinzentada que seguia por toda a parte superior de seu corpo, como a crina de um cavalo. Alice ficará perplexa por um instante, admirando a majestosa criatura em sono profundo, porém diferente das histórias, ela não guardava ouro, mas sim um ninho com três ovos, para onde Klaus apontou.
— Aqueles são nosso alvos, pegue apenas um, e saia sem ser percebida.
Ela caminhou de fininho, parando a cada suspiro da fera, seus nervos estavam a flor da pele, mesmo sabendo que, se algo desse errado, Klaus tomaria a frente. Ao ficar cara a cara com o dragão, ela parou mais uma vez, seus olhos se prendiam em um símbolo marcado em sua testa, de alguma forma lhe parecia familiar. O esqueleto, que observava tudo de longe parecia preocupado com a parada repentina da garota.
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As Crônicas de Alice e Klaus: Coração e Ossos
FantasiaAlice, uma jovem que busca vingança pela morte de seus pais, mas seu alvo é um feiticeiro antigo e cruel, o qual lhe oferece um acordo difícil de recusar. Ele concederá a ela o direito de um duelo sobre as circunstâncias dela, em troca, ela deverá a...