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A SALA ESTAVA silenciosa, exceto pelo leve som do ventilador rodando no teto. Bella estava sentada no chão, os joelhos dobrados contra o peito e a cabeça apoiada no assento do sofá. O corpo parecia mais pesado do que o normal, como se todo o peso da briga que havia acabado de acontecer estivesse pressionando seus ombros. Ela não conseguia sequer se lembrar direito como a discussão tinha começado. Talvez uma palavra mal colocada ou um olhar enviesado, mas o resultado sempre parecia o mesmo: Luzia ferida, e Bella mais uma vez se culpando por isso.

O pai de Bella estava fora, passando o fim de semana com a namorada, como fazia quase sempre. Era algo que Bella deveria ter se acostumado, mas ainda doía. E, por mais que ela adorasse o fato de ter Luzia por perto, ultimamente parecia que até isso estava sendo complicado. Ela sentia como se estivesse sempre estragando tudo. Estava tão cansada de brigar, tão cansada de deixar seus próprios medos e inseguranças colocarem uma barreira entre elas.

Ela mordeu o lábio, sentindo o gosto metálico do sangue começar a surgir pela pressão que fazia. Tentava de alguma forma ancorar-se naquele desconforto físico para não deixar a avalanche de emoções a dominar. Bella nunca foi boa em lidar com seus sentimentos, muito menos em expressá-los. E Luzia... Luzia era tudo o que Bella não era: aberta, carinhosa, segura de si. E, ao mesmo tempo, era isso que a assustava. Por que alguém como Luzia estaria com ela? Essa pergunta pairava na mente de Bella mais vezes do que gostaria de admitir.

Do fundo da sala, ela conseguia ouvir o som abafado vindo da cozinha, onde Luzia estava. Ela não sabia exatamente o que a namorada fazia, mas imaginava que Luzia estava tentando se acalmar. Depois de uma briga, era sempre assim. Luzia se afastava, tentava se recompor, mas Bella sabia que, no fundo, a cada discussão, Luzia era ferida de uma maneira que talvez nunca cicatrizasse completamente.

Bella apertou os joelhos contra o peito, sentindo o coração pesado. A culpa a consumia de dentro para fora. "Como cheguei até aqui?", ela se perguntava. Como algo que um dia parecia ser tão natural e tão bom, agora estava se tornando um campo minado de emoções? Bella não queria mais brigar. Ela queria apenas... paz. Paz ao lado de Luzia, sem aquela insegurança que constantemente sabotava tudo. Mas, ao mesmo tempo, não sabia como se livrar dos fantasmas que a perseguiam — o medo de ser abandonada, o medo de não ser suficiente, o medo de que, eventualmente, Luzia percebesse que ela não valia a pena.

Respirando fundo, Bella se levantou, com as pernas um pouco trêmulas. Ela precisava falar com Luzia. Precisava tentar consertar as coisas, como sempre fazia depois de uma briga. Cada discussão parecia deixar mais cicatrizes em ambas, mas Bella não queria continuar assim.

Quando ela se aproximou da cozinha, ouviu um som que a fez parar no meio do caminho. Um fungar suave, quase imperceptível, vindo da direção da pia. Bella prendeu a respiração, sentindo o coração acelerar. Luzia estava chorando.

Ela ficou paralisada por um instante, o som baixo das lágrimas de Luzia ecoando em sua mente como um trovão. "Eu fiz isso com ela", pensou Bella, com um nó na garganta. Ver Luzia assim partia seu coração em mil pedaços, e a culpa a sufocava.

Sem pensar muito, Bella se aproximou devagar, envolveu Luzia por trás com seus braços, encostando o rosto nos cabelos dela, sentindo o cheiro familiar que tanto amava. Luzia se encolheu levemente ao toque, mas não se afastou. Ficaram assim por um tempo, em silêncio, o som suave da respiração de Luzia se misturando com o barulho distante da água da torneira.

Bella sentiu o coração acelerar. Ela sabia que precisava dizer algo, mas as palavras estavam presas, como se tivessem um peso enorme. Ela respirou fundo, tentando acalmar o turbilhão em sua mente.

— Me desculpa, meu amor— Bella sussurrou, sua voz saindo mais rouca do que pretendia. — Eu... eu sei que fui horrível, de novo. Eu não queria te machucar. Juro que não. Eu só... — A voz de Bella falhou, e ela apertou Luzia um pouco mais forte, como se temesse que, se afrouxasse o abraço, Luzia pudesse escapar.

𝐒𝐔𝐁𝐋𝐈𝐌𝐄 | Luzia NezzoOnde histórias criam vida. Descubra agora