O amor pode ser uma catástrofe?

O Quase também é doloroso.

São duas da manhã, e eu já deveria estar desacordada. Mas minha mente me acordou, implorando que eu colocasse para fora tudo o que você me faz sentir, me implorou para que eu escrevesse esse texto. Essa não é uma prosa poética que seja digna de elogios e muito menos um poema belíssimo. É talvez um texto de despedida. Nunca me apeguei na possibilidade de um dia me encontrar escrevendo um texto de despedida para ti, mas sabemos que o amor as vezes pode nos machucar, na mesma intensidade com que nos faz transbordar de alegria. talvez se alguém tivesse me avisado que eu estaria aqui no escuro escrevendo esse texto de despedida para ti, certamente eu teria gargalhado, teria achado irônico, porque até ontem, isso parecia impossível. Mas cá estou, com a mente toda embaraçada, pois não encontro as palavras certas para me despedir. É meio embaraçoso tentar despedir-se de alguém e ao mesmo tempo sentir a necessidade de ficar. É embaraçoso ir embora, quando você carrega em seu coração o desejo de permanecer.
Por quê me fez sorrir para depois me presentear com o tratamento do silêncio ? Qual é a graça em ver-me silenciada? Por quê teve a audácia de escalar montanhas para chegar até a mim se o teu  plano era sumir?  Por quê está colocando lágrimas no meu rosto? Por quê não me faz mais sorrir? Alguns amores são melhores na inexistência. Mas sabemos que o nosso não. Deveríamos ter existido. Como um quase pode doer tanto? Estou deixando o meu coração na tua porta, cuide dele por mim. "Não seja mais uma catástrofe" Foi isso o que eu implorei mentalmente para ti. Achei que nunca te encontraria e que nunca te encaixaria nas minhas prosas de dor, isso parecia tão improvável, parecia não fazer sentido algum, mas um coração que foi destinado a sentir dor, nunca deixará de sentir dor, não importa o quanto a catástrofe esteja distante ela sempre se aconchegará. Estou sorrindo ironicamente enquanto escrevo, mas sinto meu coração gelado, é como se os meus sentimentos estivessem sido congelados, é como se eu tivesse um iceberg no lugar do coração, e então só consigo pensar com a mente e não consigo avaliar com o coração. Eu espero que você consiga sorrir quando lembrar de mim. Eu estou te deixando ir. Pior do que te ver a ir embora, é ver-te aqui, preso nessa bolha, anunciando a tua partida silenciosamente. Vá de pressa para que eu possa cuidar rápido de mim.  As vezes nós precisamos resolver as questões internas que tanto nos assombram para podermos achar a felicidade nos pequenos detalhes. As vezes precisamos resolver os conflitos  do passado para podermos fazer as pazes com as nossas novas versões. Ninguém consegue enxergar o que tem, enquanto se encontra aprisionado nas sombras do que tinha. Liberte-se das dores do passado. Ninguém consegue enxergar o presente, enquanto se vê preso nas migalhas que sobraram do passado. É impossível ser feliz enquanto nos agarramos as tristezas do passado sem o desejo de as soltar. Eu espero fielmente que tu consigas sorrir sem medo de chorar, que de alguma forma consigas um dia enxergar o mesmo que eu enxergava quando olhava para ti. Eu estou te deixando ir, e sei que jamais conseguirei dizer tudo isso olhando nos seus olhos, por isso, estou aqui, escrevendo esse texto de despedida. Você colocou todas essas borboletas dentro de mim, mas eu sinto que agora elas já não conseguem voar, é como se elas estivessem adormecidas a longo prazo. Estou te deixando aqui, estou deixando todos os sorrisos que você colocou no meu rosto, estou abrindo mão de todas as canções que algum dia dedicaste-me e automaticamente estou deixando aqui todas as prosas que fiz pensando em ti.
Parece que agora as estações mudaram, você não me faz mais sorrir, e eu não já consigo te prender a mim. Será que isso é um adeus aos bons tempos?

                                             
Autora: Núria Matias.