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Aviso de conteúdo sensível: descrições gráficas de agressão física e trauma por violência intrafamiliar.



O mais estranho foi a demora que levou

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O mais estranho foi a demora que levou.

Longos minutos dentro do carro, vendado, amarrado e amordaçado. Sozinho entre estranhos.

Kurt não entendia o que queriam. Se quisessem machucá-lo, já teriam feito. Matá-lo então, vulnerável como estava, teria levado menos tempo ainda. Mas não tentaram nada disso. Os empurrões de Kurt foram ignorados; sua luta corporal não encontrou rebote. Eles só o seguraram no lugar, até se cansar.

Com cada instante em movimento o colocando cada vez mais distante do resto do bando, ele se deu conta aos poucos: aquelas pessoas estavam o tomando, o levando para algum lugar desconhecido, onde dificilmente os outros iriam pensar em procurá-lo.

Monaco. Com raiva, Kurt relembrou a última visão que teve do rosto dele com aquele sorriso odioso, inadequado para quem tinha acabado de perder uma corrida. O que mais ele poderia querer? Logo Monaco: um apostador sujo. Um espião. Um traidor.

Era difícil entender alguma coisa quando tudo passava como um borrão, filtrado pelas restrições de seus sentidos. Seu corpo podia sentir a inércia do carro acelerado. Os nervos de sua pele eram testados pela ventania soprada pelas janelas abertas. Sua visão limitada captava flashes que piscavam pelo pano escuro da venda, luzes difusas da estrada passando em intervalos — talvez outros carros na contramão, talvez apenas postes de rua; não dava para saber.

Kurt tinha se esquecido como era se mover tão rápido dentro de um carro sem estar no controle dele. Desorientador. Ele também havia se esquecido do quanto odiava a impotência disso.

Depois do que pareceu 30 minutos, a mordaça e o capuz passaram a formar uma combinação perigosa, do tipo sufocante. Se antes Kurt estava empenhado em se debater contra seus raptores, agora ele não conseguia nem ao menos gritar mais.

Naquele momento, tudo o que desejou foi ter um pouco mais de ar para respirar. Sobretudo, para não desmaiar. Tudo para estar consciente quando fossem fazer o que quer que fossem querer com ele.

Feito um milagre, um pedido agonizante atendido, o carro parou.

Kurt sacudiu bambo de um lado para o outro quando as portas foram abertas. As molas da suspensão balançaram com o movimento de pessoas saindo, depois com as portas batendo de volta fechadas. Ele foi simplesmente deixado lá dentro.

No súbito silêncio de tudo, com a sensação vazia do assento ao seu redor, Kurt se sentiu sozinho como nunca. Mas a sensação o abandonou quando, enfim, uma mão surgiu do nada e arrancou aquela coisa de sua cabeça.

Mesmo sem o capuz, o ar continuou denso e sufocante, impregnado por uma umidade quente. Kurt lutou para respirar fundo. Piscando lento, seus olhos rolaram, buscando foco, embora ainda fosse noite e houvesse pouca luz.

Colisão [2ª edição 2024]Onde histórias criam vida. Descubra agora