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ISABELLA VALENTINA MOREAU PEREIRA, ou simplesmente Bella, era uma garota de 14 anos que já carregava consigo a complexidade de muitas vidas. Desde pequena, Bella convivia com a tensão em sua casa, resultado do divórcio dos pais. Ela morava com sua mãe, Clara, seu padrasto, Marcelo, e sua irmã mais nova, Heloisa. A relação de Bella com Clara era particularmente complicada, marcada por discussões e constantes comparações que a mãe fazia entre Bella e sua prima Rosamaria.

Rosamaria, ou Rosa, como todos a chamavam, era uma jogadora de vôlei de 24 anos, considerada a estrela da família. Clara, orgulhosa do sucesso de Rosa, frequentemente comparava Bella à prima, o que só servia para aumentar a frustração e a sensação de inadequação da jovem. Para Clara, Bella deveria seguir os passos de Rosa, ter um objetivo claro e ambicioso, em vez de perder tempo sonhando e questionando tudo ao seu redor, como o pai, Marcos, sempre a encorajava a fazer.

Marcos, pai de Bella, era um professor de filosofia que morava relativamente perto, mas passava grande parte do tempo em sua casa de praia, em uma pequena cidade isolada. A casa de praia era o refúgio de Bella, um lugar onde ela podia escapar das pressões da mãe e se entregar às conversas filosóficas com o pai. Mas Clara odiava quando Bella mencionava Marcos, o que tornava as conversas sobre ele praticamente proibidas.

Isabella acordou naquela manhã de sábado com os primeiros raios de sol que invadiam seu quarto, pintando as paredes com um tom dourado suave. O relógio ao lado da cama marcava 7:00, mas Bella já estava acostumada a levantar cedo, mesmo nos fins de semana. Não era exatamente uma escolha; era mais uma questão de hábito, algo que sua mãe, Clara, sempre insistia.

— O dia é muito curto para ser desperdiçado na cama — ela costumava dizer, o que soava mais como uma crítica do que como um conselho.

Bella se espreguiçou, os olhos ainda meio fechados, e começou a se preparar para o dia. Enquanto arrumava a cama, seus pensamentos divagavam sobre as últimas semanas. Desde que havia começado o primeiro ano do ensino médio, as coisas estavam mais intensas, não só na escola, mas também em casa. A relação com sua mãe, Clara, sempre foi complicada, mas ultimamente parecia estar se deteriorando ainda mais.

Clara era uma mulher de opiniões fortes, alguém que não admitia seus erros e raramente abria espaço para os outros. Tudo tinha que ser do jeito dela, e quando não era, ela se colocava no papel de vítima. Esse comportamento causava inúmeras discussões, principalmente com Bella, que herdara do pai a paixão por debates e a capacidade de enxergar o mundo de forma crítica. No entanto, diferentemente de Marcos, Bella não gostava de discutir por discutir. Ela tinha suas opiniões bem formadas, mas evitava confrontos desnecessários, especialmente com sua mãe, porque sabia que isso só levaria a mais conflitos.

Assim que terminou de se vestir, Bella desceu para a cozinha, onde encontrou Clara já preparando o café da manhã. A cozinha estava organizada, como sempre. Clara tinha uma obsessão por limpeza e ordem, e isso se refletia em todos os aspectos de sua vida.

— Bom dia, mãe — Bella cumprimentou, pegando uma xícara para si.

— Bom dia — Clara respondeu sem desviar os olhos da frigideira, onde mexia os ovos com precisão quase cirúrgica. Havia algo de tenso no ar, uma sensação que Bella conhecia bem. Não era preciso muita intuição para perceber que sua mãe estava irritada.

— Está tudo bem? — Bella perguntou, tentando ser cuidadosa.

Clara soltou um suspiro longo antes de responder, ainda sem olhar para a filha.

— Sua irmã ainda não arrumou o quarto dela, e eu já disse mil vezes que não gosto de bagunça. Mas parece que ninguém aqui me ouve.

Bella mordeu o lábio, contendo a vontade de retrucar. Helô, sua irmã mais nova, tinha apenas sete anos, e a ideia de um quarto perfeitamente organizado não era exatamente prioridade na vida dela.

𝐒𝐔𝐁𝐋𝐈𝐌𝐄 | Luzia NezzoOnde histórias criam vida. Descubra agora