| CAPÍTULO OITO

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⠀⠀⠀PARA NASCIMENTO, TER ELISE EM SUA CASA não era uma situação desconfortável; pelo contrário, a presença dela trazia uma estranha sensação de conforto, algo que ele não experimentava há muito tempo. A figura feminina que agora habitava seu espaço lhe remetia aos tempos em que Rosane morava ali. A casa, que antes parecia apenas um lugar de passagem, agora começava a ganhar vida novamente. As preocupações em manter a casa organizada, em pequenos gestos que ela fazia sem esperar nada em troca, preenchiam o ambiente com uma energia diferente.

Elise, com sua natureza delicada e silenciosa, agia de forma quase ingênua, tentando encontrar maneiras de retribuir o que Nascimento estava fazendo por ela. Era como se, em cada gesto, ela buscasse expressar sua gratidão. O simples fato de arrumar a sala, colocar os pratos na pia, ou dobrar uma manta que ficara esquecida no sofá eram pequenos atos que revelavam sua alma generosa. Não era uma obrigação, mas um desejo sincero de trazer um pouco de ordem ao caos interno que ambos viviam.

Para Nascimento, esses gestos, por mais simples que fossem, tinham um valor imensurável. Eles lembravam-lhe de um tempo em que sua casa era um lar, cheio de vida e amor. Ver Elise ali, movendo-se pelo espaço com delicadeza, trazia um sopro de normalidade em meio ao turbilhão de emoções que os cercava.

Elise encontrou abrigo na casa de Roberto, a sensação de desconforto ainda pairava sobre ela. A casa, por mais acolhedora que fosse, ainda não era seu lar. Não eram apenas os móveis diferentes ou a disposição dos cômodos, mas a atmosfera, a energia do lugar.
Naquela manhã, antes das sete, Elise estava de pé na cozinha. Seus cabelos soltos, com ondas naturais que caíam sobre seus ombros, balançavam levemente enquanto ela se movia com uma graça sutil, quase tímida. O vapor subia da chaleira, criando um nevoeiro íntimo entre ela e o ritual matinal de preparar o café.

A luz suave da manhã penetrava pelas frestas das cortinas, desenhando linhas douradas que dançavam pelos cômodos da casa, dando vida aos móveis silenciosos. O som do chuveiro ao longe era um sinal claro de que Roberto já estava desperto, e o ruído constante da água sobre os azulejos ecoava pela casa, tornando sua presença uma constante, mesmo sem estar visível.
Elise, em um estado quase automático, questionava-se sobre como havia chegado a esse ponto. Quando foi que começou a agir como se a vida deles tivesse se entrelaçado de tal forma que suas rotinas já não eram mais apenas suas? Quando ela passou a se preocupar com o bem-estar daquele homem a ponto de preparar o café pensando nele? Era estranho, sem dúvida, como se a dinâmica de um casal houvesse se instaurado sem que ambos dessem por isso. Sentia-se como uma peça deslocada tentando encontrar seu encaixe em um quebra-cabeça que ainda não compreendia.

Os pensamentos de Elise, porém, foram interrompidos pelo apito da chaleira, trazendo-a de volta ao presente. A água, agora fervente, estava pronta para se misturar ao pó escuro, e o aroma do café começou a invadir a cozinha, preenchendo o ar com uma fragrância reconfortante que parecia abraçar cada canto daquele lugar. Ela respirou fundo, deixando o cheiro doce se misturar às suas preocupações.

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⏰ Última atualização: Aug 23 ⏰

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