𝐒𝐔𝐁𝐋𝐈𝐌𝐄 | Luzia Nezzo

8

QUANDO BELLA E ISA finalmente pisaram no aeroporto Charles de Gaulle, era como se um novo mundo se revelasse diante delas. A grandiosidade do lugar, as luzes refletidas no piso de mármore polido, o som de vozes em diferentes línguas se misturando no ar... Tudo era tão distante da realidade que conheciam no Brasil. Para as duas amigas, essa era a primeira viagem internacional, e a excitação misturada ao nervosismo fazia o coração de Bella bater mais rápido do que o normal.

Bella olhava ao redor, absorvendo cada detalhe. As enormes janelas do aeroporto revelavam um céu acinzentado, típico de Paris, e lá fora, a cidade parecia aguardar por elas. Enquanto caminhavam em direção à saída, Bella sentia o aroma distinto de café recém-preparado e croissants quentes vindos de uma pequena cafeteria próxima. O cheiro a fez pensar na França dos filmes que assistira tantas vezes, e um leve sorriso curvou seus lábios. No entanto, algo mais profundo a incomodava, algo que ela não conseguia definir muito bem.

— Belinha, você tá me ouvindo? — Isa perguntou, sua voz cortando os pensamentos dispersos de Bella.

Bella piscou, voltando sua atenção para a amiga.

— Desculpa, o que você disse? — Ela perguntou, tentando disfarçar o desconforto que sentia.

— Perguntei o que você acha do hotel que a Rosa reservou pra gente. Pelas fotos, parece incrível! — Isa repetiu, os olhos brilhando de excitação.

— Ah, sim, parece ótimo. Não vejo a hora de chegar lá. — Bella respondeu, forçando um sorriso.

Mas Isa conhecia Bella bem o suficiente para perceber que algo estava diferente. Bella era normalmente a mais falante das duas, sempre com um comentário engraçado ou uma observação perspicaz. Mas desde que saíram do Brasil, Bella estava mais quieta, mais introspectiva, e isso começava a preocupar Isa.

— Tem certeza de que está tudo bem? — Isa insistiu, agora com um tom mais suave.

Bella hesitou por um momento, mas decidiu não aprofundar a conversa. Não queria que Isa se preocupasse. Além disso, nem ela mesma sabia explicar exatamente o que sentia. Era como se uma nuvem de ansiedade pairasse sobre ela, impedindo-a de aproveitar plenamente o momento.

— Tá tudo bem, Isa. Acho que é só o cansaço da viagem. — Bella respondeu, dando de ombros. — Vai passar assim que a gente se instalar no hotel.

Isa assentiu, aceitando a resposta, mas ainda com uma leve suspeita em seu olhar. Ela não queria pressionar Bella, então decidiu mudar de assunto.

— Amanhã vai ser o grande dia! Finalmente vou conhecer as meninas da seleção! — Isa exclamou, o entusiasmo voltando com força total.

Bella sabia o quanto aquele encontro era importante para Isa. Desde que se conheceram, Isa era uma fã fervorosa da seleção feminina de vôlei do Brasil. Ela sabia tudo sobre as jogadoras, assistia a todos os jogos e, finalmente, teria a chance de conhecê-las pessoalmente. Bella achava isso incrível, mas não compartilhava da mesma obsessão. Claro, gostava das jogadoras, admirava suas conquistas, mas para ela, essa viagem era mais sobre explorar Paris, sobre se perder nas ruas antigas e descobrir novos sabores, do que sobre conhecer celebridades do esporte.

Enquanto o táxi as levava pelas ruas de Paris, Bella observava a cidade passar como um filme em câmera lenta. As avenidas largas, os prédios antigos com varandas de ferro forjado, os cafés aconchegantes espalhados em cada esquina... Tudo parecia saído de um sonho. Ela sentia o cheiro de chuva no ar, misturado ao aroma de flores que enfeitavam as janelas dos apartamentos. Mas, por mais que tentasse se concentrar na beleza ao redor, algo a incomodava.

"Por que estou assim?", Bella se perguntava em silêncio, enquanto o carro deslizava pelas ruas molhadas. Ela queria sentir a empolgação de Isa, queria se permitir mergulhar totalmente na experiência, mas havia uma ponta de angústia que a impedia. Era como se Paris, com toda a sua beleza, estivesse despertando algo nela que ela preferia manter adormecido.